Para dono da Transoeste, apenas com subsídio é possível empresas operarem
Empresário foi ouvido hoje na CPI. Pela manhã, carro da empresa se envolveu em acidente no Barreiro. Veículo estaria sem freio
Foto: Bernardo Dias/CMBH
“Se tiver o dinheiro para todo o custo posso continuar. Vamos operar porque sei fazer. O que não dá é para o empresário subsidiar o transporte público”. A declaração que condiciona o sustento do sistema de transporte coletivo a alguma forma de financiamento, seja da receita com a tarifa ou com o subsídio vindo do governo, é de Fabiano Borges, dono da Transoeste. O empresário, que opera 26 linhas de ônibus na Região do Barreiro, foi ouvido na manhã desta quinta-feira (31/8), durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) - Ônibus sem Qualidade. A fala de Borges foi dada em resposta ao questionamento sobre a sua capacidade de operar a empresa que hoje, além de alvo da CPI, acumula dívidas trabalhistas e centenas de reclamações de usuários sobre condições precárias dos veículos e descumprimento de quadro de horários. Segundo o empresário, entretanto, o cenário é resultado de um esvaziamento do sistema, que teria começado a ocorrer a partir de 2016, e da falta de reajuste no preço da tarifa dos ônibus. Os parlamentares ouviram as queixas do empresário, mas cobraram comprometimento por parte da empresa nas sua obrigações, já que houve redução nos custos com a retirada dos cobradores e de viagens dos quadros de horários. Durante a oitiva, um carro da linha 318, operada pela empresa de Borges, se envolveu em um acidente, no Bairro Bonsucesso, deixando três pessoas feridas. Segundo relatos dos passageiros, o veículo teria perdido os freios.
Compra de empresas
Atuando no ramo de transportes desde 2001, quando trabalhou para um tio e seus sócios em Justinópolis, Fabiano Borges contou em 2016 conseguiu negociar com o dono da Transimão linhas que a empresa operava no Consórcio Pampulha e assumiu os negócios da Transoeste, paganto em parcelas mensais a Nilo Gonçalvez Simão. Mais tarde, em 2018, foi procurado novamente, desta vez pelo dono da Paraense, que desejava parar de operar no sistema de transporte, e assim assumiu também as linhas do empresário. Hoje, segundo Borges, Paraense e Transoeste operam juntas com 98 veículos, em 26 linhas que atendem o Barreiro.
As operações da Transoeste ocorrem por meio do Consórcio Dez (quatro consórcios operam o sistema em BH). Perguntado pela relatora Loíde Gonçalves (Pode) se a empresa está no sistema desde 2008, Fabiano respondeu que não, que ela não teria participado da licitação, mas que quando ele entrou em 2016 ela já estava integrada. “Acredito que ela não estava na licitação. Mas em 2016 ela já estava. Não sei a data extamente (quando foi substituída), mas acredito que ela tenha a anuência do poder público, porque opera até hoje”, afirmou.
Mais 40 carros e falta de mão de obra
A frota operada pela Transoeste tem média de oito anos. O máximo era de dez anos, mas em 2018, o prefeito Alexandre Kalil subiu a idade máxima de operação para 12 anos. Segundo Fabiano Borges, a expectativa é de que entre 40 a 45 veículos sejam adquiridos pela empresa nos próximos meses. Perguntado pela relatora se o dinheiro vindo do subsídio será aplicado na compra dos veículos, o empresário explicou que não, que eles são adiquiridos por meio de financiamento bancário, afiançados então pela expectativa de receita com o subsídio.
Perguntado ainda sobre a manutenção e limpeza dos veículos que estão em operação, Fabiano Borges disse que há oito carros parados na garagem, sem Autorização de Tráfego (AT) para rodar, e que há dificuldade de se conseguir mão de obra qualificada para a manutenção . “Perdemos muita gente para as mineradoras. Tenho três vagas de mecânico, vaga de manobrista e quando consegui alguém para a limpeza, que é de 19h às 3h, disse (o candidato) que preferia ganhar R$ 600 do governo”, contou dizendo que, por isso, a renovação da frota é vantajosa também para a empresa, pois reduz os custos com manutenção.
A manutenção dos veículos é um ponto que tem preocupado parlamentares que moram e atuam no Barreiro e que sistematicamente recebem denúncias de usuários sobre os descumprimetos da Transoeste. Wesley Moreira (PP) relatou acidente ocorrido na manhã desta quinta, no Bairro Bonsucesso, com um ônibus da linha 318, e questionou Borges sobre mais informações. “O carro 30536 está com AT em dia, pneus em dia. É um Mercedes Bens de 2014. Já foi levado para a garagem para verficação. Quando se fala em perder o freio é preciso fazer uma perícia para ver o que aconteceu se foi falha humana ou mecânica”, explicou.
Necessidade de subsídio e capacidade de operar
As reclamações dos moradores também chegam ao Professor Juliano Lopes (Agir), que durante a reunião chegou a exibir um vídeo enviado via WhatsApp para o seu celular, onde um motoboy filma um ônibus da Transoeste ‘quebrado’ na Avenida Sinfrônio Brochado. O parlamentar, que considera insustentável a continuidade dos serviços da empresa na região, cobrou respeito e dignidade para com os usuários do transporte coletivo.
Fabiano Borges disse acreditar que a chegada do subsídio vai fazer com que a população comece a sentir as mudanças, como no aumento de viagens e aquisição de novos veículos e atribuiu o cenário à queda relevante no número de passageiros, ao aumento dos custos operacionais (diesel, pneus, preço dos carros) e ao não reajuste nas tarifas. “Em 2016 transportamos 400 milhões de passageiros. Em 2022 fechamos em 200 milhões. O subsídio já existe há anos em países da Europa. Compramos ônibus de R$ 750 mil. Está vindo aí a eletrificação (da frota) e o custo tende a aumentar. Então temos que nos preparar porque esses custos vão bater na porta”, afirmou, lembrando que tem inúmeros ofícios enviados ao poder concedente (Prefeitura), pedindo a correção da tarifa, o que não foi dado e teria gerado o colapso do sistema.
Perguntado então se acredita que tem condições de continuar a operar, já que, além dos investimentos que precisa fazer, existem ao menos 37 processos trabalhistas negociados na Justiça do Trabalho e que não estão sendo pagos, Borges disse que sim, que tem capacidade de continuar, mas que a operação depende de custeio. “Precisamos de R$ 140 milhões/mês. Se será 70 do passageiro, 70 subsídio, tudo bem. Tem é que sentar e ver o que será melhor para a cidade e o cidadão”, declarou, dizendo ainda que não dá é para o empresário de ônibus subsidiar o sistema.
A Transoeste já recebeu cerca de R$ 16 milhões relativos aos dois subsídios aprovados pela Câmara Municipal. Para Professor Juliano Lopes, entretanto, o alerta deveria ter sido dado pelas empresas lá atrás, para que não se chegasse a esse ponto de colapso. “Vocês vieram subsidiando o sistema e deixaram chegar nesta situação. O Alexandre Kalil veio fazer política, fazer média com a população e não deu o aumento de passagem e isso ficou insustentável. Sobrou para a população, que hoje tem ônibus sujo e sem manutenção”, disse o parlamentar, lembrando ao empresário que esta pode ser a última oportunidade para prestar um bom serviço para a região do Barreiro.
Além dos parlamentares citados, participaram da reunião Braulio Lara (Novo), Henrique Braga (PSDB), Jorge Santos (Republicanos) e Sérgio Fernando Pinho Tavares (PL).
Assista à íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional