CRISE NO ABASTECIMENTO

Em audiência, Copasa garantiu que não há racionamento de água

Questionada por parlamentares e moradores de Belo Horizonte sobre possíveis interrupções no fornecimento de água, em audiência pública na tarde desta quinta-feira (6/11), a empresa de saneamento descartou a hipótese, mas afirmou que é preciso conscientizar a população para um consumo responsável. Pesquisadores da área e movimentos em defesa do meio ambiente destacaram a urgência em se discutir o consumo de água excessivo e impróprio realizado pelas indústrias e empreendimentos mineradores.

quinta-feira, 6 Novembro, 2014 - 00:00
Em audiência, Copasa garantiu que não há racionamento de água em Belo Horizonte. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Em audiência, Copasa garantiu que não há racionamento de água em Belo Horizonte. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Questionada por parlamentares e moradores de Belo Horizonte sobre possíveis interrupções no fornecimento de água, em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana na tarde desta quinta-feira (6/11), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) garantiu que não está sendo feito, nem há previsão, de racionamento na cidade. A empresa afirmou, no entanto, que é preciso conscientizar a população para um consumo responsável. Pesquisadores da área e movimentos em defesa do meio ambiente destacaram a urgência em se discutir o consumo de água excessivo e impróprio realizado pelas indústrias e empreendimentos mineradores.

“Precisamos colocar o interesse da população acima de qualquer interesse particular, seja de mineradora, do setor imobiliário ou político”, alertou o representante do Movimento das Associações de Moradores de Belo Horizonte, Fernando Santana. A entidade cobrou do poder público e da Copasa que informem a população sobre a real situação da água no estado para que sejam encontradas as soluções necessárias.

Superintendente Operacional da Copasa em Belo Horizonte, Eneida Magalhães garantiu que “não estamos racionando água”. Mas lembrou a importância de se desenvolver um consumo responsável, inclusive reutilizando água de chuva para atividades como lavar o quintal ou molhar as plantas. Diante dos depoimentos populares sobre a ocorrência de interrupções diurnas no abastecimento em diferentes bairros, a gestora explicou que isso decorre de rompimentos no sistema associados à alta demanda nesta época de calor. “O consumo está no limite. Qualquer acidente no sistema pode gerar desabastecimento na rua por determinado período, atingindo aqueles imóveis que não têm reservatório adequado”, afirmou a superintendente, lembrando que, por definição da ABNT, as edificações devem ter caixa d’água com medida suficiente para garantir o fornecimento autônomo por até 48h.

Dois pesos, duas medidas

“Concordo que as pessoas precisam economizar e parar de usar água para varrer a calçada. Mas se a Vale continua lavando o minério, gastando milhões de litros de água, temos dois pesos, duas medidas”, ponderou o pesquisador Rodrigo Lemos, doutorando no Instituto de Geociências da UFMG. Para Lemos, a situação da água “é uma questão de direcionar prioridades”, focando a atenção nos grandes consumidores de água como as fábricas, indústrias e minerações.

O pesquisador afirmou que o estado de Minas Gerais já está em cenário de conflito, uma vez que a demanda pela água do Rio das Velhas (sistema responsável pelo abastecimento de 70% do município de Belo Horizonte) já está acima do limite permitido por lei, o que pode ocasionar a secagem do rio. “Ou reduz a retirada e falta água, ou matamos o rio”, alertou Lemos, lembrando que outras comunidades localizadas na descida do rio (abaixo do ponto de captação da Copasa) estão sendo diretamente prejudicadas pela redução no volume de água.

Infeliz coincidência

Representante do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela, o pesquisador Paulo Rodrigues apresentou um estudo detalhado do impacto ocasionado pela mineração depredatória na Serra do Gandarela sobre os mananciais hídricos da região. Os dados indicam a necessidade de limitar os empreendimentos mineradores na Bacia do Rio das Velhas, como meio de proteção dos recursos hídricos a médio prazo. Responsável pelo abastecimento de água de cerca de dois milhões de pessoas em BH e região metropolitana, o Sistema Rio das Velhas é alimentado por inúmeros afluentes, impactados diretamente pela mineração. “A água está no minério. Ocupam o mesmo lugar. É uma infeliz coincidência. Ou a gente minera, ou a gente preserva os nossos mananciais. É impossível compatibilizar”, concluiu Rodrigues.

Requerente da audiência, o vereador Leonardo Mattos (PV) afirmou que a Câmara seguirá atenta ao assunto nos próximos meses e deve realizar novas audiências para discutir soluções e medidas preventivas. O parlamentar destacou a intenção dos vereadores em reunir os projetos de lei relacionados ao abastecimento e reutilização da água para apreciá-los em reunião especial sobre o tema.

Participaram também da audiência os vereadores Tarcísio Caixeta (PT), Jorge Santos (PRB) e Juliano Lopes (SD).

Assista aqui à reunião na íntegra. 

Superintendência de Comunicação Institucional