Pesquisa da Fiocruz sobre insegurança alimentar na pandemia será apresentada
Acesso a alimentos foi prejudicado. Diminuição da renda e aumento dos preços estão entre as causas
Foto: Tony Winston/Agência Brasília
Pesquisa do Instituto Data Favela mostra que 68% dos moradores de favela não tiveram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas duas semanas anteriores ao levantamento de dados ocorrido em fevereiro deste ano. O estudo mostrou que o número de refeições diárias dos moradores caiu de uma média de 2,4 em agosto de 2020 para 1,9 em fevereiro de 2021. Diante desse cenário, a Comissão de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Defesa do Consumidor realizará nesta segunda-feira (29/11), às 13h30, no Plenário Helvécio Arantes, reunião com convidados para tratar o tema "insegurança alimentar de mulheres e suas famílias no contexto da pandemia no Brasil", assunto que está sendo pesquisado pela Fiocruz Minas em parceria com outras instituições. Foram entrevistadas pela Fundação Oswaldo Cruz mulheres de dois aglomerados urbanos e de duas comunidades quilombolas. Requerida por Bella Gonçalves (Psol), Iza Lourença (Psol) e Pedro Patrus (PT), a reunião, que é vinculada ao Grupo de Trabalho sobre Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional do Município de Belo Horizonte, contará com a presença de pesquisadores da Fiocruz Minas, que apresentarão resultados de seus estudos, e de uma liderança comunitária do Aglomerado Cabana do Pai Tomás.
Durante a reunião, deverão ser apresentados os achados de pesquisa da Fiocruz Minas que entrevistou mulheres de dois aglomerados urbanos - Cabana do Pai Tomás (na Região Oeste de Belo Horizonte) e Sapopemba (na Região Leste de São Paulo, capital) - e de duas comunidades quilombolas do Vale do Jequitinhonha: Córrego do Rocha, localizada na Chapada do Norte, e Córrego do Narciso, na cidade de Araçuaí. Durante a pesquisa, foram entrevistadas 45 mulheres, sendo 16 do aglomerado Cabana do Pai Tomás, 15 de Sapopemba, seis de Córrego do Narciso e oito de Córrego do Rocha. Dessas, 22 se identificaram como negras (pardas ou pretas), 14 quilombolas, uma indígena e oito brancas.
Conforme relatório da Fiocruz elaborado por pesquisadores que participarão da reunião, estudos anteriores à pandemia já demonstravam que, no Brasil, a insegurança alimentar estava mais presente em domicílios de baixa renda, em áreas rurais, nos quais a pessoa de referência é uma mulher, negra e com baixa escolaridade. Pesquisas no contexto da pandemia reforçam que o padrão continua. Ainda de acordo com o relatório da Fiocruz, a maioria das mulheres entrevistadas (61%) para a pesquisa relatou que o acesso aos alimentos foi prejudicado pela pandemia. A diminuição da renda e o aumento dos preços dos alimentos foram apontados como as principais causas desse problema.
Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar
De acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, em 55,2% dos domicílios brasileiros os habitantes convivem com insegurança alimentar, o que representa um aumento de 54% desde 2018, quando o percentual de domicílios com insegurança alimentar era de 36,7%. Atualmente, 116,8 milhões de brasileiros estão sem acesso permanente a alimentos, sendo que 43,4 milhões (20,5% da população) não contam com alimentos em quantidade suficiente, configurando situação de insegurança alimentar moderada ou grave, e 19,1 milhões (9% da população) estão passando fome, o que gera situação de insegurança alimentar grave.
A piora dos indicadores sociais do país também se faz presente em Belo Horizonte. Dados do CadÚnico do Ministério da Cidadania referentes a janeiro de 2021 mostram que cerca de 80 mil famílias vivem em situação de pobreza e extrema pobreza no município. Além disso, praticamente 10% da população têm acesso precário ou nenhum acesso à alimentação diária.
Convidados
Apesar de a segurança alimentar ser elemento fundamental à garantia dos direitos humanos, a falta de acesso à alimentação, conforme os dados apresentados, tem se tornado um problema cada vez mais presente no Brasil e na capital mineira. Diante desse cenário, a insegurança alimentar de mulheres e suas famílias no contexto da pandemia será discutida pela pesquisadora da Fiocruz Minas e professora do curso de Pós-Graduação em Saúde Coletiva na mesma instituição e do mestrado profissional em Educação e Docência (Promestre) na UFMG, Denise Nacif Pimenta; pela pesquisadora da Fiocruz Minas, mestre e doutora em Sociologia pela UFMG, Brunah Schall; pelo doutor em História pela UFMG e professor do Departamento de Ciências Sociais e Filosofia do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG), Bráulio Silva Chaves; pela pesquisadora da Fiocruz Minas Mariela Rocha; e pela líder comunitária do Cabana do Pai Tomás Lúcia Helena Apolinária.
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