Convidados discutem corte e poda de árvores e PBH não manda representantes
Pedido da audiência foi feito pelo vereador Pedro Patrus (PT), que citou falta de critério para podas e supressões
Foto: Divulgação/CMBH
Belo Horizonte já recebeu o título de “cidade jardim”, mas vem sofrendo com ações de poda e supressão de árvores, cada vez mais comuns. O assunto foi discutido nesta sexta-feira (12/4) em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana, a pedido do vereador Pedro Patrus (PT). Ele e representantes de entidades ambientais lamentaram a ausência injustificada da Prefeitura no debate. Foram levantadas questões como a importância das árvores para o ecossistema, as autorizações para poda e supressão, as políticas de replantio, o conhecimento técnico de quem executa o serviço, planos para compensar impactos do corte, dentre outras.
“A gente não veio aqui para brigar com a Prefeitura”, afirmou a representante do Movimento Fica Fícus, Lúcia Maria Lopes Formoso Sávio, lembrando que a intenção é discutir o “manejo civilizado” das árvores - sendo apoiada por Patrus. Segundo Sávio, a Prefeitura está muito “à vontade” com a questão porque a sociedade se divide em relação ao problema, por conta do medo de quedas de árvores causadas por pragas ou chuvas, por exemplo. Ela questionou a destinação da madeira cortada e a procedência das mudas compradas para substituição. Para a ambientalista, há dois extremos envolvendo a questão das árvores: o medo da queda delas em função das chuvas, e a necessidade de mantê-las para controlar o calor, dentre outras funções.
Esse medo, que já seria antigo, foi explicado pelo ecólogo e professor Sérvio Pontes Ribeiro, que apresentou um pequeno histórico das políticas ambientais ao longo dos anos. Para ele, principalmente nos trópicos, a relação de coexistência dos homens com a natureza e as árvores é de medo (não justificado), por associação com o que é fechado, desconhecido, com as sombras. Na década de 1970, em Belo Horizonte, o resultado dessa busca de “algo mais distante ainda da natureza” foi a implantação de grandes avenidas, associadas a grandes desmatamentos. As árvores foram injustamente culpadas por pragas advindas do próprio desflorestamento. Havia a percepção (e ainda existe) de que as florestas e a vegetação transmitem animais que são vetores de doenças, como o Aedes aegypti. Entretanto, o mosquito prolifera em terrenos baldios, justamente onde a cobertura vegetal foi retirada. O próprio aquecimento global que atinge as cidades estaria trazendo a volta dos vetores de doenças parasitárias. Ele citou que, na década de 80, o Aedes aegypti invadiu Belo Horizonte trazido pelo forte calor, e que a infestação teria sido menor se houvesse mais florestas. O medo da queda de árvores sobre pessoas também foi abordado: “Em 100 anos, as quedas de árvores mataram cinco pessoas. E ventos de 200 km, por exemplo, derrubam qualquer coisa, inclusive árvores”.
Animais
Além de diminuir o calor e até o risco de inundação (porque a água é mais bem absorvida pela vegetação do que quando o terreno é pavimentado), de nos proporcionar melhoria da qualidade de vida pelo convívio com a natureza, dentre várias vantagens, as árvores são viveiros de espécies animais importantes, como as abelhas. É o que explicou o representante da Associação de Meliponicultores de Minas Gerais (que criam abelhas nativas), Francisco Régis Vesovatto: quase 80% do alimento que consumimos é fruto de polinização, processo no qual as abelhas desempenham importante papel. E a supressão indiscriminada das espécies vegetais destrói os enxames e outros animais que podem viver nos ocos ou nas copas de árvores, de acordo com Vesovatto.
Critérios
Outro ponto destacado pelos convidados foi de que as podas e supressões feitas pela Prefeitura não são realizadas corretamente e não respeitam o equilíbrio da árvore, o que pode causar risco de queda. Em seguida, foi questionado o preparo técnico de quem realiza os serviços (inclusive os que são feitos pela Cemig). O representante do Fica Fícus e cineasta Sávio Leite e Silva afirmou que são feitos 38 cortes de árvores por dia e apresentou um vídeo onde se veem árvores saudáveis cortadas rente ao chão. Ele reclamou, ainda, que faz solicitações à PBH sobre motivos das supressões e nunca obtém retorno. “Em nenhum momento falam em cuidar da árvore”, acrescentou.
O vereador Pedro Patrus lembrou os dois principais problemas relacionados ao tema da audiência: um deles é a falta de critérios explícitos para os cortes. Ele afirmou que fez dois pedidos de informação à PBH, sobre supressão de árvores na Avenida Teresa Cristina e sobre o planejamento municipal para podas e supressões, mas não recebeu resposta de nenhum dos pedidos. A outra questão tem cunho político: “A vontade política opta por derrubar em vez de cuidar, e destina 15 milhões para supressão e poda”. O parlamentar garantiu que levará pedidos de informação sobre o tema para serem votados na comissão e enviados ao próprio prefeito.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional