Empreendimento comercial e obras viárias ameaçam dignidade de moradores
Intervenções já iniciadas no local, no Bairro União, deixam entulhos, sujeira e clima de insegurança há quase cinco anos
Foto: Rafa Aguiar/ CMBH
Cerca de 30 famílias que permanecem na Vila Arthur de Sá, sem acordo justo para indenização dos imóveis, convivem com entulhos, sujeira e um clima de grande instabilidade deixados pelo poder público. A situação foi constatada em visita técnica da Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor, na manhã desta quarta-feira (10/5). Instalada há mais de 30 anos nos limites do Minas Shopping, no Bairro União (Regional Nordeste), a vila ocupa um terreno de propriedade do governo federal, que está sendo disputado para implantação de uma das alças da Via 710. Será solicitada a intervenção imediata da prefeitura para limpeza e recuperação do espaço.
Obra viária de grande porte, a Via 710 será uma pista de cinco quilômetros de extensão que deve servir como via expressa de acesso entre as regiões Leste e Nordeste, ligando as Avenidas dos Andradas e Cristiano Machado. Durante todo o percurso, várias desapropriações estão sendo realizadas. Subdividida em diversos trechos, a obra está sendo custeada pela Sudecap e por diferentes empresas privadas, como contrapartida pela exploração comercial ou industrial na região. Em área contígua à Vila Arthur de Sá, está sendo instalado o Power Shopping Center Minas, que é o empreendimento responsável pelos custos das indenizações, demolições e implantação de uma das alças da Via 710, sobrepondo a área da vila.
Instabilidade e pressão psicológica
Notificadas pela prefeitura e pelo empreendimento a deixar o local, desde 2012, cerca de 80 famílias aceitaram as indenizações ou reassentamentos oferecidos e já se mudaram. “Mas não foi por vontade. Foi livre e espontânea pressão”, afirmou Kilty Knofel, moradora da vila desde 1990, junto com sua mãe e outros familiares. De acordo com os moradores, há cinco anos a vila tem vivido em clima de absoluta insegurança. “Não sabemos o que vai acontecer. É muita ansiedade, angústia e até depressão”, contou o mecânico Adilson Vieira, morador local. “Há cinco anos não podemos nem mesmo pintar as casas ou consertar as paredes, porque vamos perder tudo”, lamentou.
O cenário é de abandono e descaso. Ruínas dos imóveis demolidos, restos de materiais de construção, mato alto, lixo e falta de iluminação tornam-se atrativos para animais peçonhentos e para a criminalidade, o que tem preocupado os moradores que permanecem no local.
“Eles (poder público e empresa) trabalham o psicológico das pessoas. Demolem a casa do seu vizinho, deixam o entulho, retiram a iluminação, deixam crescer o mato. As pessoas ficam inseguras, não aguentam a pressão e aceitam as indenizações”, denunciou Calmina Gomes, moradora local há 27 anos, afirmando que os valores propostos não permitem uma vida digna fora dali. Calmina mora em uma casa com oito cômodos, junto a muitos familiares. Com os R$ 43 mil oferecidos a ela, não seria possível abrigar todas essas pessoas em nenhum bairro da cidade, explicou.
Próximos passos
Cientista política e ativista social, Bella Gonçalves, que atua em conjunto com as vereadoras Cida Falabella (Psol) e Áurea Carolina (Psol), explicou que o conflito está sendo mediado pelo Ministério Público Federal há quase dois anos. Desde então, as demolições e desapropriações individuais realizadas pela prefeitura, por meio da Urbel, foram proibidas. “Eles foram proibidos de destruir, mas não de cuidar do lugar”, ponderou Adilson Vieira, denunciando que as intervenções de limpeza solicitadas pelos moradores no ano passado foram negadas pela PBH.
“É uma clara política higienista. Não havia motivo para a retirada das famílias”, denunciou a vereadora Áurea Carolina, autora do requerimento para a visita técnica, lembrando que a alça a ser construída sobre a vila não estava prevista no projeto original da Via 710. No entanto, após as demolições parciais já realizadas, o local teria ficado absolutamente insalubre, o que fortalece a pressão sobre os demais moradores para deixar a área.
Nesse sentido, a vereadora afirmou que enviará ofício à Sudecap e à Urbel, solicitando a limpeza da área. “Precisamos garantir uma regularidade em todos os serviços de manutenção da vila (coleta de entulhos, capina, controle de zoonose), para que as pessoas vivam em condições dignas. Enquanto isso, nós continuaremos acompanhando o processo para que todos sejam indenizados ou reassentados de forma justa”, concluiu.
Ainda, será requisitada a instalação de postes de iluminação em toda a extensão do corredor de entrada da vila e a retirada do muro instalado no local pelo empreendimento Power Shopping Center Minas. Criado em material opaco, com mais de três metros de altura, o muro formou um corredor escuro e perigoso na entrada da comunidade, impedindo também a circulação adequada do ar.
Superintendência de Comunicação Institucional
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