Sindicatos reivindicam testagem e vacinação amplas e condições para teletrabalho
Categoria protesta contra corte de ponto e omissão da PBH, que recusa diálogo; vereadoras criticam divulgação de dados incorretos
Foto: Abraão Bruck/CMBH
A proteção da vida dos profissionais da educação, estudantes, famílias e população em geral foi o principal motivo alegado pelos sindicatos de professores da rede pública e privada que debateram os impactos da greve da categoria nesta quinta-feira (13/5) em audiência pública da Comissão de Educação, Cultura, Ciência, Tecnologia, Desporto, Lazer e Turismo. Além da ausência de testes, vacinas e monitoramento de casos pela Prefeitura, também foram citados problemas estruturais das escolas, equipamentos de proteção individual impróprios e falta de estrutura para as interações remotas. O SindRede foi criticado por divulgar casos de contágio não confirmados, assustando as famílias. A recusa ao diálogo por parte da Secretária de Educação, que novamente não atendeu o convite, foi lamentada por todos os participantes.
Requerido por Iza Lourença (Psol), alinhada com o posicionamento dos sindicatos, o encontro reuniu as diretoras do Sindicato dos Profissionais de Educação da Rede Pública Municipal (SindRede), Evangely Rodrigues e Vanessa Portugal, a presidente do Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro-MG), Valéria Morato, e as vereadoras Marcela Trópia (Novo), presidente da Comissão, Flávia Borja (Avante), Macaé Evaristo (PT) e Professora Marli (PP), titulares do colegiado. A ausência, mais uma vez, da secretária Ângela Dalben foi lamentada por todas e considerada como um desrespeito aos profissionais do setor, à Câmara, às famílias dos alunos e à população da cidade.
Dando início ao debate, o SindRede defendeu a legitimidade da greve quando há recusa de negociação e esclareceu que o principal objetivo do movimento é salvar vidas, o que o torna o mais importante da história da categoria. Considerando uma “irresponsabilidade” a reabertura neste momento de agravamento e descontrole da pandemia, com mais casos e óbitos do que os registrados na ocasião do fechamento e sob ameaça de uma terceira onda, elas relataram que a entidade já recebeu várias denúncias de trabalhadores, crianças e familiares contaminados ou com suspeita, e que 90% das famílias não querem levar os filhos à escola. A atitude agressiva e injusta da Prefeitura de cortar o ponto dos profissionais que não comparecerem presencialmente, dificultando ainda mais sua situação econômica que já é precária, também foi alvo de críticas.
Vanessa e Evangelis mencionaram ainda a ineficiência dos protocolos adotados, a baixa qualidade das máscaras fornecidas e a impossibilidade de garantir o cumprimento das normas, especialmente por crianças menores, que têm mais contato físico com educadoras e coleguinhas, e o trânsito de professores por todas as “bolhas”. Segundo as sindicalistas, não cabe comparar o Brasil com outros países porque as condições estruturais e sociais daqui são bem piores, e entidades nacionais sérias como a Fiocruz não recomendam a volta. Elas defenderam ainda o fechamento de outras atividades e a concessão de auxílio emergencial e renda mínima para os mais vulneráveis.
Ensino remoto
Valéria Morato, do Sinpro-MG, que representa os docentes da rede privada, corroborou as afirmações dos sindicatos da rede pública do Município e do Estado e também destacou as dificuldades de professores e alunos para interagir e desempenhar as atividades remotas, mas também defendeu a continuidade do modelo enquanto a pandemia não estiver controlada. Fazendo coro com as colegas, ela reivindicou a instituição de diretrizes e políticas públicas que garantam o acesso, a participação e a permanência dos estudantes nas atividades educativas sem expor a si e à comunidade escolar a riscos, evitando a perda de mais vidas.
Macaé Evaristo defendeu a priorização da saúde e da vida dos profissionais neste momento, concordou com as falas das sindicalistas e reforçou as críticas ao Termo de Responsabilidade assinado pelas famílias no qual declaram ter ciência dos riscos e garantir o cumprimento das normas impostas a elas e às crianças, considerando inaceitável que o poder público transfira sua responsabilidade e a obrigação de detectar e rastrear a doença e proteger a comunidade.
Questionamentos
Lembrando que sempre cobrou transparência da Prefeitura sobre os números e a gestão da pandemia, as políticas adotadas e sua execução, objeto de projeto de lei de sua autoria, e a ampla vacinação da categoria, Marcela Trópia reafirmou sua defesa do retorno seguro, gradual, híbrido e facultativo dos alunos às escolas. E salientou os danos que a suspensão das atividades por mais de um ano causarão às crianças e adolescentes por muitas décadas, especialmente em razão da evasão escolar, da perda de janelas de aprendizado e do agravamento dos problemas já existentes antes da pandemia.
Trópia lembrou que os profissionais do setor já foram incluídos entre os grupos prioritários e que, segundo o Ministério da Educação, a vacinação da categoria terá início em junho. Diante disso, ela indagou às sindicalistas se a greve vai ser encerrada após a imunização ou se a vacinação de todas as crianças e de toda a população será exigida como condição para voltar ao trabalho, contrariando orientações da Unesco e da Unicef.
Os debates públicos promovidos desde fevereiro pela comissão foram destacados por Flávia Borja, que destacou a importancia da escuta e da consideração das diferentes opiniões e pontos de vista, o que facilita a busca de entendimento e de consensos. A vereadora reafirmou que sempre foi a favor da reabertura, o que nunca escondeu de ninguém, e classificou a greve como “absurda”, considerando que o retono às aulas já estava programado e que os trabalhadores da educação foram os únicos poupados durante todo o período. Professora Marli (PP) afirmou que todas as posições e argumentações apresentadas são válidas e os dois “lados” compartilham objetivos e interesses de fortalecer a educação como atividade essencial e garantir acesso e qualidade para os jovens de BH. Sua posição pessoal, no entanto, é que “lugar de criança é na escola, onde recebe proteção, cuidados, alimentação”.
Divulgação de “fake news”
Outra questão levantada por Marcela Trópia foi a utilização de carros de som pelo SindRede para percorrer as comunidades noticiando números de contaminações e mortes e o alto risco para crianças e famílias com o retorno às aulas. Segundo ela, muitas das denúncias e suspeitas de contágio são falsas ou não foram confirmadas e sua divulgação configura a prática de “fake news”, além de gerar terror nas pessoas. As diretoras do sindicato afirmaram que a utilização de carros de som é instrumento de comunicação legítimo e usado em todos os movimentos para informar à população sobre suas causas e objetivos. Negando as acusações de divulgar “fake news” e de querer assustar a população, elas defenderam a atuação do sindicato como canal de recebimento de denúncias e comunicação de ocorrências de contágio, de sintomas suspeitos e de contato com pessoas infectadas.
As sindicalistas admitiram que alguns relatos recebidos não são verdadeiros ou não se confirmam, sendo então separados e notificados à imprensa, mas asseguram que a ampla maioria dos casos são confirmados ou não são desmentidos. Além disso, segundo elas, não existe nenhum instrumento público da Prefeitura para informar e alertar as comunidades sobre a situação da pandemia em sua região ou nas escolas de seus filhos. Trópia insistiu que números não comprovados ou dados falsos configuram “fake news” e sua divulgação é uma “decisão muito grave” da entidade.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional