Iza Lourença é a entrevistada da semana em videocast
Vereadora do Psol fala da Tarifa Zero nos ônibus, da mineração ilegal na Serra do Curral e da importância de políticas afirmativas
Foto: Cristina Medeiros/CMBH
Quando reuniu assinaturas para o PL que buscava instituir a Tarifa Zero nos ônibus da capital, no início de 2025, a vereadora Iza Lourença (Psol) conseguiu o apoio de 21 de seus pares. Alguns meses depois, quando a proposta foi votada em 1º turno pelo Plenário, acabou rejeitada, tendo apenas 10 votos favoráveis. Em entrevista ao videocast Câmara em Foco, ela fala sobre o que, na sua opinião, aconteceu entre um momento e outro para que a ideia fosse arquivada. “Aconteceu que a Prefeitura entrou em cena”, diz. Segundo ela, os ônibus são de péssima qualidade, a tarifa é alta, BH está parada no trânsito e é preciso coragem para enfrentar o problema da mobilidade urbana. “Mas eu estou cobrando. Qual é, então, a proposta para resolver o problema de mobilidade da nossa cidade? Se a administração municipal trabalhou tanto para derrotar esse projeto, por que não trabalha para resolver o problema dos ônibus de BH?”, questiona. Na conversa, Iza falou também de seus projetos, como os que almejam garantir direitos a quem tem a gravidez interrompida ou faz aborto legal; da luta contra a mineração ilegal na Serra do Curral; de cursinhos populares; e da importância de políticas afirmativas, como a de cotas na contratação do serviço público, para promover a inclusão de grupos historicamente marginalizados.
Busão 0800
Iza Lourença lembra que a tarifa aplicada no transporte público por ônibus em BH, de R$ 5,75, é uma das mais caras do Brasil. Para ela, o valor alto e a má condição dos veículos espantam os moradores. Seu projeto, apelidado de Busão 0800, serviria de estímulo para que as pessoas passassem a usar mais o transporte coletivo.
“O sistema humilha quem tem de pegar ônibus todos os dias; por isso muita gente prefere optar por uma moto ou carro de aplicativo, o que gera mais trânsito, mais poluição e mais acidentes, que fazem com que os hospitais fiquem lotados, e muitas vezes não tenham leitos para atender a novas demandas”, afirma.
Iza responde ainda às críticas de que o financiamento ao Programa Municipal de Incentivo de Uso do Transporte Público Coletivo por Ônibus não seria viável. “Eu tive várias conversas com empresários e percebi que os comerciantes de pequeno e médio porte estavam muito satisfeitos com a proposta. Não só porque iriam economizar, já que pagam caro pelo vale-transporte, como porque eles queriam ver as pessoas circulando novamente pela cidade para comprar em seus comércios”, ressalta. Para ela, o problema foram as entidades que representam grandes empresários, “muitos aliados das empresas de ônibus”.
Mineração na Serra do Curral
Outro assunto do momento que esteve em pauta durante o bate-papo com Iza Lourença diz respeito aos encadeamentos da Operação Rejeito, em que a Polícia Federal investiga um suposto esquema criminoso envolvendo empresas de mineração e órgãos ambientais. Em relação à mineração ilegal na Serra do Curral, a vereadora cobra mais fiscalização por parte da prefeitura.
“Os moradores do Taquaril denunciam frequentemente uma mineradora, a Gute (Sicht), que é uma das principais investigadas na Operação Rejeito, por estar na Serra do Curral minerando. Eles não conseguem dormir, porque tem explosivo, barulho de caminhão a noite inteira”, conta.
Segundo Iza, a mineradora deveria estar ali recuperando a área ambientalmente, “mas usa essa desculpa para minerar mais”. É o mesmo caso, de acordo com ela, da Empabra (Empresa de Mineração Pau Branco) que, para as investigações, forjava recuperação ambiental para minerar na Serra do Curral.
Gravidez interrompida e aborto legal
Dois Projetos de Lei em tramitação (237/2025 e 246/2025), assinados em co-autoria com outras vereadoras, buscam garantir direitos de quem tem a gravidez interrompida ou faz aborto legal. O primeiro fala sobre a fixação de cartazes informativos sobre o tema nas unidades de saúde. O segundo garante atendimento humanizado, imediato e multidisciplinar aos casos de interrupção gestacional. Iza explica porque esse tema vem despertando sua atenção.
Ela ressalta que a lei brasileira, hoje, permite o aborto legal em três situações: quando há risco de vida para a gestante, quando é diagnosticado que o feto é anencéfalo e em caso de estupro. “Só que muitas vezes, principalmente em casos de estupro, as mulheres passam a ser questionadas se elas devem ou não fazer esse aborto. Crianças estupradas foram perseguidas para que não exercessem seu direito. Isso é muito cruel”, fala.
“Você imagina: ser violentada, não querer ter o filho dessa violência e aí ser violentada outra vez, quando passa a ser perseguida, a ser questionada? Aliás, no caso de uma criança, ela não quer também correr risco de vida ao ter o filho dessa violência”, diz.
Cartazes para estabelecer esse direito e um programa de atendimento humanizado seriam formas de aliviar o sofrimento dessas mulheres. “Eu quero primeiro que essa essa menina, essa adolescente e essa mulher saiba que tem esse direito legal, constitucional e que não precisa desistir disso. E segundo, que ela seja acolhida na decisão que tomar”, afirma.
Cursinhos populares e políticas afirmativas
Antes de se eleger vereadora, Iza Lourença fundou um cursinho popular, pré-Enem, o Consciência Barreiro. No Legislativo municipal, aprovou o PL, depois transformado em lei, que institui a Política Municipal de Incentivo aos Cursinhos Populares e Comunitários, em parceria com a ex-vereadora Bella Gonçalves. “Eu sou completamente apaixonada por cursinho popular e por educação popular”, conta.
De acordo com ela, a política vem retirar obstáculos e incentivar aqueles que estão fazendo o papel do Estado, que é prover educação. “Educação é um direito de todos, mas educação superior é direito apenas de alguns”, diz. Iza salienta que os cursinhos populares são também um “movimento social”. Além de aprender o que precisa para tirar uma boa média no Enem, os alunos aprendem valores de comunidade, de solidariedade, de resistência e, de autoconhecimento.
“No Consciência Barreiro nós temos uma aluna da primeira turma, de 2019, que hoje é professora de redação do cursinho. É muito bonito isso, né? A pessoa consegue realizar o sonho de entrar numa faculdade, mas o que eu acho mais importante é que ela quer devolver aquilo que fizeram por ela”, conta.
Na legislatura passada, Iza foi relatora da Comissão Especial de Estudo - Empregabilidade, violência e homicídios de jovens negros. A parlamentar lembra que um dos resultados da comissão foi a sanção da Lei 11.485, que ampliou de 10 para 20 anos a vigência da norma que reserva aos negros 20% das vagas nos concursos para provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração direta e indireta do Poder Executivo.
E não foi só isso. Depois, a prefeitura mandou para a Câmara um projeto que aumenta as cotas para negros de 20% para 30% no serviço público do Município. “Foi uma vitória importante, porque conseguimos mostrar que ainda temos poucos negros nos cargos mais altos do serviço público. E porquê? Porque nós não damos oportunidade para uma pessoa que obviamente não teve as mesmas condições que as outras. Nós precisamos lidar com isso”, diz.
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