Fim da circulação de dinheiro em coletivos pode ser realidade em BH
Plenário aprovou também alteração da forma de remuneração das concessionárias de ônibus de número de passageiros para quilometragem
Foto: Karoline Barreto /CMBH
O fim da cobrança em espécie nos ônibus coletivos da cidade pode ser uma realidade em breve. Com a aprovação em 2º turno, nesta segunda-feira (13/3), do substitutivo-emenda ao Projeto de Lei 446/2022, a cobrança da passagem será realizada por "meios de pagamento por aproximação”. Segundo os autores, a medida vai trazer mais agilidade e segurança para passageiros e motoristas. Também foi aprovado em 2º turno o PL 442/2022, que altera a forma de remuneração das empresas concessionárias e autoriza o pagamento por quilometragem. Outros três projetos receberam aval do colegiado: o PL 254/2022, que estabelece normas de governança pública e gestão de riscos para a gestão fiscal, orçamentária e para o desempenho da receita e da despesa de Belo Horizonte; PL 213/2021, que institui multa para pessoa que fraudar o comprovante de vacinação e/ou resultado de exames de covid-19; e o PL 427/2022, que visa a dar condições para que quiosques, bancas e módulos comerciais possam instalar e administrar sanitários públicos. Já os PL 687/2018; 1035/2020 e 11/2021 foram rejeitados pelo Plenário.
Novas tecnologias
O PL 446/2022, assinado por Gabriel (sem partido) e mais 16 vereadores, propõe a extinção do pagamento de passagens em dinheiro a bordo dos ônibus de transporte coletivo, que passaria a ser realizado por meio de cartões inteligentes recarregáveis, cartões de crédito ou débito por meio da tecnologia NFC - Near Field Comunication ou outra tecnologia que cumpra as mesmas funções, pagamento por QR Code digitalmente ou impresso em bilhete de utilização única, além de outras formas e mídias que permitam a validação de créditos eletrônicos de passagem diretamente no validador do veículo.
O Plenário aprovou, em uma votação simbólica, o Substitutivo-emenda 1, apresentado pelo líder do governo, Bruno Miranda (PDT), que estabelece "meios de pagamento por aproximação", para que a tecnologia possa ser definida após estudos e testes. Desta forma, poderá ser adotada a tecnologia mais adequada ao contexto minimizando possíveis transtornos à população, permitindo a sua substituição sempre que outra tecnologia se mostrar mais assertiva. O substitutivo também retira do texto original a opção de pagamento dos créditos eletrônicos de passagem por moeda corrente em qualquer ponto de venda, exceto no interior dos veículos. Na justificativa, Bruno Miranda destacou que a medida “acarreta a necessidade de um ponto de venda em todas as estações, provocando impacto financeiro não previsto na proposta apresentada”.
O substitutivo foi defendido por Marcela Trópia (Novo) e Braulio Lara (Novo), que destacaram como reflexos da adoção de meios mais modernos de pagamento presentes no PL, o aumento da segurança e da rapidez para o usuário e da qualidade de vida para o motorista, além da facilidade para empresas. Para Braulio, não faz sentido entrar no ônibus e ficar esperando o motorista dar o troco "enquanto o veículo fica parado" e, com a aprovação do projeto, “vamos dar uma perspectiva de evolução para nossa cidade". Fernanda Pereira Altoé (Novo) salientou a necessidade de modernizar o sistema de cobrança viabilizando diferentes formas de pagamento. “Estamos preservando a saúde dos motoristas de ônibus, pois na prática não existem cobradores de ônibus em BH”.
Signatário do PL, Gabriel concordou com os colegas que a medida é um ganho na qualidade de vida dos motoristas que atualmente têm que dirigir e cobrar a tarifa. “BH ainda está no passado. Qualquer cidade moderna não tem cobrança em espécie em quase nada. Isso favorece a corrupção e também a violência nos coletivos”, disse.
O PL agora vai para redação final antes de seguir para sanção ou veto do Executivo.
Pagamento por quilometragem
Também foi aprovado o substitutivo 1, de autoria de Bruno Miranda, ao PL 442/2022, que altera a forma de remuneração das concessionárias do transporte coletivo por ônibus em Belo Horizonte, propondo que elas deixem de receber pelo número de passageiros transportados e passem a receber por quilômetro rodado.
O texto original, assinado por Gabriel e mais 14 vereadores, afirma que no atual sistema as concessionárias são remuneradas pelo número de passagens vendidas e, com isso, ganham com os ônibus superlotados. Dois substitutivos foram apresentados: o Substitutivo Emenda 1, assinado por Bruno Miranda; e o Substitutivo Emenda 2, assinado por Fernanda Altoé.
A proposta apresentada por Altoé foi rejeitada pelo Plenário. Nela, a vereadora sugere que o Executivo reassuma o controle dos valores arrecadados a título de tarifa, bem como das linhas de ônibus, “de modo a direcioná-las a satisfazer o interesse público, determinando previamente o trajeto, os horários e a distância a ser percorrida, o que beneficia diretamente as viagens noturnas e o aumento do número de viagens em horário de pico”.
Já a proposta de Bruno Miranda estabelece que o valor arrecadado pela cobrança da tarifa pública será considerado parte da receita necessária para a remuneração dos sistemas convencional e suplementar de transporte público coletivo de passageiros por ônibus. A proposta também determina que “quando a arrecadação proveniente do pagamento da tarifa pública e das receitas alternativas, complementares e acessórias for inferior ao valor do custo de referência, o déficit será subsidiado pelo poder concedente, subsídio esse que terá como valor máximo a diferença entre as estimativas das receitas auferidas e o valor do custo de referência apurado, até o limite do montante a ser fixado em lei para cada exercício.
Ao se opor ao Substitutivo 1, Fernanda Altoé afirmou que na prática ele assegura o pagamento de “subsídio com um nome bonito”. Ela disse que o PL vai além da forma de remuneração, lembrou que a licitação foi feita para pagamento por meio de tarifa e não de quilometragem e que esta alteração poderia ser feita por meio de acordo entre o Executivo e as concessionárias. “Esse PL precisa passar pelo Legislativo porque envolve dinheiro: é um subsídio com nome diferente”, alertou. A vereadora chamou a atenção para o fato de que desde 2017 não há reajustes na tarifa de ônibus. “Nós deveríamos ter feito revisão tarifária por duas vezes e desde 2012 nós não fizemos”, afirmou ao destacar que não há números capazes de corroborar o valor cobrado. “A questão não é ser contra o subsídio, a questão é saber quanto de fato o sistema comporta e quanto eu tenho que suplementar. Estou falando de números que ninguém me dá”, questionou. Braulio Lara ponderou que a aprovação do substitutivo 1 pode viabilizar a retirada de uma trava de segurança importante e sugeriu a aprovação do texto original.
Ao discordar da colega, o presidente da Casa, Gabriel, afirmou que o texto proposto por Fernanda também tem subsídio no sentido em que ele limita para o horário de pico. Ele lembrou que a política é a arte do possível: “O possível foi construído com diversos vereadores e com o Executivo e é um consenso. Ninguém acha ideal”.
Irlan Melo (Patri) afirmou que o ideal seria encerrar o contrato. "A PBH já podia ter tomado providências há muitos anos”, disse, enquanto Wilsinho da Tabu (PP) assegurou que é “responsabilidade desta Casa ajudar na solução para um transporte melhor”. Já Wesley Moreira (PP) revelou que assinou o PL com a expectativa de que o serviço melhore, mas que é urgente a necessidade de reestruturar o transporte coletivo.
Iza Lourença (Psol) ponderou que o texto aprovado é uma forma de subsídio, mas que obriga as empresas a colocar os ônibus nas ruas. “Achamos um erro o substitutivo retirar da PBH a obrigação de fazer a gestão”, afirmou.
Com 35 votos favoráveis e 5 contrários, o texto do Substitutivo 1 segue para sanção ou veto do prefeito.
Mais transparência na gestão
Ainda durante a reunião desta segunda-feira, o Plenário aprovou com 39 votos favoráveis o PL 254/2022, de autoria de Wilsinho da Tabu (PP), Professora Marli (PP), José Ferreira (PP) e Rubão (PP). Tramitando em 2º turno, a proposta é tornar a contabilidade do Município mais transparente e acessível, com informações precisas que possibilitem sua fiscalização. O texto propõe ainda definir parâmetros para que a gestão ocorra de maneira assertiva, orientando para a tomada de decisões para cada ação do poder público.
Wilsinho da Tabu é autor da Emenda 1, que estabelece periodicidade das publicações. Ao defender o PL, Wilsinho destacou que a medida vai facilitar o trabalho de fiscalização do Legislativo e também do munícipe que tiver interesse em acompanhar as contas do município. A proposta também foi defendida por Professora Marli e Rubão.
Após a redação final, o PL será encaminhado para apreciação do Executivo, que poderá sancionar ou vetar a proposição.
Fraude na vacinação
Aprovado em 1º turno, o PL 213/2021, de autoria de Bruno Miranda, que propõe sanções administrativas em caso de fraude no comprovante de vacinação contra a covid-19. O líder de governo explicou que ainda que a proposta tenha sido apresentada em um contexto de pandemia, o PL que institui multa para pessoa que fraudar o comprovante de vacinação e/ou resultado de exames de covid-19 nos locais onde o Executivo decretar obrigatória sua apresentação sinaliza de forma positiva para a cidade. A proposição, que recebeu 35 votos favoráveis, também impõe sanção aos portadores de falsos resultados de exames de coronavírus e, como recebeu emendas, deve retornar às Comissões de Legislação e Justiça; Saúde e Saneamento; de Direitos Humanos, Habitação, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor; e de Administração Pública.
Banheiros em áreas públicas
Também foi aprovado com unanimidade o PL 427/2022, que altera o Código de Posturas e garante condições para que quiosques, bancas e módulos comerciais possam instalar e administrar sanitários públicos, sem que isso onere o poder público e os usuários. De autoria do Executivo e tramitando em 1º turno, a proposta é possibilitar que essa delegação se dê associando-se módulos comerciais e sanitários, com possibilidade de exploração de publicidade, de modo a tornar as concessões viáveis.
Bruno Miranda defendeu a proposta, que segundo ele, vai viabilizar condições para que haja parceria entre a PBH e a iniciativa privada para a questão dos banheiros em áreas públicas na cidade. “É uma demanda da cidade”. Jorge Santos (Republicanos) afirmou que espera que esse PL resolva o problema dos banheiros na cidade: "A população da Lagoa da Pampulha não aguenta mais. Temos ali banheiros abandonados e espero que resolva”. A proposta, que não recebeu emenda, já pode ser incluída para votação em definitivo, sem necessidade de retornar às comissões.
Propostas rejeitadas
Por fim, o Plenário rejeitou os PL 687/2018; 1035/2020 e 11/2021, todos de autoria do ex-vereador Léo. O primeiro propõe a desafetação de um imóvel público de 348 m², no Bairro Santa Lúcia, autorizando a venda ou a permuta da área; o segundo regula direitos e obrigações relativos aos desfiles dos blocos caricatos de BH; e o último determina que a emissão de multa a cidadãos ou estabelecimentos que instalem obstáculos fixos nas calçadas, como degraus e outros elementos impeditivos de circulação, seja precedida de notificação prévia, permitindo que o infrator corrija o problema antes de ser penalizado.
Superintendência de Comunicação Institucional