Expansão do metrô na RMBH foi considerada necessária e urgente
Projeto atual, que está no papel, prioriza expansão para o Barreiro. Moradores de Ribeirão das Neves também querem ser contemplados
Foto Abraão Bruck/CMBH
Defasado e urgente: esse paradoxo definiu o projeto vigente de expansão do metrô para a maioria dos participantes da audiência pública solicitada por Macaé Evaristo (PT) e realizada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário nesta quinta-feira (11/8). Planejada há muitos anos, mas sem nunca ter sido executada, a expansão desse meio de transporte é considerada cada vez mais necessária. Muitos dos participantes condenaram a privatização dos serviços, defendida pelos governos estadual e federal, e defenderam a rápida ampliação do metrô nas mais diversas direções de Belo Horizonte. Macaé afirmou que irá solicitar o projeto do metrô à Superintendência de Mobilidade Urbana (Sumob) e propor uma reunião especial na qual será possível fazer um apanhado histórico da questão e reivindicar a rápida ampliação desse meio de transporte, considerado fundamental para o desenvolvimento econômico e a melhoria da mobilidade nas cidades da RMBH.
Há cerca de um ano, os governos federal e estadual anunciaram recursos para implantação da Linha 2, que atenderia ao Barreiro, parte deles a serem obtidos por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP). A medida, condicionada à desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), ainda não foi implementada. A execução da obra aguarda o julgamento do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a desestatização do sistema.
Demanda antiga
Macaé Evaristo apoia a luta coletiva para a expansão do metrô, tanto na direção do Barreiro quanto no sentido Venda Nova, Ribeirão das Neves e Vespasiano. A parlamentar explicou que a expansão de trajeto consta do Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PDDI-RMBH) de 2016, ou seja, estava previsto há seis anos. A parlamentar disse que o Barreiro é uma região de mais de 550 mil habitantes, com 60% da população em idade laboral, o que justifica ser contemplada pelo metrô. Ainda de acordo com ela, o transporte coletivo passa por dificuldades em Belo Horizonte, e a ampliação do metrô e de outros modalidades precisa ser debatida.
Para João Luiz da Silva Dias, ex-presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o transporte público não é tratado como bem público no Brasil, e sim como bem de mercado. Esse tratamento ocasiona a exclusão de pessoas, o que é perverso e ineficiente. Ele retomou um histórico do metrô, afirmando que seu projeto é da década de 1970, e visava resolver um dos gargalos rodoviários do Brasil. Tal projeto incluía três trechos: o que ligava Betim a Eldorado, o de Eldorado a Matadouro, atualmente Estação São Gabriel, e o de matadouro a General Carneiro. Somente o segundo trajeto foi instalado. O ex-presidente da CBTU acrescentou que, nos anos 1990, houve um projeto para estender a linha para a Região Norte e as linhas 2 e 3 foram declaradas como não prioritárias.
Dias defendeu a expansão do meio de transporte para a Região Norte e disse que a diferença entre o valor cobrado e o custo da passagem é subsidiada pelo governo federal. Ele acrescentou que a diretoria da CBTU fica em Brasília e é composta de técnicos sem compromisso com o transporte. O ex-presidente questionou, ainda, a privatização desse meio de transporte, dizendo que cidades como Londres e Paris não ousaram privatizá-lo.
Brulio Lara (Novo) questionou o ex-presidente da CBTU sobre a possibilidade de se realizar a expansão do metrô, que é um veículo mais leve que o trem metropolitano atual, com os trilhos já existentes, ou se seria necessário trocar toda a plataforma. Dias disse que a adequação para a plataforma existente é possível com a compra de equipamento adaptado.
Ribeirão das Neves
A audiência contou com moradores de Ribeirão das Neves (MG), que defenderam a urgência na implantação de uma linha de metrô que chegue até o município, uma vez que muitos cidadãos de lá trabalham na capital mineira. Eles não consideram que as linhas de ônibus da cidade seriam prejudicadas pela medida, uma vez que os dois meios de transporte poderiam atuar de forma complementar.
O vereador de Ribeirão das Neves, Messias Veríssimo (PT), disse que a chegada do metrô ao seu município é uma “luta árdua”, pois um grande grupo é contrário a medida, ainda que não se manifeste abertamente dessa maneira. Veríssimo disse que o município é uma cidade dormitório e os ônibus daquela cidade são lotados. Ele denunciou o sucateamento do transporte intermunicipal, e defendeu a luta para “ir na contramão desse sistema que está favorecendo o empresário”.
Eliane Santiago, representante da Rede Ação e Reação Internacional (Rari), disse que sua entidade fez uma pesquisa sobre o tema. Ela contou que Ribeirão das Neves tem mais de 550 mil habitantes, estando situada no Vetor Norte, e questionou onde está o compromisso com a expansão do metrô, medida que traria melhorarias para a região. Membro da Rari, o engenheiro Anderson Manine afirmou ser contrário à previsão de que o metrô chegue a Ribeirão das Neves daqui há 20 anos, conforme o projeto atual. Representante do Instituto Mineiros em Ação, no Bairro Céu Azul, Marcelo Caciano da Silva questionou o motivo de Belo Horizonte ser tão atrasada no transporte sobre trilhos na comparação com cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Rodrigo Affonso de Albuquerque Nóbrega, professor de Cartografia do Instituto de Geociências (IGC), disse não conceber como alguém pode se opor à expansão do metrô em Belo Horizonte, que está muito atrasada. “qualquer cidade com 3 milhões de habitantes tem muito trilho e não depende de ônibus”, disse. Segundo ele, quando falam da pouca viabilidade dessa expansão, provavelmente estão pensando no negócio, e não na população. Nóbrega afirmou que o metrô é um transporte de massa, inclusivo e necessário, além de ser adequado para o deslocamento pendular da população.
Recurso público e gestão privada
Membro do Sindicato dos Empregados em Transportes Metroviários e Conexos de Minas Gerais (Sindmetro MG), Daniel Glória Carvalho afirmou que o Estado está querendo passar a reponsabilidade do transporte para a iniciativa privada. Ele disse que o projeto do metrô prevê um aporte de R$ 2,8 bilhões do governo federal e R$ 427 milhões do governo estadual para ser gerido pela iniciativa privada, que irá executar um projeto de expansão “tímido e medíocre”, sem ouvir as cidades próximas a Belo Horizonte. Carvalho defendeu uma expansão que contemple cidades como Betim, Ribeirão das Neves e Brumadinho.
Braulio Lara disse acreditar que a licitação da concessão de metrô em forma de Parceria Público-Privada (PPP) é salutar, mas que é preciso buscar soluções para o tema de forma prática, desenhando soluções para os próximos dez a 20 anos. Macaé Evaristo citou o questionamento do cidadão Marcos Lourenço sobre o retorno do trem de subúrbio para cidades como Confins e Sete Lagoas, e afirmou que a expansão do metrô é um debate muito rico e que tem vários desdobramentos. A parlamentar acrescentou que o sistema de transporte passa por uma crise desde a pandemia, e o sistema rodoviário está se “arrastando, com morte lenta”. “É preciso pensar num novo modelo urgentemente”, defendeu, se comprometendo a lutar pela causa.
Evaristo disse que irá solicitar o projeto original do metrô à Sumob, propor uma reunião especial para que todos possam se informar mais e debater o tema, com a participação de prefeitos e vereadores de outros municípios da RMBH. Ela disse estarmos passando por um momento triste, em que tudo o que é público tem uma conotação negativa, “como se a iniciativa privada resolvesse todos os males”. Ela acrescentou que a expansão do metrô também é reivindicada pela porção Centro-Oeste da RMBH e concluiu defendendo que a expansão desse meio de transporte “é para ontem, e não para daqui a dez anos”.
Superintendência de Comunicação Institucional