EDUCAÇÃO EM ALERTA

Comunidade do Bairro Pindorama cobra permanência de escola estadual

Unidade que sofre esvaziamento está em terreno da PBH. Governo estadual nega intenção de fechar, mas matrículas estão suspensas

quarta-feira, 20 Dezembro, 2023 - 14:30

Foto: Bernardo Dias/CMBH

Moradores do Bairro Pindorama, pais e ex-alunos da Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado estão sem respostas sobre a continuidade das atividades da unidade no bairro. Na manhã desta quarta-feira (20/12), durante audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, eles defenderam a permanência da escola na comunidade. Abrigada em um terreno municipal e e responsabilidade do governo do Estado, a escola já teve mais de 800 alunos e hoje conta com pouco mais de 60. Moradores e ex-alunos questionam a quem interessa o fechamento da unidade educacional e denunciam um esvaziamento intencional, ao ofertar apenas ensino em tempo integral em uma comunidade periférica, onde jovens precisam trabalhar para ajudar em casa. Apesar de convidados para o debate, Prefeitura e governo do Estado não enviaram representantes. Parlamentares que acompanham a demanda disseram que não há intenção de fechamento da unidade, desde que haja estudantes para a continuidade das atividades. A direção, porém, disse que não como trazer novos alunos, pois as matrículas no sistema estão suspensas. Ciro Pereira (PTB), que solicitou o encontro, considerou que a PBH ‘deu as costas’ aos moradores ao não comparecer.

Tempo integral e evasão

Presente no Pindorama há mais de 40 anos, diversas gerações passaram pela Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado. Segundo a diretora Ariane Campos, entretanto,  atualmente, a escola, que oferta as últimas séries do ensino fundamental e os três anos do ensino medio na modalidade integral, além de cursos profissionalizantes de logística e segurança do trabalho, tem apenas oito turmas, que somam pouco mais de 60 alunos.  

Segundo a dirigente, sem consulta à comunidade e conversa com a escola, as matrículas para o ano letivo de 2024 foram suspensas e o temor é de que dezenas de jovens entre 15 a 17 anos não tenham onde dar continuidade aos estudos, já que Escola Estadual Guimarães Rosa, que também atende a região, estaria ‘lotada’. Para Ariane, o esvaziamento, dentre outros pontos, vem do modelo adotado, pouco atrativo aos alunos. “Existe um problema crônico desde a implantação do ensino médio em tempo integral em 2017. A obrigação de permanência na escola por nove horas com um currículo muito mais extenso e sem nenhuma política pública que garanta a permanência dos alunos provocou evasão em massa”, explicou.

Uso do espaço e sucateamento da educação

O encerramento das atividades na Lucas Machado preocupa também moradores da região e ex-alunos da unidade. Além da possibilidade do aumento da violência entre os jovens, fruto da evasão escolar, a comunidade questiona a quem interessa o fechamento de uma unidade educacional, que, além de espaço do conhecimento, funciona como local de convivência e sociabilidade. “A história da escola foi construída com muita luta e lá é um espaço de convivência social. Já realizamos casamentos, missas e festas lá. Estamos na periferia da periferia e queremos saber quando o terreno estiver na mãos da Prefeitura o que será feito lá. Não queremos ter perdas. Queremos a continuidade dos cursos profissionalizantes e que se abra turmas para preparação do Enem”, afirmou Valéria Neves, que é moradora da comunidade e tem três filhos que são ex-alunos da escola.

Waldeir Eustáquio é chefe de Departamento de Serviço Social da PucMinas e refletiu sobre o impacto do fechamento da escola em uma comunidade composta por uma população preta e periférica. “O Lucas não tem nem 100 alunos. Será que é só isso de jovens que o Pindomara tem? Será que querem que estes jovens cheguem à universidade? Eu sou preto, da periferia e consegui chegar à universidade. Mas, à medida que se fecha escola, abre-se um presídio. A quem interessa o sucateamento da educação?”, indagou.

Não há intenção de fechar

O vereador José Ferreira (PP) morou no Bairro Pindorama e fez seu 2º grau na Lucas Monteiro Machado. O parlamentar disse que, desde que ouviu sobre o fechamento da unidade, tem buscado levar a população para dentro da escola, por meio do apoio na realização de festas e bingos, mas que é preciso que a comunidade se empenhe em atrair os estudantes.

De acordo com o parlamentar, em conversas com o chefe de Relações Institucionais da Secretaria de Estado de Educação (SEE), Fernando Sette, foi dito que não há intenção de fechar a unidade, desde que a escola tenha alunos para a continuidade das atividades. “Eles dizem que não querem fechar. O estado estaria disposto a ajudar a escola, mas precisamos tirar esse preconceito sobre a escola. Somos uma escola de periferia e o que os nossos jovens querem é curso profissionalizante para poder trabalhar, então precisamos ver como está esta grade e se ela atende”, declarou.

Também Professora Marli (PP), que integra a comissão, confirmou que não haveria por parte do governo do Estado a intenção de fechar a escola e falou sobre a responsabilidade da comunidade em atrair jovens para a unidade.Concordo com o José Ferreira, não é intenção do Estado e da PBH fechar a unidade. Mas escolas precisam ter alunos e vocês precisam conseguir estudantes para lá”, afirmou

Matrículas suspensas

A diretora Ariane Campos então questionou como irá levar alunos para a escola se as matrículas para o ano de 2024 estão suspensas: “Fernando Sette enganou a vocês dois, porque as matrículas estão bloqueadas e eu não consigo inserir nenhum aluno. Então como vocês querem que levemos alunos para lá?”

O líder comunitário Odilon Araújo também constestou a fala dos parlamentares do Partido Progressistas e disse que cabe à gestão uma nova forma de pensar a unidade. “A escola quer ter alunos em tempo integral, mas este não é o perfil da comunidade. Os nossos jovens precisam trabalhar para ajudar em casa. Famílias ricas é que têm condições de manter seus filhos só nas escolas, em tempo integral”, argumentou.

Antes de encerrar a reunião, Ciro Pereira disse que irá continuar batalhando para que a Lucas Machado não feche suas portas e lamentou que a Prefeitura não tenha enviado representantes para a audiência. “Gostaria muito que a Prefeitura estivesse aqui hoje, porque o terreno sendo dela há essa interlocução. Era necessário que a Secretaria de Educação tivesse ao menos mandado alguém. Se ela acha que vai me punir não mandando ninguém, ela está punindo é a população do Pindorama”, concluiu.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para discutir o processo de encerramento da Escola Estadual Dr. Lucas Monteiro Machado - 44ª Reunião Ordinária - Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo