Comunidade do Bairro Pindorama cobra permanência de escola estadual
Unidade que sofre esvaziamento está em terreno da PBH. Governo estadual nega intenção de fechar, mas matrículas estão suspensas
Foto: Bernardo Dias/CMBH
Moradores do Bairro Pindorama, pais e ex-alunos da Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado estão sem respostas sobre a continuidade das atividades da unidade no bairro. Na manhã desta quarta-feira (20/12), durante audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, eles defenderam a permanência da escola na comunidade. Abrigada em um terreno municipal e e responsabilidade do governo do Estado, a escola já teve mais de 800 alunos e hoje conta com pouco mais de 60. Moradores e ex-alunos questionam a quem interessa o fechamento da unidade educacional e denunciam um esvaziamento intencional, ao ofertar apenas ensino em tempo integral em uma comunidade periférica, onde jovens precisam trabalhar para ajudar em casa. Apesar de convidados para o debate, Prefeitura e governo do Estado não enviaram representantes. Parlamentares que acompanham a demanda disseram que não há intenção de fechamento da unidade, desde que haja estudantes para a continuidade das atividades. A direção, porém, disse que não como trazer novos alunos, pois as matrículas no sistema estão suspensas. Ciro Pereira (PTB), que solicitou o encontro, considerou que a PBH ‘deu as costas’ aos moradores ao não comparecer.
Tempo integral e evasão
Presente no Pindorama há mais de 40 anos, diversas gerações passaram pela Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado. Segundo a diretora Ariane Campos, entretanto, atualmente, a escola, que oferta as últimas séries do ensino fundamental e os três anos do ensino medio na modalidade integral, além de cursos profissionalizantes de logística e segurança do trabalho, tem apenas oito turmas, que somam pouco mais de 60 alunos.
Segundo a dirigente, sem consulta à comunidade e conversa com a escola, as matrículas para o ano letivo de 2024 foram suspensas e o temor é de que dezenas de jovens entre 15 a 17 anos não tenham onde dar continuidade aos estudos, já que Escola Estadual Guimarães Rosa, que também atende a região, estaria ‘lotada’. Para Ariane, o esvaziamento, dentre outros pontos, vem do modelo adotado, pouco atrativo aos alunos. “Existe um problema crônico desde a implantação do ensino médio em tempo integral em 2017. A obrigação de permanência na escola por nove horas com um currículo muito mais extenso e sem nenhuma política pública que garanta a permanência dos alunos provocou evasão em massa”, explicou.
Uso do espaço e sucateamento da educação
O encerramento das atividades na Lucas Machado preocupa também moradores da região e ex-alunos da unidade. Além da possibilidade do aumento da violência entre os jovens, fruto da evasão escolar, a comunidade questiona a quem interessa o fechamento de uma unidade educacional, que, além de espaço do conhecimento, funciona como local de convivência e sociabilidade. “A história da escola foi construída com muita luta e lá é um espaço de convivência social. Já realizamos casamentos, missas e festas lá. Estamos na periferia da periferia e queremos saber quando o terreno estiver na mãos da Prefeitura o que será feito lá. Não queremos ter perdas. Queremos a continuidade dos cursos profissionalizantes e que se abra turmas para preparação do Enem”, afirmou Valéria Neves, que é moradora da comunidade e tem três filhos que são ex-alunos da escola.
Waldeir Eustáquio é chefe de Departamento de Serviço Social da PucMinas e refletiu sobre o impacto do fechamento da escola em uma comunidade composta por uma população preta e periférica. “O Lucas não tem nem 100 alunos. Será que é só isso de jovens que o Pindomara tem? Será que querem que estes jovens cheguem à universidade? Eu sou preto, da periferia e consegui chegar à universidade. Mas, à medida que se fecha escola, abre-se um presídio. A quem interessa o sucateamento da educação?”, indagou.
Não há intenção de fechar
O vereador José Ferreira (PP) morou no Bairro Pindorama e fez seu 2º grau na Lucas Monteiro Machado. O parlamentar disse que, desde que ouviu sobre o fechamento da unidade, tem buscado levar a população para dentro da escola, por meio do apoio na realização de festas e bingos, mas que é preciso que a comunidade se empenhe em atrair os estudantes.
De acordo com o parlamentar, em conversas com o chefe de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Fernando Sette, foi dito que não há intenção de fechar a unidade, desde que a escola tenha alunos para a continuidade das atividades. “Eles dizem que não querem fechar. O estado estaria disposto a ajudar a escola, mas precisamos tirar esse preconceito sobre a escola. Somos uma escola de periferia e o que os nossos jovens querem é curso profissionalizante para poder trabalhar, então precisamos ver como está esta grade e se ela atende”, declarou.
Também Professora Marli (PP), que integra a comissão, confirmou que não haveria por parte do governo do Estado a intenção de fechar a escola e falou sobre a responsabilidade da comunidade em atrair jovens para a unidade. “Concordo com o José Ferreira, não é intenção do Estado e da PBH fechar a unidade. Mas escolas precisam ter alunos e vocês precisam conseguir estudantes para lá”, afirmou
Matrículas suspensas
A diretora Ariane Campos então questionou como irá levar alunos para a escola se as matrículas para o ano de 2024 estão suspensas: “Fernando Sette enganou a vocês dois, porque as matrículas estão bloqueadas e eu não consigo inserir nenhum aluno. Então como vocês querem que levemos alunos para lá?”
O líder comunitário Odilon Araújo também constestou a fala dos parlamentares do Partido Progressistas e disse que cabe à gestão uma nova forma de pensar a unidade. “A escola quer ter alunos em tempo integral, mas este não é o perfil da comunidade. Os nossos jovens precisam trabalhar para ajudar em casa. Famílias ricas é que têm condições de manter seus filhos só nas escolas, em tempo integral”, argumentou.
Antes de encerrar a reunião, Ciro Pereira disse que irá continuar batalhando para que a Lucas Machado não feche suas portas e lamentou que a Prefeitura não tenha enviado representantes para a audiência. “Gostaria muito que a Prefeitura estivesse aqui hoje, porque o terreno sendo dela há essa interlocução. Era necessário que a Secretaria de Educação tivesse ao menos mandado alguém. Se ela acha que vai me punir não mandando ninguém, ela está punindo é a população do Pindorama”, concluiu.
Superintendência de Comunicação Institucional