ATENÇÃO À SAÚDE

Fechamento de quatro hospitais em BH preocupa trabalhadores das unidades

Profissionais pediram aos vereadores da CMBH rejeição ao PL que prevê cessão de terreno para complexo hospitalar na Gameleira

quinta-feira, 31 Julho, 2025 - 18:30
parlamentares e participantes presentes em audiência pública na câmara municipal de bh

Foto: Cláudio Rabelo/CMBH

Trabalhadores da saúde e representantes de usuários do SUS-BH se reuniram em audiência pública com parlamentares na tarde desta quinta-feira (31/7) para debater o Projeto de Lei (PL) 302/2025, da Prefeitura de Belo Horizonte, que desafeta e autoriza a alienação de áreas públicas para uso da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig). Com a cessão, o governo de Minas pretende construir o Complexo de Saúde Hospital Padre Eustáquio (HoPE) e uma nova unidade do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-MG). A intenção do Executivo estadual é que o novo complexo também absorva as atividades hoje realizadas pelos hospitais Alberto Cavalcanti, Eduardo de Menezes, Odete Valadares e João Paulo II. Dr. Bruno Pedralva (PT), solicitante do encontro realizado pela Comissão de Saúde e Saneamento, demonstrou preocupação com o fechamento desses hospitais – conforme previsto pelo projeto –, com os prejuízos à assistência à saúde e com o destino dos profissionais dessas unidades.

Representante da Secretaria Municipal de Saúde, Lucas Rodrigues de Abreu afirmou que a PBH também tem “reforçado” junto ao Estado a importância de não haver redução da oferta na prestação de serviços. Trabalhadores dos quatro hospitais pediram aos vereadores da Câmara a rejeição do projeto de lei. Pedralva acredita que a audiência pública será capaz de “sensibilizar as vereadoras e os vereadores” para a importância de manter o funcionamento dos hospitais.

Novo complexo hospitalar

“Não é só ‘entregar um terreno’. Vocês não estão entregando só um terreno, vocês estão entregando uma possibilidade para o governo [de Minas Gerais] acabar com a assistência à saúde aqui em Belo Horizonte”, disse Carlos Martins, representante da Associação dos Trabalhadores da Fhemig (Asthemg). “Para onde vamos, onde seremos realocados, o que vai acontecer com a gente, trabalhadores e, principalmente com as nossas crianças?”, questionou Ana Paula, trabalhadora do Hospital Infantil João Paulo II (HIJPII).

Para Pedro Patrus (PT), o Complexo de Saúde Padre Eustáquio é um projeto ainda “muito mal contado” do governo de Minas Gerais, motivo pelo qual ele defende a retirada de pauta do PL 302/2025. Ele acredita ser preciso, antes, um diálogo com os trabalhadores das unidades que deverão ser fechadas

“Construir um complexo de hospitais a mais seria ótimo para a cidade de Belo Horizonte e o estado de Minas. Agora, para a construção desse complexo, ele [o governo de Minas] já anunciou que vai fechar quatro hospitais da cidade de Belo Horizonte”. O parlamentar defendeu a manutenção das unidades, “referências para uma série de pacientes”. 

“Por que fechar todos os quatro hospitais que hoje atendem à população, já que existe um déficit de leitos hospitalares para internação de urgência e cirurgias eletivas?”, questionou Dr. Bruno Pedralva. O parlamentar também demonstrou preocupação com o fato de o governo de Minas já ter anunciado que o novo hospital não será “porta-aberta”, ou seja, não funcionará como pronto-socorro, tendo acesso exclusivo para atendimentos regulados – ou pela Central de Regulação de Leitos ou Central de Regulação do Samu. 

O parlamentar questionou como “ficarão” não só os profissionais que atuam no pronto-atendimento das unidades que serão fechadas, como os pacientes que demandam pronto-socorro obstétrico, infantil e oncológico, como os atualmente prestados pela Maternidade Odete Valadares, Hospital João Paulo II e Alberto Cavalcanti, respectivamente. 

“O cidadão do Barreiro que, em 2030, quando estiver construído esse novo hospital, e o [Hospital] Eduardo de Menezes tiver migrado para lá, na hora que ele chegar onde hoje é o Eduardo de Menezes vai encontrar o quê: um hospital fechado”, apontou Pedralva.

Serviços de referência

“Eu considero o fechamento desses hospitais, mas principalmente do pronto-socorro do [Hospital Infantil] João Paulo II, um crime contra a vida”, afirmou a presidente da Associação de Pessoas com Doença Falciforme de Minas Gerais (Dreminas), Maria Zenó. Médico do HIJPII e representante do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais (Sinmed-MG), Cristiano Albuquerque também demonstrou preocupação com a possibilidade de fechamento do hospital que, segundo ele, é referência em atendimento em doenças raras e complexas. O detalhamento do projeto do governo estadual, de acordo com ele, prevê redução no número de consultórios, leitos e “setores estratégicos” não apenas do João Paulo II, como dos demais hospitais. “Essa ampliação de serviços que a Fhemig está dizendo não acontece”, afirmou Cristiano. 

“Esse projeto da forma como ele está diminui o SUS, diminui serviços. Ele coloca os pacientes raros e, mais ainda, os complexos, em risco, além de ‘jogar fora’ um patrimônio que o povo de Minas conquistou com muita luta”, disse o representante do Sinmed-MG.

Viviane Sales, representante do Conselho Regional de Enfermagem de Minas Gerais (Coren-MG), também fez um alerta sobre os riscos envolvidos na interrupção da prestação de serviços de saúde pelas unidades, como o do Banco de Leite Humano da Maternidade Odete Valadares. “O fechamento dessas unidades pode gerar impactos negativos, como o aumento da superlotação em outros hospitais, maior tempo de espera para o atendimento e, infelizmente, o risco de agravamento dessas doenças”, completou Viviane Sales.

O assessor e representante da Secretaria Municipal de Saúde Lucas Rodrigues de Abreu destacou que a opção por instalar o Complexo de Saúde Hospital Padre Eustáquio é do governo de Minas Gerais. “Enquanto município, a gente faz algumas sinalizações, inclusive da importância de não haver redução da oferta”, disse Lucas. O representante do Executivo municipal afirmou que a PBH também tem “reforçado” junto ao estado a necessidade de garantir pronto atendimento em pediatria no novo complexo, considerando sobretudo a sazonalidade de doenças respiratórias.

Falta de diálogo

“Ninguém aqui é contra a construção de um novo hospital”, afirmou Neuza Freitas, diretora executiva do Sind-Saúde/MG. “Mas nós não podemos nos concentrar em apenas uma unidade. São quatro unidades de extrema importância, [cujo fechamento] vai causar um transtorno gravíssimo para toda a população de Minas Gerais”, completou ela, que pediu à prefeitura que se reunisse e dialogasse com os representantes dos trabalhadores das unidades para debater outra solução para a questão. 

Renato Barros, representante do Conselho Estadual de Saúde, também disse haver falta de diálogo com o governo Zema em relação à construção do novo complexo. “Houve uma apresentação ao Conselho Estadual de Saúde, que é um órgão deliberativo, mas nós não deliberamos de forma profunda essa discussão; e estamos assustados com essa decisão”, disse o conselheiro. Para ele, “antes de qualquer iniciativa de cessão do espaço”, a prefeitura deveria promover um diálogo com a população de Belo Horizonte.

Dr. Bruno Pedralva disse que “tem dialogado” com os demais colegas vereadores desde a votação do PL 302/2025 em 1º turno, quando a proposta obteve 34 votos favoráveis e 5 contrários. “Nós precisamos da parceria de todo mundo, inclusive da prefeitura, para que a gente encontre uma saída que não leve ao fechamento do pronto-atendimento do Hospital João Paulo II e dos [demais] hospitais”, disse Pedralva. Ele ressaltou acreditar que pode “convencer os vereadores disso”. O parlamentar também destacou a importância da repercussão da pauta na imprensa da capital e a possibilidade de ampliação do debate sobre o tema envolvendo toda a população de Belo Horizonte.

O PL 302/2025 recebeu 15 emendas de Dr. Bruno Pedralva, Iza Lourença (Psol), Luiza Dulci (PT) e Pedro Patrus. Elas deverão ser apreciadas pelas Comissões de Legislação e Justiça; Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana; Administração Pública e Segurança Pública; e Orçamento e Finanças Públicas, antes que o projeto possa ir à votação em 2º turno. A aprovação definitiva depende do voto favorável de dois terços (28) dos vereadores.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para debater sobre o PL 302/2025 que dispõe sobre a desafetação e autoriza a alienação das áreas públicas