Vereadores criam grupo de debate com empresariado de BH
Objetivo do grupo é debater sobre ações relacionadas à reabertura do comércio. As propostas serão apresentadas à PBH
Foto: Bernardo Dias/CMBH
“Criamos então a nossa Ágora digital”. Com esta frase o vereador Gabriel (Patriotas) definiu a principal função do conselho criado nesta terça-feira (28/4) na Câmara Municipal e que terá como integrantes vereadores e representante de entidades empresariais de Belo Horizonte. Referindo-se ao espaço ou assembleia criada na Grécia Antiga onde cidadãos se reuniam para debater temas diversos, o vereador, que presidiu a reunião especial que debateu ações de apoio e a reabertura de atividades paralisadas por causa da pandemia de coronavírus, também reivindicou a participação do Legislativo Municipal em grupo de trabalho criado pela PBH para planejar a reabertura. “Elogiamos a PBH pela criação do grupo, mas pedimos assento no comitê do Executivo para dar voz a estas entidades. Sugiro que a presidente do Poder Legislativo, vereadora Nely Aquino (Pode), faça parte e represente este conselho que acabamos de criar”, destacou o vereador, que recebeu apoio dos seus pares. “Vamos também pedir à presidente que faça um decreto criando oficialmente este conselho”, disse o vereador Jair Di Gregório (PSC), 2º vice-presidente da Casa.
Três iniciativas foram tomadas pelo grupo durante a reunião, que contou com representantes de vários setores do empresariado mineiro. Além da criação do conselho ou comitê, que funcionará pelo whatsapp e será coordenado pelo presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Marcelo Souza e Silva, e a reivindicação pela participação efetiva em grupo de trabalho criado pela PBH, os participantes também decidiram por dar publicidade às sugestões apresentadas pelos empresários e vereadores. “Vamos fazer um documento com as sugestões e dar publicidade aos órgãos de imprensa da cidade”, definiu Gabriel, que recebeu o apoio do vereador Wesley Autoescola (Pros). “O clamor já está dimensionado. Agora é propor encaminhamentos para a Prefeitura”.
Sugestões de lojistas, indústria e comércio
Durante a reunião, que teve início às 10h e durou pouco mais de duas horas, muitas sugestões foram feitas pelos representantes das entidades empresariais, que participaram remotamente dos trabalhos. Segundo o presidente da CDL, Marcelo Souza, o comércio é o grande gerador de empregos na cidade e precisa de apoio urgente. “Um milhão e meio de pessoas vivem do comércio em Belo Horizonte. Precisamos resguardar as vidas das pessoas e também o emprego. Fizemos pesquisa e no início da pandemia era meio a meio o percentual de comerciantes que se dividiam entre abrir e manter seu negócio fechado. Agora 73% querem estudar a possibilidade de abertura. Uma abertura gradual e com o devido acompanhamento. Sugerimos que haja horários diferentes de abertura para não acumular pessoas no transporte público, por exemplo”, explicou Marcelo, sugerindo ainda uma parceria com taxistas e motoristas de aplicativos, que seriam utilizados para o transporte de funcionários. “Seria também importante a liberação do rotativo ou redução no valor pois possibilitaria que um maior número de pessoas se deslocasse de carro. Também estamos negociando com empresários de estacionamentos. Tudo isso no sentido de reduzir a aglomeração no transporte público”, explicou. Os lojistas também se dispuseram a confeccionar 1000 faixas de pano com frases educativas. As faixas seriam colocadas em corredores de trânsito com o objetivo de instruir e ajudar na orientação da população.
Outra sugestão foi apresentada pelo presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), Ricardo Rodrigues. Para ele, a reabertura deve seguir orientações da Organização Mundial de Saúde já implementadas em outros lugares no mundo. “Para que haja o distanciamento correto, a Prefeitura poderia liberar a utilização das calçadas. Sugerimos também o funcionamento em três faixas de horário (dependendo do tipo de comércio) para evitar ainda mais a aglomeração”, afirmou Ricardo. Alteração no horário de funcionamento também foi uma reivindicação apresentada por Paulo Castro, da Associação do Comércio de Materiais de Construção. “Nosso ramo está enquadrado nas atividades essenciais, mas no sentido de contribuir para o acesso às lojas sugerimos que estas possam funcionar entre 7h e 17h, e os chamados home centers de 7h às 20h”, sugeriu Paulo que é vice-presidente da entidade.
Segundo o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, o momento é de usar informações já aprendidas durante os mais de 40 dias de isolamento. “Os supermercados e as farmácias estão abertos e o vírus está contido. Isso mostra que o comércio de rua pode abrir se tomarmos as medidas que mitigam o risco. Dentro deste período de isolamento já houve um aprendizado. Aprendemos que o uso de máscaras é efetivo e que é possível fazer o distanciamento social sem o isolamento social. A medida mais drástica é a que estamos usando em Belo Horizonte e vamos usar até quando?”, questionou Roscoe, que teve a Covid-19 e que acha importante combater o vírus com ciência. “O isolamento não é sustentável a médio e longo prazos. Estamos dando um tiro de canhão para matar um mosquito, pois existem medidas mais efetivas de prevenção capazes de modular todo o processo”, afirmou.
Uma das alternativas sugeridas pela OMS para aumentar a segurança do cidadão e reduzir o contágio é a utilização em massa de máscaras. Conforme informação repassada por Flávio Isac, secretário do Sindicato do Comércio Atacadista de Tecidos, Vestuário e Armarinhos de Belo Horizonte (Sincateva-BH), é necessário que cada pessoa tenha pelo menos quatro máscaras, o que daria em torno 10 milhões de máscaras para a população da Capital. “Nossos produtos são fundamentais para o combate à pandemia e estamos fechados, sem condição de funcionar. Nossa luta é para que vejam a essencialidade dos nossos produtos nesse momento”, afirmou Isac, reforçando a importância do setor na produção de máscaras em BH. A informação contou com o apoio de Natalie Olifson, da Frente da Moda Mineira. Segundo ela, a utilização maciça de máscaras deve durar pelo menos mais 120 dias. “Esperamos que estas máscaras sejam fabricadas pelas empresas de Belo Horizonte”, disse, reforçando que a moda é uma alavanca importante no mercado de BH e também sofre com a pandemia.
Outro setor afetado diretamente pela pandemia foi o imobiliário. Segundo a presidente do Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (Secovi-MG), Cássia Ximenes, os setores de locação, administração e venda de imóveis estão sofrendo muito com a crise e precisam de um projeto de reabertura. “Precisamos reabrir com cuidado, baseados em dados científicos. Não temos sequer comprovação de imunidade entre as pessoas que já tiveram a Covid-19. Não temos uma cartilha de como fazer, então é importante usar o bom senso”, explicou Ximenes, afirmando que é preciso ter um parâmetro para a reabertura. “É importante ter uma data como referência para que a gente possa voltar e se organizar. Medidas drásticas são péssimas e nenhuma ação também. Quem sabe a reabertura com horários bem definidos, com organização”, disse, sugerindo o dia 11 de maio como esta data referência.
Para o vereador Jair Di Gregório, é urgente trabalhar para que haja a reabertura gradual. “Defendo a flexibilização comercial com normas e regras com orientação do comitê médico. Estou defendendo a flexibilização com cuidados, pois a parte financeira e comercial impacta na vida de todos”, disse Jair. Segundo Gabriel, todas as sugestões apresentadas devem ser levadas em conta, informando que 22 pessoas participaram dos debates de forma remota, sendo 21 representantes de entidades, mais o vereador Flávio dos Santos (PSC). Além de Gabriel, Wesley Autoescola e Jair Di Gregório, também participaram do debate no plenário os vereadores Irlan Melo (PL), Fernando Borja (Avante) e Professor Juliano Lopes (PTC), todos de máscara e mantendo o distanciamento indicado pelas autoridades de saúde.
Participantes cobram transparência e diálogo
“O medo está falando mais forte e o prefeito está precisando de ajuda. É importante que fossem ao prefeito Kalil e o ajudassem a vencer este medo”, disse Gilson de Deus, representante da Associação Mineira de Supermercados (AMIS), ao ser questionado se tinha alguma sugestão para o processo de reabertura da cidade. As críticas a atitudes tomadas pelo prefeito Kalil e pela Prefeitura foram acompanhadas por muitos participantes que não pouparam críticas ao Executivo Municipal quanto à condução da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus.
Para o presidente da Associação de Comerciantes do Hipercentro, Flávio Froes, os comerciantes estão dando sua cota para que tudo seja bem feito. “Nenhum de nós escolheu este vírus e ele veio de enxerido. Mas é preciso que a Câmara possa dizer à PBH que não nos trate como imbecis. É preciso que abram os números e os dados reais. Precisamos saber exatamente como está a ocupação do Sistema de Saúde Municipal e sua capacidade também no momento de reabertura. Precisamos saber onde estamos nesta curva. Blumenau abriu e cinco dias depois subiu a curva. Será que foi por causa da reabertura do comércio? Estamos muito perto do nosso limite”, salientou Flávio Froes, deixando claro que para ele nada vai voltar ao normal e o comércio não voltará a vender como antigamente. “É preciso engajamento da Câmara e da Prefeitura para uma nova realidade que só pode ser atingida com transparência para resolver os problemas relacionados à doença, ao comércio e à sociedade”, concluiu.
Outra crítica contundente feita ao prefeito Kalil se refere à pouca abertura para participação do Legislativo Municipal e da sociedade civil organizada nas definições dos rumos no combate à pandemia. Para o vereador Fernando Borja, a atitude é desrespeitosa. “O prefeito criou um mini secretariado (para tratar do problema). Cadê a sociedade civil, a Fiemg, os médicos. Em momento nenhum ele está convidando. Isso é uma falta de respeito à sociedade. Em BH tem alguém que quer falar que manda e desmanda. A Prefeitura não pode ser só reativa. Falamos aqui sobre a distribuição de máscaras e depois eles anunciaram. Falaram que iriam distribuir, mas ainda não foi distribuída nenhuma máscara. O que falamos há dez dias eles estão pensando em fazer somente agora. Pedimos socorro à sociedade, mas socorro contra o prefeito que não chama ninguém para discutir”, afirmou o vereador, criticando ainda a manutenção do carnaval de rua quando, segundo ele, já se sabia da existência do vírus e a falta de transparência na apresentação de informações. “Não sabemos nada porque as informações estão sendo cercadas”, finalizou Borja.
Jair Di Gregório também questionou a ausência de representante do Legislativo no debate. “Vi a publicação do Comitê no Diário Oficial do Município de hoje e não tem um vereador no grupo. Não me senti vereador de BH. Podia ser só um de nós para representar os outros 40. Até documento pedindo isso já enviamos ao Executivo”, lamentou Jair.
A Prefeitura publicou no Diário Oficial do Município desta terça-feira, o Decreto 17348, que “institui grupo de trabalho para avaliar e planejar a reabertura gradual e segura dos setores que tiveram as atividades suspensas em decorrência das medidas para enfrentamento da epidemia causada pelo coronavírus e para propor critérios de isolamento intermitente.” Participam do comitê os secretários municipais de Saúde, Jackson Machado; Desenvolvimento Econômico, Cláudio Beato; Fazenda, Fuad Noman e Planejamento, Orçamento e Gestão, André Reis. Jackson Machado Pinto, responsável pela pasta da Saúde, é o coordenador do grupo. Segundo o vereador Gabriel, o grupo criado pelo prefeito se reuniu pela primeira vez também nesta terça-feira, o que impediu a presença dos secretários à reunião especial da Câmara, para a qual foram convidados. Ainda segundo Gabriel, nesta hora é preciso trabalhar na busca de equilíbrio. “Entre o ponto de não abertura amanhã e o ponto de não abertura jamais, vamos encontrar o ponto certo, o ponto de equilíbrio”, finalizou.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional