Revitalização de campo de futebol no Dona Clara segue ainda sem definição
PBH diz que busca parcerias para concessão. Parlamentares e comunidade cobram celeridade para espaço que sofre com abandono
Foto: Bernardo Dias/CMBH
Espaço para criação de cavalos, moradia irregular, lixo e mato. Assim foi descrita a situação do Campo São José Operário por moradores e representantes de associações esportivas do Bairro Dona Clara. As queixas foram apresentadas durante audiência pública realizada na manhã desta quarta-feira (4/10), pela Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo. Solicitado por Marcela Trópia (Novo) e Cleiton Xavier (PMN), o encontro teria o objetivo de ouvir da Prefeitura como será feita a revitalização do espaço. A audiência, entretanto, frustou os participantes, já que o Município afirmou que ainda não tem um projeto para o local. O Campo São José Operário está inserido na área do Parque Dona Clara; pleiteada pela comunidade e conquistada no Orçamento Participativo de 2010, a unidade acabou no abandono, tanto o parque quanto o campo. Segundo a representante da Prefeitura, já há um consenso de que as medidas da várzea serão mantidas; novo leiaute para a revitalização deve ser proposto, mas ainda não teria sido encontrado um parceiro para seguir com o novo projeto. Parlamentares reclamaram da demora para uma solução definitiva e da não participação presencial dos representantes da PBH, que online não chegaram a abrir suas câmeras de vídeo quando se manifestaram.
Cavalos, ocupação e insegurança
Segundo Marcela Trópia e Cleiton Xavier, a audiência é fruto de uma visita técnica já realizada ao local, onde foram constatados diversos problemas de falta de manutenção e abandono.
Rafael Lopes é morador vizinho ao Campo São José Operário e contou que a principal preocupação da comunidade é quanto à segurança do local: “Temos moradores de rua ocupando as margens da várzea. Temos criação de cavalos, casas sendo invadidas na região e há um comércio de algo que não sei o que é, nem sei se é entorpecente”.
O Campo São José Operário é um espaço antigo da região, com mais de 40 anos de existência, e moradores de outros bairros como Guarani, Aeroporto e Jaraguá sempre disputaram ali partidas de futebol. Em 2010, a comunidade local conquistou no OP uma intervenção para que fosse implementado um parque. A obra foi concluída em 2013, mas, segundo os moradores, o parque teria durado apenas dois anos, já que a associação que defendeu a sua construção deixou de contribuir na gestão do espaço.
Várzea Viva e gestão pública
Carlos Alves Rocha, que tem um projeto esportivo no Bairro Guarani, contou que os valores que foram destinados para a manutenção do campo foram retirados e desde então o espaço sofre com o abandono. O treinador, que vê no campo uma alternativa para o desenvolvimento de atividades para crianças e adolescentes, acredita que o ideal seria a implantação do projeto Várzea Viva, no qual um agente privado, por meio de concessão, assume a gestão do campo. “Se o futebol sair de lá, vai virar tudo ocupação. A PBH diz que não pode mexer por causa do OP. Então é preciso desvincular o campo do projeto do parque. Assim, o empresário pode adotar e investir”, defendeu.
Para os dirigentes da Associação Esportiva São José Operário, entretanto, a gestão nas mãos da iniciativa privada deve ser a última opção e o ideal é que o Município assuma o controle, juntamente com uma associação.
Walterlino Gomes, que é treinador e marcador de campo, integra a associação e contou da dificuldade de se conseguir um espaço público para a disputa de jogos. “Eu estou lá todo fim de semana. Chego às 7h e saio tarde e não tem ninguem para ajudar. Saio com a mão toda cortada de cal de tanto marcar campo. Se eu parar, o trabalho todo para”, afirmou, lembrando ainda que os campos particulares cobram entre entre R$ 600,00 e R$ 700,00 o aluguel e muitos não têm como pagar.
Futebol feminino
Varos Voiski é presidente da Associação Ascob Pampulha e contou que à época da implantação do parque foi contra o pleito, mas acabou sendo voto vencido. O dirigente, que também defende que a gestão seja pública, pois acredita que mais tarde os custos podem recair sobre os usuários, acredita que um bom uso para o São José Operário seja a promoção do futebol feminino. “O futebol feminino está crescendo muito e não temos locais seguros para elas. (lá) Tem uma base da polícia, metrô e o ponto final de uma linha de ônibus. Então seria muito interessante que o local abrigasse todos os jogos femininos da cidade”, afirmou.
Indefinição e indignação
Mas se as sugestões de usos são diversas, por parte da Prefeitura a indefinição ainda segue. Segundo Verônica Campos Sales, da Diretoria do Orçamento Participativo, do Gabinete do Prefeito, o Parque Dona Clara ainda não tem um projeto de revitalização pronto e o Município segue buscando um parceiro. “Hoje já sabemos que as dimensões do campo serão mantidas e buscamos uma modelagem que tenha concessão ou parceria para atender os moradores da comunidade. Se não conseguirmos uma pareria que respeite tudo isso, a opção será a própria PBH assumir a gestão e será um esforço grande”, afirmou.
Questionada se não haveria a possibilidade de desvincular o campo do parque, a dirigente afirmou que não são duas coisas diferentes, e o que há é o Parque Dona Clara e na suas dependências o campo de futebol.
Participando de forma virtual, a coordenadora da Regional Pampulha, Neuza Fonseca, e o representante da Fundação de Parques Municipais Fábio Silveira concordaram com a fala de Vêronica. Fábio ainda contou que semanalmente são feitas manutenções com realização de roçada e recolhimento de resíduos no campo.
A vereadora Marcela Trópia, entretanto, não gostou do retorno dado pelo Executivo. A parlamentar cobrou transparência da Prefeitura e questionou Verônica sobre a utilidade da reunião, já que a data foi acertada com ela, mas que nada foi apresentado. “Estou me sentindo muito desrespeitada. Marquei essa data com você. Eu pedi 30 dias e você pediu de 40 a 45 dias. Aí a gente faz a audiência para você dizer que o projeto está sendo gestado. Isso eu já sabia. A mesa está aqui com todos os representantes da comunidade e os lugares de vocês estão vazios. Poderiam avisar que não havia projeto e a gente desmarcava a audiência”, afirmou, queixando-se ainda de que os representantes do Executivo sequer abriram suas câmeras de vídeo ao se manifestarem.
A representante do OP se desculpou pela câmera, justificando que os computadores da PBH não contam com o dispositivo. Marcela então respondeu que irá fazer uma indicação à Prodabel para que os equipamentos sejam adquiridos.
O vereador Cleiton Xavier também se disse decepcionado com a reunião. Segundo o parlamentar, que cobrou o estabelecimento de datas, prazos e cronogramas, ele sai da reunião ‘sem uma resposta para os moradores’ quando for abordado no bairro, já que mora em rua adjacente ao campo. Cleiton Xavier ainda disse que não vê semanalmente a presença da Fundação de Parques no local e lembrou que a morosidade vai impedir que sejam feitas, ainda neste anos de 2023, indicações de emendas parlamentares. “Não iríamos contribuir com todo o valor do projeto, mas queríamos fazer destinações para melhorias e agora não teremos mais tempo”, afirmou.
Antes de encerrar a reunião, os parlamentares definiram como encaminhamento o agendamento de uma reunião com as associações locais, a Secretaria Municipal de Esportes e a Fundação de Parques Municipais para que as associações possam apresentar agentes privados que estariam interessados em investir no campo.
Assista à íntegra da reunião.
Superintendência de Comunicação Institucional