SAÚDE

Doença que atinge felinos e humanos, esporotricose, preocupa em BH

Disseminação entre felinos é rápida. Em BH, há 464 casos confirmados em humanos, sendo 63 de janeiro a junho deste ano

quinta-feira, 20 Julho, 2023 - 20:30

Foto: Rafaella Ribeiro/ CMBH

A esporotricose é uma micose causada por um fungo que habita a natureza e está presente no solo, palha, vegetais, espinhos e madeira. Além de atingir seres humanos, a doença também acomete várias espécies de animais silvestres e domésticos, principalmente os gatos e cachorros, entretanto, enquanto os cachorros adquirem uma forma de baixa virulência, semelhante à dos humanos, os gatos geralmente adquirem uma forma grave e disseminada da doença. De acordo com a Prefeitura, a população felina cresceu muito em Belo Horizonte, tendo passado de 30 a 40 mil pra quase 100 mil nos últimos três a quatro anos. A capital tem, atualmente, 464 casos confirmados de doença em humanos, tendo sido 88 em 2020, 81 em 2021 e 110 em 2022. Neste ano, até o início de junho, foram confirmados 63 casos em humanos. Com a finalidade de debater sobre incidência e a prevenção da esporotricose, que atinge felinos e humanos e tem cura, a Comissão de Saúde e Saneamento realizou, nesta quinta-feira (20/7), por solicitação da vereadora Janaina Cardoso (União), audiência pública que reuniu especialistas, protetores de animais e representantes da Prefeitura. A parlamentar defendeu a castração dos felinos, com especial atenção para as colônias de gatos espalhadas pela cidade, bem como o monitoramento, tratamento e cuidado em relação a estes animais. Além disso, Janaína Cardoso cobrou da Prefeitura a realização de campanhas informativas sobre o tema, de modo que a população, especialistas e protetores, juntamente com o poder público tenham conhecimento necessário para lidar adequadamente com a questão.

Protetora dos animais, a parlamentar afirmou que a esporotricose é uma preocupação premente não apenas em BH, mas em todo o país. Ela salientou que são necessárias políticas públicas para o diagnóstico e tratamento e lembrou que a captura de gatos que vivem em colônias é mais difícil que a de gães em situação de rua, por exemplo, o que exige mais esforço para a castração, controle e tratamento da população de felinos. A parlamentar também defendeu a importância de o poder público atuar em conjunto com os protetores no cuidado dos felinos em situação de rua.

Diagnóstico e tratamento

O exame, o diagnóstico e o tratamento da doença, tanto em animais como em humanos, são oferecidos pelo poder público e estão acessíveis gratuitamente a toda a população, explicou Eduardo Gusmão, da Secretaria Municipal de Saúde. Como a facilidade de transmissão da esporotricose zoonótica é uma realidade, a oferta de tais serviços, como ocorre em BH, é essencial para o enfrentamento da doença. Na capital mineira, os animais tutorados são atendidos por meio do complexo público veterinário, sob coordenação da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Eduardo Gusmão também destacou o papel fundamental da UFMG neste desafio, uma vez que o material coletado pela Prefeitura, nas residências em que vivem os gatos tutorados, é processado em laboratório da universidade. 

Já em relação aos felinos que vivem em colônias, a Prefeitura tem realizado o cadastro de protetores para que, em parceria com o poder público, possam auxiliar na captura dos animais para castração e, quando necessário, tratamento. Com a ajuda de protetores parceiros que vivem próximos às colônias de gatos, é possível efetivar as ações necessárias de controle populacional e demais cuidados inerentes ao manejo ético. 

Eduardo Gusmão destacou que as colônias de gatos que vivem no Parque Municipal, no centro da cidade, têm seus membros identificados com microchip, vacinados e castrados, bem como monitorados em relação a esporotricose. Ainda de acordo com ele, as demais colônias de gatos são atendidas pela Prefeitura por demandas de protetores independentes e daqueles que atuam em organizações da sociedade civil. 

Outro desafio enfrentado pelo poder público, segundo Eduardo Gusmão, diz respeito às pessoas com transtorno de acumulação, pois pacientes com este quadro podem desenvolver a compulsão de recolher animais em situação de rua, os quais não passam por castração, e a ausência do controle reprodutivo leva ao aumento da população de gatos.

464 casos em humanos

A transmissão da doença em humanos, em Minas Gerais, teve início, segundo Paulo Correa, da Secretaria Municipal de Saúde, entre os anos de 2015 e 2016 e, desde então, a capital mineira já registra 464 casos confirmados em humanos, sendo a maioria entre pessoas acima de 14 anos de idade. Por ser relativamente nova, a esporotricose pode ser confundida com outras doenças, dificultando o diagnóstico. Conforme Paulo Correa, a maioria dos pacientes responde bem ao tratamento, mas pessoas com comorbidades podem enfrentar mais dificuldades ou até chegar a óbito. 

A doença em humanos é de notificação compulsória e, diferentemente do que ocorria antes, quando o diagnóstico e o tratamento eram feitos na rede especializada, atualmente, a rede primária de atenção à saúde se encontra capacitada para realizar os atendimentos. Além disso, os medicamentos necessários também são oferecidos gratuitamente pelo Estado.

Para evitar que a esporotricose avance e sejam necessários ainda mais recursos para tratamento e contenção da disseminação da doença no futuro, o veterinário e defensor da causa animal, Thiago Borges, defendeu mais atenção do poder público e da sociedade ao problema, incluindo a adoção de um sistema mais adequado para notificação e controle dos animais infectados. A esse respeito, a PBH afirmou que estuda a facilitação da notificação da doença em animais, inclusive com a possibilidade de adotar a prática da notificação compulsória, assim como ocorre em relação à esporotricose em humanos.

Informação

Informações sobre a doença devem ser divulgadas com o devido cuidado, alertou Maria Helena, técnica da Diretoria de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde, uma vez que a falta de entendimento em relação ao problema pode levar a maus-tratos, abandono e até à matança de animais.

Nessa perspectiva e com o intuito de garantir o compartilhamento de informações adequadas a respeito dos cuidados aos animais, Eduardo Gusmão explicou que a Prefeitura desenvolveu, na região da Pampulha, o projeto Educa Zoo, voltado aos estudantes das escolas públicas municipais. A iniciativa se insere no rol de ações implementadas pela PBH no sentido de conscientizar a população a respeito da causa animal. 

Entre as questões sobre as quais deve-se ampliar a conscientização estão os cuidados que tutores devem dispensar aos gatos. Especialistas defendem que a população abdique do manejo semidomiciliar dos felinos, uma vez que permitir o livre acesso destes animais às ruas facilita a transmissão de doenças.

Para Vânia de Fátima Nunes, veterinária e protetora de animais, a esporotricose é um desafio nacional, apesar disso, a doença tem sido negligenciada do ponto de vista das políticas públicas. Com o objetivo de se enfrentar este desafio, ela cobrou ações efetivas, entre elas, a realização de um grande seminário para discussão do tema, com participação da UFMG, que segundo ela, desenvolve um importante trabalho sobre a esporotricose e teria muito a contribuir. Ainda de acordo com Vânia, faz-se necessário um trabalho conjunto na RMBH, que leve informações sobre a doença aos médicos veterinários e à população em geral. Ela também salientou que o animal não pode ser visto como o culpado pela disseminação da doença, mas sim como vítima da negligência e da falta de acesso aos cuidados necessários ao seu bem-estar. 

Superintendência de Comunicação Institucional

 Audiência pública - Finalidade: Debater sobre a incidência de esporotricose e prevenção de doença que atinge felinos e humanos em nossa capital.