Especialistas destacam relação entre imagem e memória em seminário na CMBH
Projetos de Belo Horizonte e de Almada, em Portugal, foram apresentados durante programação daSemana Nacional de Arquivos

Foto: Cristina Medeiros/CMBH
Durante o seminário “Imagens e Oralidades: a vivência humana como possibilidade para a salvaguarda de acervos institucionais ”, realizado nesta quinta-feira (12/6) pela Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), especialistas destacaram a importância da qualificação de fotografias arquivísticas para o resgate da memória histórica e cultural. A mesa “Fotografia e memória: métodos para descrição arquivística” reuniu experiências de diferentes instituições. Natércia Pons, diretora do Arquivo Público de Belo Horizonte (APBH), apresentou o projeto Cestas da Memória, voltado à identificação de fotos históricas com a ajuda de ex-servidores. A historiadora Lays Souza, da CMBH, detalhou como a iniciativa foi adaptada na instituição, com sessões semanais de reconhecimento de imagens por voluntários. Margarida Rodrigues, da Câmara Municipal de Almada (Portugal), compartilhou a experiência do projeto Fotografias que Falam, que mobiliza a comunidade sênior para identificar registros históricos da cidade. Na abertura do evento, que integra a programação da Semana Nacional de Arquivos, a diretora-geral adjunta da CMBH, Janaina Cerceau, destacou o papel da Câmara Municipal como casa de representatividade política e de participação popular, mas também de guardiã da memória institucional e da história da cidade.
Cestas da Memória
Criado em 2003, o Cestas da Memória surgiu da necessidade de identificar fotografias do acervo da Prefeitura de Belo Horizonte, que, embora abundantes, chegavam ao arquivo sem informações mínimas de contexto. Segundo Natércia Pons, diretora do APBH, o projeto envolveu ex-servidores como voluntários, promovendo não apenas a descrição arquivística das imagens, mas também a inclusão e o fortalecimento de vínculos com a história da cidade.
"Já identificamos mais de 20 mil fotos. O Cestas da Memória é um projeto institucional, mas pensado para acontecer de forma lúdica, com valorização do servidor e da memória coletiva", destacou Natércia.
Resgate do contexto histórico
Na CMBH, a iniciativa foi implantada a partir de 2019. Após uma pausa durante a pandemia, as atividades foram retomadas em 2024, com sessões semanais. A analista Lays Souza, historiadora da Seção de Controle e Gestão Arquivística (Searq), explica que o foco está nas fotografias oficiais da Casa Legislativa, com a colaboração de voluntários que ajudam a contextualizar os registros. “Quando um ex-servidor reconhece uma imagem, ele também resgata o momento, o contexto político e institucional, e isso enriquece o acervo”, afirma. Atualmente, 37 voluntários participam do projeto, que conta com a parceria da Escola do Legislativo. Em 2025, mais de 300 fotografias já foram identificadas.
Fotografias que Falam
Fora do Brasil, a Câmara Municipal de Almada, em Portugal, também aposta no envolvimento da comunidade para resgatar a história local. O projeto Fotografias que Falam, conduzido por Margarida Rodrigues e Vera Correia, tem como público-alvo a população sênior. Com base em três sessões e uma exposição pública, moradores contribuíram para identificar pessoas, locais e eventos retratados nas imagens. Um exemplo citado foi o reconhecimento de uma banda escolar fotografada em 1978, cuja composição feminina foi associada à mudança social após a revolução, que pôs fim à ditadura em 1974.
“Buscamos não só o que está visível, mas também as camadas invisíveis da imagem”, relatou Margarida Rodrigues.
A historiadora Ana Maria Mauad, da Universidade Federal Fluminense, também participou da mesa, apresentando estudos realizados no Centro de Fotografia de Montevidéu. A pesquisadora defendeu, dentre outros pontos, a atuação profissional para que fotografia não seja apenas o suporte de uma relação social, mas também documento histórico. Antes de encerrar a primeira mesa, participantes tiveram suas perguntas respondidas pelas expositoras. O seminário seguiu com outras palestras no período da tarde.
Superintendência de Comunicação Institucional