MOBILIDADE URBANA

Desafio do transporte público é atrair quem não precisa dele atualmente

Para pesquisadores e representante de usuários, é preciso que a sociedade perceba que vale a pena deixar o carro ou a moto em casa

terça-feira, 18 Novembro, 2025 - 19:30
Vereadores e convidados no Plenário Helvécio Arantes

Foto: Cláudio Rabelo/CMBH

A Comissão Especial de Estudo - Contratos de Ônibus recebeu, na tarde desta terça-feira (18/11), usuários e pesquisadores para debater os principais problemas do transporte público municipal, além de sugestões para melhorar o sistema. Realizada a pedido de Fernanda Pereira Altoé (Novo) e Rudson Paixão (Solidariedade), a audiência pública tinha o objetivo de colher também ideias sobre como aprimorar o contrato com as empresas prestadoras do serviço a partir do próximo edital, previsto para 2028. Participaram do encontro Rui Melo, pesquisador do Observatório Pesquisa de Comportamento; Francisco de Assis Maciel, representante da Associação dos Usuários do Transporte Coletivo de Belo Horizonte e Região Metropolitana (AUTC); e Felipe Coutinho, professor do Departamento de Engenharia de Transportes do Cefet-MG. Para os presentes, é preciso melhorar o sistema para os usuários atuais, mas fazer com que ele seja atrativo também para quem, hoje, opta por outros meios de transporte para se locomover pela cidade. 

Tempo é relativo

O tempo gasto no sistema de transporte é o principal critério avaliado pelos passageiros para determinar se o serviço prestado é positivo ou negativo. Mas a percepção de “muito” ou “pouco” depende não apenas dos minutos (ou horas) que se passa à espera ou dentro dos ônibus. “Se o veículo está lotado, ele parece que anda mais devagar; se o ponto está cheio de gente, a percepção é que os ônibus demoram a passar por ali”, afirmou Rui Melo, que é psicólogo e especialista em marketing. Para ele, nos pontos do BRT, por exemplo, as pessoas ficam 15, 20 minutos sem reclamar. Já nos pontos de ônibus convencionais, que ficam nas calçadas, muitas vezes sem bancos ou coberturas, 10 minutos já é suficiente para os passageiros se queixarem. 

Rui Melo contou o caso do município de Rio Verde, no interior de Goiás. Ali, segundo ele, só os mais velhos andavam de ônibus. A demanda começou a mudar quando foram trazidos para a cidade veículos mais modernos, com ar-condicionado e wi-fi gratuito. “Ao melhorar a frota, os jovens passaram a usar. Ficam na internet a viagem toda e dizem que não chegam suados no trabalho nem cansados em casa”, afirma o pesquisador. O mais importante é a percepção da sociedade de que vale a pena deixar o carro ou a moto em casa. 

“Enquanto as pessoas tiverem a ideia de que transporte público é coisa de pobre, ninguém que possa usar outro meio vai deixar de fazer essa opção”, disse Rui Melo. 

Como iniciativas bem-sucedidas em Belo Horizonte, ele citou o “fresquinho”, micro-ônibus que circulava pela Avenida do Contorno, e o esquema especial de circulação do transporte público no Carnaval, que faz muita gente ir para os locais de concentração dos blocos de ônibus. Fernanda Pereira Altoé, que é presidente da comissão especial, ressaltou que é importante não apenas conhecer a opinião dos usuários sobre o sistema, mas também de quem não o utiliza. “É importante sabermos o que faria essas pessoas aderirem aos ônibus. Precisamos urgentemente diminuir o volume de carros nas ruas”, disse. 

Esperança com trabalho da comissão

Representante da AUTC, Francisco de Assis Maciel disse estar muito esperançoso com o trabalho da comissão especial. “Acredito que esta seja a comissão mais jovem e mais diversa desta Casa”, ressaltou. Para ele, os usuários sofrem não apenas com o sistema ruim, mas com promessas que se acumulam ao longo do tempo. “Fomos vítimas dos buracos do metrô do [ex-prefeito] Márcio Lacerda e da suposta abertura da caixa-preta da BH Trans pelo [ex-prefeito] Kalil”, falou. 

Francisco defende que o contrato em vigor não é ruim, mas não vem sendo cumprido há muito tempo. “Os empresários têm muito poder. Não temos ideia do custo do sistema. Demonstramos que nem mesmo uma consultoria contratada para estipular o valor da tarifa, anos atrás, teve acesso às planilhas de custos das empresas”, falou. Ele lembrou, por exemplo, as multas que se acumulam sem serem pagas pelas empresas.

“Se há uma regra e ela não é cumprida, é inócua. Se a multa é aplicada e as empresas não pagam, estão rindo da nossa cara. O que vemos no transporte público de Belo Horizonte não é crise, é projeto. É tudo muito bem pensado. Tem um objetivo. Bobo é 'nóis'!”, afirmou Francisco. 

O professor Felipe Coutinho salientou que é preciso que o transporte público deixe de ser entendido como um fardo para a cidade. “Temos de compreender que o sistema precisa ser algo que agrega valor ao município, algo de que possamos nos orgulhar”, disse. De acordo com ele, o transporte público não pode ser visto mais como um monopólio, como no passado, mas um serviço que compete com vários outros, a exemplo do transporte de aplicativo por moto.  

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater a qualidade do serviço de transporte coletivo por ônibus da capital - 19ª Reunião - Comissão Especial de Estudo - Contratos de ônibus