Moradores e comerciantes concordam com fechamento de meia pista aos domingos
Estudo em andamento, testes operacionais e diálogo com envolvidos definirão horários para fechamento. Ciclistas anseiam pela medida
Foto: Karoline Barreto/CMBH
Um acidente que ceifou a vida de mais um ciclista na rodovia BR-040, entre BH e Nova Lima, no dia 1º de abril, reforçou o pedido de fechamento de uma das faixas da Av. Otacílio Negrão de Lima, no entorno da Lagoa da Pampulha, para a prática do ciclismo. A demanda, trazida à Câmara por entidades que representam o segmento, foi acolhida e levada à Prefeitura pelo presidente da Casa, Gabriel (sem partido). Para dar andamento à questão, a Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços reuniu envolvidos e interessados, na quinta-feira (29/6), para ouvir opiniões acerca do melhor modelo a ser adotado. Ciclista e frequentador da orla, o requerente da audiência, Jorge Santos (Republicanos), garantiu que o fechamento não será “empurrado goela abaixo” e nem “da noite para o dia”, e as decisões sobre horário e outras condições não serão tomadas sem a participação da comunidade. Os representantes da Prefeitura informaram que, além do estudo técnico de viabilidade que já está em andamento, a implementação será precedida de testes para avaliação dos impactos. No final, concluiu-se que todos os participantes da audiência são favoráveis à medida e que é possível conciliar interesses sem que ninguém seja prejudicado.
Praticante de ciclismo na orla da Pampulha, Jorge Santos declarou conhecer de perto as dificuldades enfrentadas por atletas e outros frequentadores do local e recapitulou algumas das demandas intermediadas e conquistadas por ele, como melhorias na sinalização da ciclovia, travessias elevadas para pedestres e implantação de sanitários públicos, além da limpeza das águas da Lagoa, tema de CPI da qual é titular. O vereador relatou o empenho do presidente da Casa, Gabriel (sem partido), que, chocado com as recentes mortes de ciclistas nas estradas que cortam a cidade, abraçou a demanda da categoria e se dispôs a pressionar a Prefeitura para que uma das pistas da Avenida Otacílio Negrão de Lima seja fechada, pelo menos aos domingos e feriados. O objetivo é que os ciclistas tenham onde pedalar com segurança e a população possa utilizar o espaço para prática de atividades físicas e de lazer. A cobrança do fechamento foi reafirmada em audiência pública, no dia 18 de maio, também requerida por Santos, que reuniu ciclistas e autoridades municipais.
Durante a audiência, Jorge Santos reforçou que a medida será, sim, adotada, e que nem ele nem Gabriel pretendem voltar atrás, contudo, o fechamento não será imposto “na marra” nem implantado da noite para o dia. Santos garantiu que nada será decidido sem que todas as partes sejam ouvidas e se chegue a um consenso que concilie da melhor maneira possível os diferentes interesses e desejos. A presente audiência pública, inclusive, foi promovida com a finalidade de dar voz aos interessados no tema, explicou o parlamentar, que sugere o fechamento no sentido horário da via, em toda sua extensão, entre 4h e 12h. Nas primeiras horas, os pelotões de ciclistas de alta performance, que pedalam em velocidades de até 40km/h, poderiam treinar sem dividir a pista com veículos motorizados e pedestres. A população que frequenta o espaço para o lazer, segundo ele, costuma chegar mais tarde, entre as 8h e as 9h.
Espaço de todos
Integrante da CPI da Lagoa da Pampulha, Braulio Lara (Novo) lamentou a “quantidade de agressões” sofridas pelo patrimônio nos últimos tempos e reiterou a importância da priorização da Lagoa da Pampulha, mantendo-se a integração com a comunidade local nas decisões que envolvem a região. Presidente da Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços, Lara considerou que o fechamento é positivo para todos, desde que precedido da devida avaliação, para que a população possa usar o espaço com segurança, sem atrapalhar quem precisa passar. Para ele, apesar da inevitável demanda de trabalho e gastos, a medida deve ser olhada com bons olhos pelo poder público. “Não queremos mais mortes na estrada, e, no que depender da Casa, vamos cobrar a atenção à Lagoa, pois tudo está deixando a desejar”, afirmou.
Comerciantes temem prejuízos
Comerciantes da orla da Lagoa, a maioria do ramo de aluguel de bikes e venda de lanches, demonstraram preocupação com a medida, temendo que a impossibilidade de acesso e dificuldades de estacionamento resultem em redução de até 50% do movimento, como ocorre nos dias em que a Prefeitura autoriza o fechamento de trechos da orla para a realização de corridas de rua por entidades privadas, gerando prejuízos financeiros. Eles receiam que, com a medida proposta, o problema passe a ocorrer em todos os fins de semana e feriados. “Não fomos comunicados sobre o que será feito, sabemos apenas o que se ouve falar e o que se comenta nas redes sociais”, protestou Maria Josiane, da Marco Zero, citando vários outros estabelecimentos que também são prejudicados.
Rodrigo, da Bike Mania, Agnaldo, da Mil Bike, e Carla, da Bike Pampulha, reforçaram que o fechamento de trechos prejudica o comércio na via de forma desigual e lembraram que a dificuldade de circulação e estacionamento prejudica também a rede hoteleira, bares e restaurantes, atrapalhando o turismo no principal ponto turístico de Belo Horizonte. Os comerciantes destacaram que também são responsáveis por proporcionar lazer, saúde e entretenimento, contribuindo para o PIB da cidade. Eles tabém defenderam a participação da categoria e a busca de um consenso na definição do horário e duração do fechamento, que consideraram muito extenso. Comerciantes que alugam biciletas afirmaram que apóiam os ciclistas, oferecendo-lhes água, sucos e lanches.
Jorge Santos ponderou que, nas corridas, as duas pistas são fechadas, enquanto o modelo que está sendo proposto prevê a interdição de apenas uma, mantendo a circulação em mão única, em toda a extensão da Avenida. A medida, segundo ele, aumentará o fluxo de pessoas na orla, o que, juntamente com o maior policiamento e fiscalização, deverá beneficiar o comércio. “Independente do que for decidido, o que já acontece continuará a acontecer, como as corridas, que também excluem os ciclistas da via”, pontuou. “Queremos que o local possa ser usado para a prática segura do esporte e também como área de lazer, sem atrapalhar ninguém”.
Reivindicação dos ciclistas
Representando “a galera do ciclismo”, Gu da Bike lamentou os altos índices de acidentes e atropelamentos e recapitulou a luta “gigante” da categoria, especialmente nos últimos anos, por mais espaços para circular com segurança. O ativista questionou o contraste entre a falta de mobilização dos moradores contra as corridas e o “alvoroço” contra o fechamento de meia pista da orla no sentido horário para os ciclistas. “Só queremos pedalar na Pampulha. Não só queremos como iremos”, anunciou, ressaltando, no entanto, que o grupo prefere o consenso ao caos. “Temos nossas propostas e queremos que sejam consideradas. Não aceitamos mais morrer e ser mutilados nas estradas”, protestou, apontando que, com a devida educação e orientação dos usuários, ninguém será prejudicado.
Cristiano Scarpelli, do canal Ciclo-rotas BH e do movimento ‘Mais Luta, Menos Luto’, Cleyder Bahia, que representa os ciclistas na Comissão de Enfrentamento à Violência no Trânsito da OAB, e Pedro Gomes, do Pelotão 555, também defenderam o fechamento, adotado com sucesso em diversas capitais e em outras avenidas de BH, e a promoção de campanhas educativas para a convivência saudável, garantindo espaço e segurança para todos. Segundo eles, a Pampulha é o local mais adequado para o ciclismo em BH e reservar metade da orla para praticantes do esporte nas primeiras horas da manhã nos domingos e feriados não vai alterar a dinâmica da via. Para embasar a afirmação, Scarpelli citou contagens realizadas pelo canal entre 9h e 10h da manhã, próximo ao Museu de Arte, que constataram um número quatro vezes maior de ciclistas e pedestres que de veículos motorizados. Para ele, o fechamento poderia ser até às 14h, como ocorre nos outros pontos da cidade
Caos e acidentes
Presidente da Associação de moradores dos Bairros São Luiz e São José, que concentram os principais equipamentos esportivos e turísticos da Pampulha, Mary Oliveira descreveu os transtornos enfrentados pelos moradores em dias de grandes eventos, como caos no trânsito, estacionamento irregular, desrespeito e furto de equipamentos de sinalização. Ela discordou das críticas feitas à suposta omissão da Polícia Militar, testemunhando os esforços da corporação para controlar o que chama de “caos” na orla e nas vias adjacentes. A líder comunitária negou que haja hostilidade dos moradores em relação aos ciclistas que, segundo ela, são muito bem vindos, e defendeu o diálogo como forma de conciliar os usos do espaço sem necessidade de confronto.
Ela apontou a falta de educação e respeito ao espaço do outro como a principal causa do alto índice de acidentes que ocorrem todos os finais de semana. Assegurando que o fechamento de meia pista é visto com bons olhos pela comunidade, ela ponderou que é preciso considerar questões específicas de alguns trechos da orla onde não há alternativas de acesso e circulação por vias internas, como nas proximidades do Jardim Zoológico. Em seu entendimento, é necessário um período de testes de, no mínimo, três meses antes da implantação definitiva da medida. Assim como os comerciantes e ciclistas, ela reforçou a importância da correta demarcação e sinalização dos espaços pelo poder público e efetiva fiscalização para garantir a segurança de todos.
Estudo em andamento
“A população precisa entender importância da bicicleta na cidade, não só para o esporte e lazer, mas para a mobilidade urbana”, defendeu a coordenadora de Sustentabilidade e Meio Ambiente da BHTrans, Eveline Prado Trevisan. A gestora agradeceu a Câmara pela destinação de recursos para a realização de campanhas educativas e informou que estão sendo desenvolvidas ações nesse sentido em parceria com a Unimed, que opera bikes compartilhadas na orla. A coordenadora de atendimento da Regional Pampulha, Neusa Fonseca, e o gerente de Ação Regional, Anderson Leal, declararam-se favoráveis à medida e reafirmaram a disposição de ouvir, apoiar e encamihar as demandas da comunidade. Representando a Superintendência de Mobilidade de Belo Horizonte, Artur Oliveira, informou que o estudo técnico solicitado pela Câmara está em andamento e a operacionalização será orientada por simulações e testes.
Consenso e diálogo
Ao final, superadas as dúvidas e receios iniciais, foi constatado que há um consenso dos participantes em relação à medida, faltando apenas negociar os horários e condições que atendam melhor a cada um sem prejudicar os demais. Jorge Santos confirmou que a ideia inicial é fechar meia pista, no sentido horário, aos domingos e feriados, das 4h às 12h, o que não significa que será dessa forma, e garantiu que as considerações e sugestões serão levadas em conta. Assim que o estudo técnico estiver concluído, todos serão comunicados e chamados para uma nova audiência com a presença da PBH e do presidente da Câmara, se possível, na própria comunidade, para avaliar e debater os resultados. Na sequência, serão marcadas datas para os testes in loco, que vão verificar, na prática, a viabilidade do modelo
Superintendência de Comunicação Institucional