OFTALMOLOGIA

Desconhecimento sobre o glaucoma preocupa especialistas

Além de ampliar o acesso ao tratamento, técnicos cobram realização de campanhas educativas. SUS garante atendimento e medicação

quinta-feira, 1 Junho, 2023 - 18:15
Imagem doo Plenário Camil Caran. Participantes da audiência s sentados em mesa em formato de U

Foto: Bernardo Dias/CMBH

As ações públicas do município no combate, prevenção e tratamento do glaucoma, uma doença que, embora tratável, afeta cerca de 1,5 milhão de pessoas no Brasil, foi tema de audiência pública da Comissão de Saúde e Saneamento, nesta quinta-feira (1/06), por solicitação de Dr Célio Frois. O parlamentar, autor da Lei 11.399/2022 que institui o Dia Municipal do Glaucoma, destacou que trata-se de uma doença silenciosa, que se não for tratada a tempo pode levar à perda total da visão. Para especialistas, campanhas informativas e acesso a tratamento e à medicação são fundamentais para enfrentar o problema. De acordo com a Prefeitura, não há filas para o atendimento de pacientes com glaucoma em BH.

Dr Célio Frois (PV), autor do requerimento para realização da audiência, esclareceu que a reunião teve como objetivo obter informações técnicas dos especialistas, conhecer as dificuldades do setor e o que está sendo feito nas unidades de base. Ele quis saber dos participantes quais contribuições poderiam ser dadas ao poder público para melhorar o atendimento e como a Secretaria Municipal Saúde (SMSA) percebe os gargalos, bem como as medidas tomadas para resolver tais questões. O parlamentar lembrou que, desde 1997, há uma lei estadual (Lei 12567/1997) que autoriza a criação da Fundação Mineira de Saúde da Visão (Funvisão), que até hoje não foi efetivada. “Nosso objetivo naquela época era tirar a oftalmologia social da Secretaria e transformar a Funvisão num grande centro para resolver os problemas do Estado de Minas Gerais”, afirmou

Falta de campanhas informativas

Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma, o oftalmologista Emilio Suzuki apresentou de forma bem didática como a doença age no corpo humano, quais as consequência de um diagnóstico tardio e as vantagens de um diagnóstico precoce, quais os exames e quais os tratamentos oferecidos pelo SUS. Segundo ele, negros, diabéticos, idosos e míopes têm mais chances de desenvolver a doença. Emilio Suzuki chamou a atenção para o uso indiscriminado de colírios sem prescrição médica, sobretudo, dos corticóides que podem agravar o problema. Ele também destacou a importância do histórico familiar e lembrou que a incidência entre irmãos é muito comum, por conta da carga genética.

Ao destacar que quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais fácil será o tratamento, o especialista chamou a atenção para a necessidade de o paciente se comprometer com o tratamento. “Uma vez que você tem um diagnóstico e acompanhamento corretos e o tratamento adequado - disponível também por completo no SUS - esse paciente não fica cego. Mas é necessário que ele tenha essa assistência da parte médica, da gestão cuidar, e também que ele tenha proatividade dele mesmo. Tanto ele, quanto os  familiares devem buscar conhecimento Nesse sentido, as campanhas educativas são muito importantes”, defendeu. Emilio Suzuki também abordou o aspecto econômico da doença que, mesmo atingindo as mais diversas classes sociais, deixa marcas mais profundas na população mais pobre, uma vez que essa parcela da população não tem acesso aos tratamentos, além de mais dificuldade de se articular. 

O oftalmologista revelou que ‘seu sonho’ é que o glaucoma seja mais conhecido que o diabetes e a hipertensão arterial. “A população reconhece três palavras fortes quando se trata de oftalmologia: conjuntivite, catarata e miopia. Quero incluir a palavra glaucoma nesta lista”, afirmou. Para que isso ocorra, ele reforça a necessidade de investimentos em campanhas educativas e de incentivo ao conhecimento. Segundo ele, para reduzir o número de pessoas cegas por causa do glaucoma é preciso ampliar o conhecimento na sociedade, garantir que a população de risco tenha acesso a exames oftalmológicos e ao tratamento adequado. 

Suzuki elogiou o protagonismo da capital mineira no campo da oftalmologia e contou que, este ano, a cidade vai sediar o Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, marcado para 13 a 15 de julho. “O evento vai atrair oftalmologistas do Brasil e do mundo para discutir não só glaucoma, mas todas as doenças e todas as inovações neste campo”, afirmou. 

Representando a UFMG, o médico e professor Alberto Diniz concorda com a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre o glaucoma, “uma vez que a metade dos pacientes não sabe que é portador da doença, pelo fato de ser uma doença silenciosa”. Segundo ele, “é preciso diagnosticar a tempo de controlar e reduzir ou paralisar a progressão da doença para que esses indivíduos não fiquem debilitados”. Além de causar um impacto incomensurável para eles próprios, o médico alertou para o impacto que o glaucoma tem no próprio sistema de saúde. “A gente sabe que há vários tipos de doenças em que a prevenção é a melhor arma”, pontuou.

Atenção à anamnese e à linguagem 

Representando o Conselho Regional de Medicina, Renata Rugani Couto e Silva também reforçou a necessidade de fazer campanhas informativas sobre o tratamento da doença. Ela destacou ainda a relevância de se garantir o acesso da população à assistência oftalmológica e a necessidade de fazer uma busca ativa, tendo em vista tratar-se de uma doença silenciosa. “É uma doença que exige que seja dada atenção especial à anamnese, além de orientar que toda a família deva passar por aquele rastreamento”, afirmou ao lamentar que haja, por falta de um diagnóstico precoce, pacientes que perderam totalmente a visão.

Ao reconhecer como um “ganho gigantesco” a disponibilização de tratamento pelo SUS e que a medida muda a história da evolução do glaucoma, Renata Rugani destacou a necessidade de campanhas informativas. “É uma informação que tem que ser mais divulgada entre a população porque a gente vê muito paciente, às vezes carente, que ainda não sabe dessa informação, e é um tratamento extremamente caro e nem todos os pacientes sabem que vão ter acesso a essa medicação pela rede pública”, disse.

A representante do Conselho Regional de Medicina também alertou para uma comunicação mais efetiva entre médicos e pacientes. Para ela, é preciso haver um cuidado com as palavras e garantir que o paciente está compreendendo as orientações repassadas pelo profissional. “ A linguagem para o paciente tem que ser sempre uma linguagem muito simples e muito acessível para que as pessoas entendam o que está sendo dito, pois quem não entende a informação não vai não vai seguir tratamento”, ponderou.  

Sem filas

Gerente do Centro Oftalmológico da Secretaria Municipal de Saúde da PBH, Romilda Araújo assegurou que não há filas para o atendimento de pacientes com glaucoma em BH. Segundo ela, a capital mineira oferece tratamento para 35 mil pessoas, residentes na cidade e nas adjacências. Ela alertou para a necessidade de capacitação dos profissionais e lembrou que é uma especialidade que depende de equipamentos para ser exercida, não sendo viável disponibilizar profissionais em unidades básicas de saúde. Romilda explicou que a Secretaria está atuando junto às equipes das unidades básicas de saúde para qualificar os encaminhamentos de oftalmologia, respeitando as prioridades. “As filas de oftalmologia são marcadas de acordo com prioridade, e nós percebemos que as prioridades não estão bem definidas. Há que haver uma melhor regulação destas filas”.

Romilda Araújo também esclareceu que, além do Centro Oftalmológico, o município oferece consultas, exames e cirurgias em prestadores de serviços. Ela identificou como problemas a serem superados o fato de, muitas vezes, o paciente chegar em estágio avançado da doença e não seguir o tratamento por falta de acompanhamento familiar que permita ao paciente administrar a medicação corretamente. Além disso, segundo ela, a oftalmologia é uma especialidade pouco abordada na formação dos profissionais. “Isso demonstra não só a falta de acesso, mas também o desconhecimento e, às vezes, até mesmo o despreparo da equipe. É preciso enxergar a saúde ocular como parte do cuidado geral da saúde”. Ela ponderou que para fazer uma divulgação do serviço é preciso melhorar o acesso e informou que a Secretaria está tomando as providências para qualificar os encaminhamentos. “Qualquer profissional de nível superior pode fazer o encaminhando para oftalmologia, não precisa ser só o médico, como forma de acelerar o atendimento”, afirmou. 

Superintendência de Comunicação Institucional 

15ª Reunião Ordinária da Comissão de Saúde e Saneamento - Audiência pública para debater ações públicas do município no combate, prevenção e tratamento do Glaucoma