NO LUGAR DE AVIÕES

Sambistas, quadrilheiros e congadeiros querem espaço no Aeroporto Carlos Prates

Proposta apresentada por arquiteto prevê construção de parque ecológico, sambódromo e equipamentos socioculturais e de saúde 

segunda-feira, 17 Abril, 2023 - 19:00

Foto: Karoline Barreto /CMBH

A transferência do terreno do Aeroporto Carlos Prates para o município está condicionada à aprovação, por parte do governo federal, do destino que será dado ao espaço. A informação foi dada por representantes da Prefeitura de BH durante audiência pública realizada pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana,  nesta segunda-feira (17/4). Esta é a quinta audiência pública que a Câmara Municipal realiza para debater o destino do espaço do aeroporto que, desde o último dia 1º de abril, está desativado. Apesar da presença de representantes da PBH, os participantes destacaram a ausência de representantes da Belotur. Ao deixar claro que apoia a construção de um sambódromo, o autor do requerimento, Professor Juliano Lopes (Agir), afirmou que é preciso “dar alma para a cultura de BH”, e que o espaço comporta também a construção de outros equipamentos necessários para a cidade, como por exemplo, um ginásio poliesportivo. De acordo com o Executivo, o momento é de ouvir as demandas da população; uma das utilizações possíveis é a construção de moradias populares, que levariam sobrecarga aos equipamentos públicos de saúde e educação. 

Representando a PBH, a subsecretária de Relações Intergovernamentais, Beatriz Oliveira, e a assessora da Secretaria Municipal de Governo Nathália Araújo afirmaram que o objetivo da Prefeitura nesse momento é ouvir as demandas da população. Elas explicaram que cabe ao governo federal a palavra final sobre o que será construído no local. O presidente da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), Claudius Vinicius Leite, assegurou que uma das utilizações possíveis é a construção de moradias populares. “Porém, a PBH está atenta à sobrecarga para os equipamentos públicos de saúde e educação provocada pela construção de conjunto habitacional na região”, afirmou.

Projeto de ocupação

Arquiteto e carnavalesco, Leonardo Silva apresentou uma proposta de ocupação do espaço que contempla um sambódromo, um parque ecológico e um polo de cultura,  além de equipamentos públicos de saúde, educação, esporte e moradia popular. Leonardo destacou que essas são demandas sociais urgentes que precisam ser sanadas. O carnavalesco frisou ainda que, na forma como foi concebido,o projeto também contempla agremiações quadrilheiras e grupos de congado que “atualmente não têm onde realizar suas festas, ensaiar ou guardar o material de um ano para outro”, afirmou.

Segundo o Leonarno, a proposta contempla ainda a criação de um museu da aviação, espaços para tecnologia do meio ambiente, esportes, escolas de arte e energia sustentável. A iniciativa privada também pode se beneficiar e explorar o espaço com a organização de eventos olímpicos, feiras diversas, centros de negócios, centros comerciais e até mesmo um hotel nas imediações. “É apenas uma proposta e precisamos de empenho político para fazer juntos. Sei que são inúmeras as demandas que a cidade tem, mas não podemos deixar morrer uma tradição que, além de tudo, movimenta a economia”, ressaltou. 

Juliano Lopes elogiou  o projeto,  afirmou que contempla todos os segmentos e sugeriu que o prefeito faça uma grande audiência pública para ouvir a cidade. Ele  criticou o fim das quadrilhas nas regionais e a consequente concentração das festas no Centro, e chamou a atenção para o adensamento da cidade. “Se um projeto como esse for aprovado pela Prefeitura, todos na cidade sairão ganhando,” opinou.

Ex- dirigente da Belotur, Tadeu Martins disse que BH perdeu o trem da história ao não investir em turismo ecológico. Tadeu lembrou que quando BH foi governada por Patrus Ananias e Célio de Castro chegou a ocupar o 3º lugar como polo cultural no país. O ex-diretor da Belotur lembrou que os belo-horizontinos já opinaram por um sambódromo na cidade, quando votaram no OP Digital a construção de um espaço na Via 240 (Regional Norte da cidade). “O dinheiro foi liberado, mas com a nossa saída do governo, o projeto voltou à estaca zero e o recurso foi utilizado para a construção de um espaço cultural mínimo (se referindo a um BH Cidadania). Tadeu Martins destacou que o carnaval de BH é referência no país e defendeu a implantação de um projeto múltiplo no espaço do Aeroporto Carlos Prates com o objetivo de atender às necessidades sociais e ainda fomentar a cultura por meio de eventos importantes, com mais geração de empregos diretos e indiretos. 

Ausência da Belotur

Presidente dos Blocos Caricatos de BH, Juólisson Mangabeira ressaltou que o projeto apresentado por Leonardo Silva é muito amplo e contempla os desejos da comunidade. Para ele, a capital tem uma gestão que se apropria da festa popular, “mas não mobiliza, pois quem mobiliza o turismo somos nós”, afirmou. Segundo ele, a cidade não valoriza a força criativa. “A Belotur, que é quem entende de Carnaval, é que deveria estar aqui debatendo conosco”, lamentou. 

A ausência de representantes da Belotur também foi destaque na fala de Márcio Eustáquio, presidente da Liga de Escolas de Samba de MG. “A Belotur tem apenas dois eventos: o Carnaval e a Festa Junina. E não teve interesse em participar, em nos ouvir?”, questionou. Márcio Eustáquio explicou que as estruturas utilizadas tanto no Rio de Janeiro como em São Paulo são aproveitadas durante todo o ano. Ele também lamentou a transferência do evento da Via 240 para o Centro e alegou que as emissoras de TV já evidenciaram o potencial do carnaval na cidade, fazendo inclusive investimentos nas transmissões e incentivando o turismo. Para ele, o carnaval na Avenida Afonso Pena está estagnado e não oferece possibilidade de crescimento ou melhoria. 

Ao reafirmar o potencial lucrativo que o carnaval gera para a cidade, Márcio Eustáquio sugere um diálogo mais profícuo entre a PBH, a Câmara Municipal e os setores que representam o evento. “Nosso carnaval gera muitos empregos e precisamos investir nessa cultura. Outras pastas também devem participar do debate”, finalizou. 

O preconceito contra o carnaval e contra o samba norteou a fala do historiador e diretor de escola de samba Felipe Diniz. “É uma cultura herdada que é passada de pai para filho e a falta de espaços adequados interfere nesta continuidade da cultura popular”, alegou. Para Felipe, a utilização do espaço, conforme descrito no projeto, trará benefícios para diversos setores, como por exemplo, o esporte.  Ele contou que os eventos esportivos que eram realizados no Mineirinho, agora ocupam outras arenas fora da capital mineira que não oferece espaços adequados. 

Praça da Estação é pequena

Presidente da Quadrilha Pipoca Doce, Igor Paulo argumentou que a Praça da Estação não comporta o tamanho da festa junina de BH. Ele elencou as dificuldades para manter a tradição viva e pediu mais respeito. “Hoje fazemos a festa com o nosso cartão de crédito, pois não sabemos quando a PBH vai liberar os recursos”, afirmou. Ele também pontuou que a PBH gasta milhões para montar e desmontar a estrutura na Praça da Estação e que esse dinheiro seria mais bem gasto se houvesse um espaço fixo.

Uma moradora do Bairro Padre Eustáquio manifestou sua expectativa de ser ouvida. “Nós, moradores do bairro, queremos ser ouvidos pela PBH e pela Câmara. Nós queremos espaço para falar”, afirmou. 

Representando a PBH, a subsecretária de Relações Intergovernamentais, Beatriz Oliveira, e a assessora da Secretaria Municipal de Governo Nathália Araújo afirmaram que o objetivo da Prefeitura nesse momento é ouvir as demandas da população. Elas explicaram que cabe ao governo federal a palavra final sobre o que será construído no local. O presidente da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), Claudius Vinicius Leite, assegurou que uma das utilizações possíveis é a construção de moradias populares. “Porém, a PBH está atenta à sobrecarga para os equipamentos públicos de saúde e educação provocada pela construção de conjunto habitacional na região”, afirmou.

Juliano Lopes reforçou a responsabilidade da Prefeitura. "Espero que o prefeito saiba de tudo o que ocorreu aqui. Se a cidade tiver esse espaço, não só a cultura , mas todos os setores vão ganhar”, finalizou. 

Superintendência de Comunicação Instituciona

Audiência pública para discutir sobre a transformação do Aeroporto Carlos Prates em sambódromo- 9ª Reunião Ordinária: Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana