Próxima edição do FAN, prevista para novembro, foi discutida em audiência
Participantes cobraram investimentos no festival, descentralização, melhor acesso e divulgação
Foto: Cláudio Rabelo/CMBH
O Festival de Arte Negra (FAN-BH), evento bienal que teve sua primeira edição em 1995 e se dedica à valorização e à difusão da arte de matriz africana, foi tema de discussão na Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura, Desporto, Lazer e Turismo, nesta quinta-feira (27/5), durante audiência pública. Artistas, produtores e estudiosos da arte negra se reuniram com parlamentares e representantes do Poder Executivo para debater aprimoramentos no festival, que, neste ano, deverá acontecer em novembro, com programação on-line e, se as condições sanitárias permitirem, também presencial. Foram sugeridas ao Executivo maior antecedência na definição da divulgação do festival, descentralização das atividades, ampliação do acesso, valorização do caráter internacional do festival, bem como sua utilização para a valorização e profissionalização de artistas emergentes. A vereadora Macaé Evaristo (PT), que solicitou a audiência, cobrou que os recursos da cultura negra na cidade não sejam contingenciados e propôs a realização de círculos de cultura participativos de modo a ampliar o envolvimento na elaboração e realização do FAN.
Evandro Nunes, que é doutorando em Educação, cobrou mais investimentos no FAN para que o festival possa efetivamente cumprir seu papel de evento internacional, inclusive, com a ampliação do tempo para a construção da programação. De acordo com ele, o ideal é que ao final de cada edição já tenham início as conversações para a preparação da próxima. Além disso, Evandro Nunes cobrou transparência na composição da curadoria e envolvimento das demais secretarias municipais na construção do festival. O doutorando também solicitou que seja valorizada a memória do FAN com a realização de exposições de fotografias com registros das diversas edições do evento nos centros culturais, bem como a criação de subcoordenações para ampliar a participação nas decisões relativas ao festival. Outro ponto levantado por Evandro Nunes foi a necessidade de criação de oficinas de aperfeiçoamento artístico que envolvam também a periferia da cidade. Ele também cobrou que a acessibilidade à programação seja garantida por meio da disponibilização de ônibus aos espaços do festival, de modo a assegurar que moradores de diversas regiões da cidade possam participar.
Divulgação e participação
A realização de uma conferência municipal para se pensar políticas públicas para a cultura negra foi sugerida pela cineasta Cida Reis. Ela também cobrou a elaboração de um diagnóstico da produção cultural da cidade por meio do mapeamento dos projetos inscritos nas diversas edições do FAN.
Etiene Martins, que é mestranda em Educação e Cultura, demandou aperfeiçoamento da divulgação da programação do FAN. Segundo ela, para que isso ocorra, é necessário que a agenda de atividades seja concluída com maior antecedência da data de realização do festival, de modo que as pessoas possam se programar para participar. De acordo com Etiene Martins, se a programação não for definida com a devida antecedência, não há como divulgar o FAN para as nove regionais, nem se consegue que pessoas de outras cidades venham acompanhar o festival. Ela também cobrou que o FAN mantenha sua proposta de ser um festival interacional e solicitou autonomia de trabalho para a curadoria do evento.
O músico, empreendedor social e designer Negro F cobrou maior participação do Hip Hop no FAN por meio da criação do dia do Hip Hop no festival. Ele também defendeu que o poder público crie condições para que a população trabalhadora negra possa participar do evento e demandou esforços para se pensar meios de garantir a profissionalização de artistas emergentes através dos editais do festival.
Mario Cesar, que integra o Coletivo Mestre Conga, cobrou a descentralização do festival para os diversos territórios da cidade e solicitou a inclusão do samba e, especificamente, das escolas de samba no FAN.
Apoio ao FAN
Iza Lourença (Psol) salientou a importância do festival como parte do enfrentamento à discriminação racial na cidade e cobrou que cada vez mais pessoas possam participar da elaboração do FAN de modo que ele venha a ser cada dia mais criativo e descentralizado.
Rubão (PP) fez referência à importância da cultura negra na cidade, citando Djonga, artista de projeção internacional que é de Belo Horizonte, e salientando a colaboração que a Radio Favela dá à cultura negra na cidade. Professora Marli (PP), assim como Rubão, colocou-se à disposição para colaborar com a realização do FAN.
Pandemia e contigenciamento
A secretária municipal de Cultura, Fabíola Moulin Mendonça, afirmou que procura trabalhar o festival com a devida antecedência, mas pontuou que algumas ações não podem ser antecipadas em decorrência de questões relativas à definição da peça orçamentária anual. Ainda segundo ela, a pandemia prejudicou uma maior antecipação da programação do FAN. Além disso, ela observou que haverá um contingenciamento do orçamento do festival em decorrência da necessidade de atendimento às necessidades de saúde e assistência social no contexto da pandemia. Ainda segundo ela, em 2019, a demanda para que os recursos do FAN se igualassem aos recursos do Festival Internacional de Teatro (FIT) foi atingida.
A secretária também destacou que a escolha da zona cultural da Praça da Estação para abrigar o Festival de Arte Negra se dá tanto pela presença de agentes culturais naquele território – do hip hop e do samba – , bem como por seu valor simbólico, uma vez que congrega espaços culturais públicos e privados importantes. Em relação às demandas por descentralização, ela esclarece que são realizadas oficinas nas regionais e aponta que diversos centros culturais receberam programação do FAN em sua última edição, como os centros culturais São Bernardo, Padre Eustáquio, São Geraldo e Urucuia. Ela também informou que a participação de negros e pardos nos editais de cultura da Prefeitura tem se ampliado e afirmou que nestes editais – como BH nas Telas e Multilinguagens – há um esforço para aprovação de projetos de todas as regionais da cidade, de forma a descentralizar o apoio à produção cultural.
Em relação à memória do FAN, a Secretaria Municipal de Cultura informou que tem alocado verba para tanto. De acordo com Fabíola Mendonça, curadores de outras edições do FAN foram convidados para apresentar seus relatos acerca dos eventos realizados desde 1995. Tais relatos foram registrados em vídeo com o objetivo de se garantir a memória do festival.
A Secretaria Municipal de Cultura também aponta que cada vez que um edital de cultura é lançado, a Prefeitura realiza a Caravana da Cultura em diversos centros culturais da cidade, iniciativa por meio da qual são esclarecidas dúvidas dos empreendedores culturais sobre a inscrição de projetos. Ainda de acordo com a Prefeitura, a última edição do FAN contemplou o samba em sua programação com atividades que envolveram, por exemplo, o Samba da Meia Noite, o Simplicidade Samba e o ConverSamba. Conforme a PBH, outro objetivo do FAN é contemplar todas as faixas etárias com programação voltada também para crianças e jovens. A Prefeitura destacou, ainda, que a autonomia da curadoria do FAN é assegurada, não havendo qualquer imposição de artistas pela Fundação municipal de Cultura. Além disso, o Poder Executivo afirmou que a escolha da curadoria conta com a participação da sociedade civil.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional