Educadores defendem inclusão de Inteligência Artificial no currículo escolar
Saber utilizar a tecnologia seria essencial para o futuro no mercado de trabalho. Papel “insubstituível” do professor foi destacado
Fotos: Rafaella Ribeiro/CMBH
A Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo debateu, em audiência nesta quarta-feira (29/10), a instituição do ensino de Inteligência Artificial (IA) nas escolas municipais de Belo Horizonte, matéria do Projeto de Lei 380/2025, que tramita em 1º turno na Casa. Helton Junior (PSD), um dos requerentes da reunião, foi quem presidiu os trabalhos. O vereador também é coautor do PL, junto de Dra. Michelly Siqueira (PRD), Pablo Almeida (PL) e Trópia (Novo). No encontro, convidados falaram da importância de saber utilizar a IA de forma produtiva e ética, e que isso precisa ser repassado às crianças nas escolas, para que elas cresçam já preparadas. O papel do professor como mediador e como peça “insubstituível” no ensino também foi ressaltado. A representante da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Alessandra Angélica, informou que a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio do Centro de Línguas, Linguagens, Inovação e Criatividade (Clic), irá instalar “salas tecnológicas” nas escolas, com o intuito de aprimorar as atividades do contraturno, incluindo o ensino de IA. Atualmente, o centro está realizando a formação de monitores para a utilização dos recursos dessas salas e a previsão é de que no primeiro semestre de 2026 elas já estejam em funcionamento.
“Convidamos algumas pessoas que são referência na educação para que pudessem se manifestar sobre o projeto e, a partir disso, conseguirmos debatê-lo amplamente. Queremos desmistificar as dúvidas e avançar com essa rotina para garantir que a IA e outras inovações criativas sejam incluídas na nossa rede municipal de educação”, declarou Helton Junior.
Tecnologia transformadora
A pedagoga e fundadora da IntegraLab, Isabela Henriques, disse que a IA não é só uma ferramenta, mas “uma tecnologia de propósito geral”, que gera transformações na sociedade, mudando o jeito de pensar, de se relacionar e de viver. Ela acentuou que as crianças da atualidade já têm contato com a Inteligência Artificial e fazem uso dela, mas que cabe à sociedade e ao poder público orientar essa utilização para que ela seja benéfica e consciente. A pedagoga também apontou que em 2023 a Unesco alertou para o risco de que as tecnologias poderiam aumentar as desigualdades sociais, o que ela concorda, mas acredita que, com aplicação correta e democratização do acesso, é possível fazer o caminho contrário e diminuir as diferenças. Para isso acontecer, no entanto, a convidada enfatizou que a rede municipal precisa acompanhar os avanços.
“As escolas particulares estão sempre atualizando o currículo, têm se tornado bilíngues, trazido a cultura maker, a robótica; com esse mundo complexo, têm trazido a aprendizagem socioemocional. Já já a inteligência artificial vai entrar no currículo desses colégios. Então, as escolas públicas precisam estar na mesma página, para que os alunos no futuro possam competir no mercado de trabalho e reduzir as desigualdades”, afirmou Isabela.
A pedagoga falou da necessidade de atualizar o currículo escolar para incluir o ensino da Inteligência Artificial. Ela acentuou que, além do uso da ferramenta em si, é preciso ter consciência de como ela funciona, de que pode ter vieses, e do gasto que se tem com os data centers que alimentam plataformas como o ChatGPT, entre outros aspectos.
Dra. Michelly Siqueira chamou atenção para o fato de que a IA pode ser usada "para o bem e para o mal”, e que seria papel do poder público colocar limites e consequências para quem faz o uso inadequado. Helton Junior lembrou o caso de alunos do Colégio Santa Maria, em Belo Horizonte, que teriam criado imagens pornográficas falsas das colegas utilizando a tecnologia. Esse tipo de uso deve ser combatido, segundo o vereador.
Papel insubstituível do professor
Outro ponto destacado durante a audiência foi o papel do professor dentro do contexto da Inteligência Artificial. Profissionais defenderam que a figura do docente não será substituída "de forma alguma" pela IA, porque o ensino tem um aspecto emocional e humano que a máquina não consegue replicar. O coordenador acadêmico do Colégio Loyola, Carlos Freitas, acentuou que a IA é uma “suplementação” ao trabalho do professor, que pode facilitar as atividades em muitas vertentes, como na adaptação de exercícios para alunos com deficiência, por exemplo, mas que a “sabedoria é uma condição humana” que a tecnologia não seria capaz de alcançar.
Pablo Almeida fez coro à fala dizendo que a IA vem agregar no sistema de ensino como um recurso de apoio, e citou outros recursos que causaram grande comoção quando surgiram, mas que com o tempo se tornaram obsoletos e obrigaram a sociedade a se atualizar. O parlamentar também reforçou o compromisso de fazer com que estudantes da rede pública tenham o mesmo acesso aos recursos tecnológicos de alunos de escolas privadas.
Salas Clic
O Centro de Línguas, Linguagens, Inovação e Criatividade (Clic), criado em 2019, “é um espaço de aprendizagem criativa aberto a estudantes, professores, servidores(as) e a toda a comunidade escolar da Rede Municipal de Educação de Belo Horizonte (RME/BH)”. O centro tem uma proposta de metodologia participativa, priorizando a inovação e a criatividade, com propostas de inovação pedagógica relacionadas ao uso de recursos de baixa e de alta tecnologia. A representante da Secretaria Municipal de Educação, Alessandra Angélica, afirmou que o Executivo pretende trazer o ensino da IA como uma “proposta transversal”, com a instalação de “salas de tecnologia” nas escolas. Esses ambientes serão equipados com recursos como impressoras 3D, óculos de realidade virtual e kit de robótica para a realização de atividades no contraturno escolar, ou seja, depois das aulas regulares. Segundo Alessandra, o projeto terá início com 60 salas do total de 178 escolas, e em breve a prefeitura irá divulgar uma portaria regulamentando a proposta.
Ainda de acordo com a convidada, atualmente o Clic está realizando a formação dos monitores das escolas que receberão essas salas, com base no que é recomendado na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e trabalhando as tecnologias “plugadas e desplugadas”, ou seja, recursos digitais e que se conectam à internet e outros que não precisam da web para funcionar. Alessandra também reforçou que o Clic segue a metodologia "Steam" - abordagem educacional que integra Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática -, mas que acrescenta o “H de Humanidade” ao método, sempre pensando na ética. A previsão é de que as salas de tecnologia estejam disponíveis para uso no primeiro semestre de 2026.
Helton Junior disse que ficou contente em ver que a PBH já está se movimentando para acrescentar o ensino de IA nas escolas e que irá redigir um relatório da audiência para que todas as contribuições dadas possam ser apresentadas à Smed. Além disso, ele afirmou que a discussão só reforçou a necessidade de que o PL 380/2025 seja aprovado o quanto antes.
Superintendência de Comunicação Institucional


