Comunidades querem ampliação de pontos de rede gratuita e de computadores
Já a Prodabel apontou, em audiência pública, avanços quanto à qualidade da internet e largura de banda nesse locais
Bernardo Dias / CMBH
Com a pandemia e o isolamento social, comunidades da periferia da cidade têm enfrentado problemas para estabelecerem contato virtual em seu cotidiano, no que se refere à tecnologia. Pontos reduzidos de internet gratuita, planos pré-pagos com rede limitada e falta de computadores nas residências foram problemas apontados em audiência pública da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, nesta quinta-feira (27/8). Na reunião, a Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel) enumerou avanços quanto à qualidade da internet gratuita, largura de banda e quantidade de pontos nas ocupações, mas professores, estudantes e moradores da Ventosa, Morro das Pedras, Aglomerado da Serra e Venda Nova reivindicaram a melhoria dos serviços, destinados à população carente.
Exclusão digital
A professora da Rede Municipal de Ensino, na Ventosa e no Morro das Pedras, Maria Bernadete Diniz Costa, lamentou a exclusão digital de alunos das comunidades, relatando a proposta da escola de entrar em contato com as famílias durante a pandemia, a fim de obter informações para a elaboração de um mapa social. Na oportunidade, disse que, para o trabalho, os professores utilizaram telefones pessoais, quando foram criados grupos de WhatsApp. Segundo ela, 60% das famílias aderiram aos grupos, mas somente 30% conseguem acompanhar as mensagens. Nas redes sociais, de acordo com Costa, o acesso também é reduzido devido ao plano pré-pago, que oferece internet limitada, impedido as famílias de enviarem mensagens, ainda que, na Ventosa, 90% das famílias tenham smartphones e 60% tenham aparelhos smart TV. Além disso, como informou a professora, somente 20% dessas famílias têm acesso a computadores, notebooks ou tablets em suas residências. Desta forma, ela sugeriu que sejam feitos empréstimos de computadores para esses alunos pela Prefeitura.
O presidente da Central Única das Favelas de Minas Gerais (Cufa Minas), Francislei Henrique Santos, também sugeriu que a Prefeitura firme parceria com a iniciativa privada para a disponibilização de internet em pontos variados da cidade. A estudante de Ciências Sociais na Região de Venda Nova Emily Prado do Valle salientou que a Prefeitura instalou rede móvel em 63 locais da capital; entretanto, em Venda Nova, com 245 mil habitantes, existem somente três locais de acesso. Já o morador do Aglomerado da Serra Marcelo José Ferreira contou, por sua vez, que na região a fibra ótica é uma realidade distante, já que lá a internet é via cabo de telefone, de difícil acesso. Para ele, há falta de interesse das operadoras de chegarem até as comunidades.
Cultura e Assistência Social afetadas
A produtora cultural e integrante da Secretaria Executiva do Fórum de Juventudes, Joana Arllen Almeida Gonçalves, mencionou a pluralidade de juventudes em Belo Horizonte e, em contrapartida, a ausência de conexão de internet destinada à divulgação de produções artísticas nos espaços urbanos, como as praças da cidade, em ocupações e periferias. A estudante e integrante do Movimento Periferia Criativa, Ana Amélia Peixoto, reforçou que a área da Cultura parou de funcionar na pandemia e que os artistas precisam ter acesso a uma internet de qualidade, para a produção de lives, por exemplo.
Outra consequência da falta de internet gratuita nas comunidades, apontada por Peixoto, é a dificuldade de cadastramento online para recebimento de benefícios, como o auxílio emergencial. A estudante citou, ainda, a dificuldade de acesso da população aos Centros de Referência em Assistência Social (Cras) de BH pela internet, já que estes encontram-se fechados. Por fim, Peixoto lembrou que estão se aproximando as provas do Enem e que os estudantes não têm acesso à internet para realizarem seus estudos.
Conquistas e desafios
Salientando que BH é a cidade com mais pontos gratuitos de acesso à rede mundial de computadores no Brasil, o diretor-presidente da Prodabel, Leandro Moreira Garcia, informou que entre 2016 e 2017 36 locais da capital contavam com internet gratuita; hoje são 642 pontos, sendo 103 destinados a vilas e favelas. O gestor comunicou sobre renovação de convênio com o Ministério de Ciência e Tecnologia, a fim de oferecer melhor infraestrutura a vilas e favelas, com internet gratuita de qualidade.
Destacando a evolução quanto à qualidade do acesso nesses pontos, largura de banda por onde trafega a rede gratuita e quantidade de pontos, Garcia falou, ainda, sobre programa de inclusão digital, com a formação de programadores. Segundo ele, em 2016 foram formadas 500 pessoas e atualmente esse número saltou para 10 mil. Ele informou também que a capital mineira é a única com internet instalada em instituições de longa permanência de idosos (ILPIs), somando, ao todo, 28 instituições. De acordo com a Prodabel, Belo Horizonte é a cidade com maior número de telecentros ativos no país (302); e todas as escolas da capital estão ligadas em fibra ótica, com pelo menos um ponto de wi-fi.
Já o ex-presidente da Prodabel, Gustavo Torres, destacou que, com a pandemia, todas as empresas modificaram sua forma de funcionamento no que se refere a tecnologias digitais, mudando a dinâmica e as formas de acesso à internet nos espaços urbanos da capital. Sugeriu, portanto, a reorganização da base de dados (geoprocessamento) da Prefeitura referente a essas populações, possibilitando, assim, a solução de problemas de infraestrutura e acesso, que demandam investimentos públicos. Torres reafirmou, também, a necessidade da compra e distribuição de computadores nas periferias da cidade.
A Comissão avaliou que, mesmo que BH conte hoje com 1.100 km de fibra ótica, o restante da cidade demanda a ampliação do serviço. A Prodabel afirmou, por sua vez, que tentará aumentar o tempo de internet gratuita, disponibilizado hoje a vilas e favelas.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional