PRECARIEDADE

Trabalhadores e usuários denunciam falta de insumos e estrutura na saúde bucal

Faltam fio dental, anestésico e jaleco. PBH diz que serviço está sendo reorganizado

terça-feira, 22 Julho, 2025 - 13:15
parlamentares e participantes presentes em audiência pública na câmara municipal de bh

Foto: Tatiana Francisca/CMBH

A Comissão de Saúde e Saneamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte realizou, na manhã desta terça-feira (22/7), audiência pública para discutir dificuldades no fornecimento de insumos e a estrutura dos serviços de odontologia da rede pública da capital. O encontro, proposto por Loíde Gonçalves (MDB), reuniu vereadores, representantes da Secretaria Municipal de Saúde, profissionais da área, usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e membros do sindicato dos trabalhadores, que relataram dificuldades graves no atendimento à população. Entre os insumos que estão em falta nas unidades estão itens básicos como papel toalha, jaleco e papel higiênico, além de materiais essenciais aos tratamentos como resinas, curativos, anestésico e fios de sutura. Os profissionais ainda relataram grande insatisfação dos usuários e adoecimento dos trabalhadores. A Prefeitura de Belo Horizonte esteve representada pela diretora de Saúde Bucal, Patrícia Reis, que informou que os serviços e também os pedidos de insumo estão em "fase de reorganização". A gestora se comprometeu a buscar o diálogo e sanar as faltas relatadas. Como encaminhamento, foram feitos pedidos de informação para a PBH sobre a falta de agilidade na compra dos materiais.

Fio dental, anestésico e luvas

Loíde Gonçalves destacou que as visitas técnicas realizadas pela comissão ao longo do ano identificaram escassez de itens básicos em diversas unidades de saúde. “Faltam materiais como fio dental, anestésico, luvas, escovas, seringas, papel higiênico e até cadeiras odontológicas em condições de uso. É inadmissível que o atendimento deixe de ser feito por causa disso”, disse a parlamentar.

Bruno Miranda (PDT) ponderou que a odontologia vem passando por uma reestruturação dentro da prefeitura, com a criação, no ano passado, de uma Diretoria de Saúde Bucal para responder pelo serviço. O parlamentar lembrou que o segmento tem suas especificidades e que a nova instância deve lhe garantir voz e visibilidade.

Insatisfação dos usuários

Usuários do Sistema Único de Saúde relataram frustração com a interrupção de tratamentos por falta de insumos. Walter Jesuíno, do Conselho Distrital Noroeste, alertou para o desperdício de recursos.

 “Você começa um tratamento mas não consegue concluir. O dinheiro investido acaba sendo perdido”, afirmou Walter.

Também atingida pela precariedade no fornecimento dos materias, a usuária do Centro de Saúde Tupi Beatriz Silva se emocionou ao contar que aguarda uma prótese dentária desde 2022, o que tem dificultado até mesmo sua alimentação. “O tratamento era possível no centro de saúde. Fui a um dentista particular e me cobraram R$ 3 mil. É muito difícil”, relatou.

Risco e adoecimento dos trabalhadores

Camila Marques, técnica de Saúde Bucal da Regional Venda Nova e membro da Coordenação de Odontologia do Sindicato dos Servidores Públicos de BH (Sindibel), chamou atenção para o comprometimento do atendimento e o impacto sobre os indicadores e o financiamento do setor. “Sem os insumos, não cumprimos metas, não conseguimos financiamento, e acumulamos insatisfação dos pacientes e adoecimento dos trabalhadores”, pontuou.

O risco à saúde e segurança dos trabalhadores foi trazido por Lilian Zebral. A cirurgiã dentista e membro do Conselho Municipal de Saúde ressaltou que essa pauta já vem sendo colocada no conselho há muito tempo e segue sem solução.

“A falta de insumos vai trazer outros problemas. Quando não tenho um jaleco e preciso atender vários pacientes com o mesmo, tenho um risco de contaminação cruzada. Não é só falta de insumo. É falta de atendimento e atendimento seguro”, afirmou a dentista.

Reorganização do serviço

Representando a prefeitura, a diretora de Saúde Bucal, Patrícia Reis, reconheceu os desafios e informou que medidas estão sendo tomadas para reorganizar o abastecimento.

“Não estamos vivendo um momento de deterioração, mas sim de reorganização. Já habilitamos um laboratório para retomar a confecção de próteses e, a partir de agosto, o serviço estará disponível”, garantiu a diretora.

A gerente de Assistência Farmacêutica e de Insumos, Ana Emília, e a coordenadora de Insumos Essenciais, Vanessa Assunção, ressaltaram a complexidade dos processos de licitação e aquisição, mas se mostraram abertas ao diálogo e à construção de novas soluções. Sobre o anestésico, explicaram que há uma tabela de preços que deve ser observada. Já em relação ao fio dental, disseram que não havia autorização para aquisição. “Ele só veio no último processo de compra. A compra foi concluída e a entrega está prevista para breve”, afirmou Vanessa.

Cobrança por organização

José Ferreira (Pode), que preside a comissão, cobrou maior eficiência da gestão. Ele comentou que "alguém tem deixado de fazer o 'para casa'", já que tantas faltas de insumos foram registradas. Ele cobrou maior organização da Secretaria Municipal de Saúde, hoje responsável pela compra dos itens. “Não pode esperar que os trabalhadores levem as demandas até vocês. A secretaria precisar criar uma figura, alguém que seja responsável por identificar o que está em falta. Falta de insumo não pode ser o motivo para o paciente sair sem atendimento”, afirmou.

Entre os encaminhamentos feitos na audiência estão pedidos de informação destinados à PBH e à Secretaria Municipal de Saúde questionando os motivos pelos quais a Diretoria de Saúde não possui um setor de compras próprio, e quem é o responsável pelas compras dos insumos para a odontologia na cidade.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater a falta de insumos e materiais específicos da odontologia na rede de atenção primária à saúde de Belo Horizonte. 5ª Reunião Extraordinária - Comissão de Saúde e Saneamento.