Moradores do Aglomerado da Serra apresentam reivindicações aos vereadores
Melhorias no transporte coletivo, cultura, esporte e meio ambiente foram demandadas
Foto: Carlos Freitas/CMBH
A Comissão de Participação Popular realizou audiência pública na Praça do Cardoso, no Aglomerado da Serra, Região Centro-sul da capital, nesta quarta-feira (30/8), com o objetivo de ouvir as demandas da comunidade ao poder público. As reivindicações versaram, entre outras questões, sobre transporte público, cultura, esporte e meio ambiente. Os vereadores que integram o colegiado apresentaram as ações que serão tomadas com vistas a solucionar os temas elencados.
A professora Floricena Estevam, moradora do aglomerado há 40 anos, reivindicou a implantação de uma linha de micro-ônibus para interligar a Praça do Cardoso à Rua Niquelina. Ela explica que a linha permitirá que os moradores do Aglomerado acessem a estação de metrô. Além disso, o micro-ônibus também garantirá que aqueles que, por conta das obras do Programa Vila Viva, foram removidos das proximidades da Praça do Cardoso para habitações vizinhas à Avenida Men de Sá possam acessar a área onde já viveram e construíram laços comunitários a um custo baixo. A tarifa das linhas que atendem vilas e favelas por micro-ônibus é de R$0,90. De acordo com a educadora, a contraproposta do Executivo foi a implantação de uma linha de ônibus com tarifa a R$2,85, que é aquela cobrada em linhas circulares e alimentadoras. A prefeitura teria alegado, segundo Floricena, que as linhas de micro-ônibus a R$0,90 atendem apenas vilas e favelas e que, portanto, não poderiam ser implantadas no trajeto solicitado, uma vez que o percurso principal seria realizado em uma avenida, a Cardoso, com o objetivo de promover o acesso a uma estação de metrô.
Os moradores do Aglomerado da Serra afirmaram que a avenida aberta por meio das obras do Programa Vila Viva deveria trazer benefícios à comunidade e não privá-la do direito à linha de microônibus a R$ 0,90. “Se a avenida, que fica no Aglomerado, não serve à comunidade, por que foi construída?”, questionou Floricena, para quem o direito à cidade é garantido por um transporte coletivo que atenda à população.
O fundador da Rádio Favela, Misael Santos, também salientou que a Avenida Cardoso não deve servir apenas como via de acesso a quem mora fora do Aglomerado e passa pelo local em carros particulares no trajeto de casa ao trabalho, mas, sim, ao atendimento das necessidades dos moradores locais.
Os vereadores informaram que já foi solicitada uma reunião com o prefeito Alexandre Kalil (PHS), com o objetivo de discutir a implantação da linha de ônibus nos moldes solicitados. Para a vereadora Cida Falabella (Psol), não faz sentido que o transporte público coletivo no trajeto reivindicado seja implantado ao custo de R$ 2,85.
Meio ambiente
Outra reivindicação dos moradores diz respeito ao cuidado com as nascentes e cursos d’água existentes no Aglomerado da Serra. Segundo os moradores, áreas que deveriam funcionar como parques para a preservação ambiental estão abandonadas pelo poder público. Isso faz com que os terrenos estejam sendo utilizados para descarte ilegal de entulho ou, ainda, ocupados irregularmente.
O vereador Edmar Branco (PTdoB), vice-presidente da Comissão de Participação Popular, informou que irá visitar as áreas com nascentes para buscar soluções para o problema. O parlamentar afirmou que seu mandato defende a conservação das nascentes e cursos d’água como um direito humano e apresentou o Fórum do Meio Ambiente, espaço de debate entre defensores da causa ambiental lançado por ele no mês de junho. De acordo com Branco, o fórum irá atuar em prol da proteção das nascentes e cursos d’água existentes no Aglomerado. A vereadora Áurea Carolina (Psol), presidente da Comissão de Participação Popular, informou que a Fundação de Parques Municipais será procurada para que a demanda dos moradores seja discutida.
Manifestações culturais
A produtora cultural e moradora do Aglomerado da Serra, Kika, demandou o fim do preconceito do poder público em relação aos bailes funk realizados pela comunidade. Ela contou que a Polícia Militar tem dificultado a obtenção do licenciamento necessário à realização das festividades. De acordo com ela, as festas na região acontecem na via pública e reúnem milhares de pessoas, no entanto, não há o apoio necessário, como a disponibilização de banheiros químicos, o monitoramento do trânsito pela BHTrans e a proteção da Polícia Militar. Ainda segundo Kika, no mês de julho, a PM interveio durante um baile funk realizado na comunidade com disparos de armas de fogo e lançamento de bombas. Ela conta que um adolescente de 14 anos morreu durante a intervenção policial.
Áurea Carolina informou que o secretário municipal de Cultura, Juca Ferreira, irá visitar o Aglomerado da Serra para conhecer de perto os problemas relatados. Segundo a parlamentar, Juca é um defensor da cultura popular e será um parceiro na busca de soluções para o tema. Ainda de acordo com Áurea, seu mandato, que tem trabalhado na luta pelo reconhecimento das manifestações culturais e linguagens das periferias - muitas vezes reprimidas pelo poder público - irá acompanhar de perto a questão com vistas à superação do preconceito ao funk e a outras formas de expressão. Segundo ela, também está sendo articulada uma reunião com a Polícia Militar com o objetivo de se buscar soluções para os problemas e violências reportados pela comunidade.
Esporte
O estádio Mário Ferreira Guimarães, conhecido como Baleião, está localizado no Complexo Esportivo Aglomerado da Serra, e é um dos principais campos de futebol amador da capital. Apesar de sua importância para a cidade, o equipamento esportivo não se encontra em condições ideais de uso e necessita de reformas. De acordo com José Cândido, morador do Aglomerado, os bebedouros não funcionam; a iluminação está danificada, o que prejudica jogos noturnos; e a grama está em estado precário por conta da falta de irrigação. Outro problema relatado por José Cândido é a redução dos dias e horários em que o campo fica acessível para os moradores da comunidade em decorrência do uso do equipamento esportivo pelo América Futebol Clube. Segundo Cândido, desde que o América passou a treinar no local, o estádio só pôde ser utilizado pelos moradores do Aglomerado aos finais de semana. Eles reivindicam a reforma do estádio, bem como a ampliação dos dias e horários disponíveis para a prática desportiva pela comunidade.
O vereador Edmar Branco informou que, nesta quinta-feira (31/8), será realizado, na Câmara Municipal, às 19h, o encontro “Rompendo as dificuldades do esporte amador”, evento no qual estará presente o secretário municipal de Esporte e Lazer, Bebeto de Freitas. O parlamentar, que é o promotor da atividade, sugeriu que os moradores do Aglomerado da Serra compareçam ao evento para dialogar com o secretário e apresentar as reivindicações relativas ao Baleião. Branco também se prontificou a atuar na busca de soluções para o tema junto ao Executivo Municipal.
Novas audiências
O vereador Catatau da Itatiaia (PSDC) classificou a reunião como produtiva e informou que novas audiências serão realizadas no Aglomerado da Serra. O parlamentar também informou que, nas próximas oportunidades, os encontros deverão acontecer no período da noite de modo a facilitar o comparecimento de quem estuda ou trabalha durante o dia.
A presidente da Comissão de Participação Popular, Áurea Carolina, destacou a importância da mobilização política dos moradores, que se reuniram para lutar por seus direitos durante a audiência, e defendeu que o colegiado continue a ser uma arena a garantir voz e direitos a sujeitos que têm pouco acesso aos espaços de poder.
Superintendência de Comunicação Institucional