Cresce o número de denúncias de importunação sexual no Mineirão
Parlamentares atribuem aumento de queixas a campanha educativa e pedem penas mais rígidas para importunadores
Foto: Cláudio Rabelo/CMBH
Durante o intervalo das partidas, na área dos bares ou quando o time faz um gol. É nesses momentos que o crime de importunação sexual ocorre com mais frequência no Mineirão. A campanha Todos Contra a Importunação Sexual, desenvolvida pelo Minas Arena com a participação de diversos órgãos e clubes de futebol, tem como proposta inibir agressores, incentivar as denúncias e acolher as vítimas. A Comissão de Mulheres visitou as dependências do estádio nesta sexta-feira (10/12) para verificar os protocolos de divulgação da campanha nas áreas internas e externas, e a estrutura técnica e tecnológica disponibilizada para prevenir e combater as ocorrências. Durante a visita, solicitada por Rubão (PP), os parlamentares questionaram o tipo de treinamento recebido pelos funcionários para auxiliar e acolher as possíveis vítimas, bem como localizar e/ou neutralizar os suspeitos.
Assessor de Comunicação do Minas Arena, Thiago Nogueira explicou que a proposta é incentivar as denúncias para que os casos sejam apurados imediatamente e os agressores punidos. Para isso, além das 360 câmeras espalhadas por todo estádio, foram distribuídos cartazes - nos corredores, área de bares, banheiros, entre outros - com QR Code para facilitar a denúncia. “O código remete para um canal de comunicação imediata com a equipe (WhatsApp). A partir das informações recebidas, é possível agilizar os processos e encaminhar os casos para investigação dos órgãos de segurança, com a possibilidade de fazer um boletim de ocorrência on-line. Além de receber apoio e acolhida no momento de vulnerabilidade, a mulher pode informar onde se encontra e solicitar o comparecimento de um membro da equipe”, explicou. Segundo ele, o BO também pode ser feito no dia seguinte, em qualquer delegacia. Ao ser questionado sobre a possibilidade de criação de uma sala de acolhimento das vítimas, Thiago declarou que a medida está em avaliação, pois “pode ser que a vítima se sinta coagida se ficar dentro de uma sala”.
Divulgação e atendimento
Além de instruir os vigilantes do estádio sobre como agir no acolhimento às vítimas e de distribuir cartazes e cartilhas com orientações, a campanha está sendo divulgada em redes sociais e no telão do Mineirão e tem a participação de todos os clubes de futebol e dos funcionários, que receberam camisas alusivas à ação educativa. “Estamos trabalhando com as assessorias de comunicação de todos os times e das grandes redes de comunicação, sempre ressaltando a importância da denúncia”, afirmou Bárbara de Faria, integrante da equipe do Minas Arena. Segundo ela, a campanha é dividida em três frentes de atuação: importunadores, vítimas e testemunhas, e o objetivo é incentivar as denúncias como forma de coibir o ato criminoso e promover uma mudança de comportamento na sociedade.
Questionada por Wilsinho da Tabu (PP) sobre o pós-atendimento, Bárbara explicou que a equipe entra em contato com a vítima dois dias após o ocorrido para saber se foi dada sequência no BO, promove uma reunião para que a mulher possa se expressar. “Nesse momento é feita uma avaliação do que poderia ter sido feito para evitar, como podemos melhorar nosso atendimento, o que a equipe pode fazer para ajudar, para prevenir. Se for necessário, fornecemos as imagens para ajudar em algum encaminhamento”, frisou. Os vereadores quiseram saber quais os locais onde os crimes ocorrem com mais frequência, como tem sido feito o trabalho com as torcidas organizadas, se com o aumento do público feminino após a pandemia houve mais episódios e se a campanha já aponta algum resultado.
Marcos Crispim (PSC) considerou que a iluminação do estacionamento é insuficiente e quis saber se a segurança permanece no local após a evacuação dos torcedores. Ele também quis saber qual a punição para o crime. A presidente da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Nely Aquino (Podemos), se disse satisfeita em ver que mais mulheres estão tendo a coragem de denunciar esses abusos e lembrou que as denúncias também podem ser feitas no Ponto de Apoio da CMBH. Ela sugeriu que a Comissão de Mulheres faça um relatório e encaminhe para órgãos competentes cobrando punições mais rígidas.
Encaminhamentos
Professora Marli (PP) afirmou que sempre frequentou o Mineirão com a família e acredita que o público mudou ao longo do tempo com maior presença feminina. Ela assegurou que todas as informações colhidas serão repassadas aos deputados mineiros que trabalham com a temática de esportes, para que eles possam contribuir com a campanha, dentro e fora do Mineirão. Fernanda Pereira Altoé (Novo) lembrou de uma campanha similar no estado do Pará e afirmou que vai buscar informações sobre os resultados. “Não queremos nenhum tipo de segregação. É um projeto de longo prazo que requer coragem para denunciar e mudança de mentalidade. As ferramentas a gente já tem; só temos que colocar em prática”, afirmou. Presidente da Comissão de Mulheres, Flávia Borja (Avante) considerou a visita muito produtiva: “Tomamos conhecimento das ações de combate à importunação sexual e de que maneira as mulheres podem buscar ajuda. O Mineirão tem uma equipe bem estruturada, que está desenvolvendo um bom trabalho e já pode apresentar resultados positivos”.
A campanha também conta com o apoio das Polícias Civil e Militar, da Guarda Municipal, do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), das Secretarias de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese) e de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), além do Instituto Galo.
Também participaram da visita as vereadoras Iza Lourença (Psol) e Macaé Evaristo (PT) e o vereador José Ferreira (PP).
Superintendência de Comunicação Institucional