Dados de site inédito sobre o vírus apontam aumento de casos em BH
Acréscimo coincide com flexibilização; também foram colocados em pauta colapso do sistema de saúde, baixa testagem e subnotificação
Foto: William Delfino/CMBH
Durante reunião realizada nesta terça-feira (30/6) pela Comissão Especial de Estudo – Enfrentamento à Covid-19, por solicitação de Bella Gonçalves (Psol) e Gabriel (Patri), os vereadores receberam Cristiano Martins e Ígor Passarini, que apresentaram uma versão ainda fechada do site coronavirus-mg.com.br, que vem sendo elaborado por eles desde o início de março de 2020, contendo dados diversos sobre a evolução da doença em Minas Gerais, em cidades do interior e Belo Horizonte. São informações como letalidade, panorama completo por cidade, região e microrregião, incidência por 100 mil habitantes e pacientes em tratamento/recuperados. Dentre os temas discutidos durante a apresentação, tiveram destaque o aumento do número de casos depois da flexibilização em Belo Horizonte, a possibilidade de colapso do sistema de saúde, a falta de testagem e a subnotificação.
Cristiano Martins citou que o site coronavirus-mg.com.br tem em torno de 650 mil informações sobre todos os municípios de MG, dados que foram tema de 60 reportagens e de seis estudos acadêmicos. Segundo ele, os números nos levam a crer que houve medidas acertadas em Belo Horizonte (como o isolamento social) e que o pico de contágio foi adiado, mas estaríamos vendo um efeito atrasado, segundo ele, “entre aspas”, de “algo que tende a crescer”. Não sem pontuar: “É bem simbólico que 19 dos 20 maiores registros diários de casos em Belo Horizonte tenham acontecido após a flexibilização do comércio”. Martins também explicou que a análise parte primeiramente da “microrregião de saúde”, porque seria da estrutura dela que dependeriam as regiões vizinhas.
Ele informou que a Secretaria de Estado de Saúde publicou, ontem (quarta-feira, 29) um número de óbitos diário recorde na microrregião de Belo Horizonte, de 22 mortes, elevando os registros a 130 mortos na cidade. “Tivemos três picos grandes [de contágio], todos eles no mês de junho”, afirmou Martins. Ainda de acordo com ele, “demoramos mais de 70 dias para chegar na casa dos 200, 300 óbitos, e hoje estamos chegando a 965 mortes no Estado” (o número teria triplicado em um mês).
Em relação ao número de leitos para UTI do SUS na microrregião de Belo Horizonte, foi informado que há uma oferta de 750 leitos, o que daria 22 leitos para cada 100 mil habitantes. Na região central, que teve um aumento recente do número de casos, em 16 de junho eram 603 leitos livres, enquanto hoje são 201, ou seja, um terço do que havia há três semanas, o que levaria a pensar no descompasso entre a ocupação e a capacidade do governo em criar leitos.
O convidado mostrou, ainda, um gráfico que aponta casos notificados como suspeitos em Belo Horizonte, utilizando a ferramenta governamental e-sus, sistema onde são notificadas todas as síndromes gripais. São 96.855 casos suspeitos em Belo Horizonte, levando ao questionamento sobre a subnotificação e a falta de testagem: “Se a gente fala em cinco mil casos confirmados e em 96 mil notificações, é um questionamento que precisa sim ser feito”. Ele repercutiu a informação de que Minas Gerais é um dos estados que menos testa e levantou questionamento, como o acesso limitado aos testes. Apesar de lembrar que o grupo de prioridade do governo é formado por profissionais da saúde e casos hospitalizados de síndrome respiratória aguda grave, Martins esclareceu que a doença tem níveis e os assintomáticos também podem transmitir o vírus.
Testagem e subnotificação
Igor Passarini falou que o projeto do site, desde o início, buscava abrir os dados “de forma clara, organizada, precisa e pontual”. Ele lembrou que todas as medidas de prevenção e enfrentamento do coronavírus devem ser simultâneas (isolamento social, medidas de proteção pessoal, testagem, notificação, aumento do número de leitos etc) e que em bairros de periferia o número de casos é menor, talvez derivando do menor número de testagens. Também colocou em questão a eficácia dos testes, pois, em muitos casos, seria necessário testar duas vezes, “o que seria inviável”.
Para o vereador Dr. Bernardo Ramos (Novo), Minas Gerais é muito grande e desigual e o aumento da capacidade de testagem reflete no aumento do número de casos. Refutou o que considerou a politização da questão de saúde, lembrando que a responsabilidade pelo combate ao vírus é conjunta, das três esferas. Ele também criticou que “o exame, que poderia ser nossa primeira linha de frente para ajudar nas escolhas, não existe”.
Dados apresentados no site demonstraram a questão da subnotificação: no dia 18 de junho, Belo Horizonte tinha 717 casos confirmados para Covid e 3043 casos de síndrome respiratória não especificada (o que fará com que não se saiba quantos desses casos estão relacionados à doença).
Bella Gonçalves (Psol) elogiou o “trabalho muito consistente de sistematização de dados feito pela sociedade civil” e sugeriu discutir com outras câmaras municipais a questão do “gargalo da testagem”: “A subnotificação dificulta o estabelecimento de uma política consistente”. Ela concordou com Dr. Bernardo que é necessário saber se o isolamento social empurrou a curva ou preveniu o vírus. Mas afirmou que “a flexibilização é responsável pelo aumento do número dos casos de coronavírus, internações e mortes”. A parlamentar também defendeu a ampliação estadual dos leitos e a inauguração do hospital de campanha, que “não tem equipes ainda”, dentre outros problemas, além da “interiorização”, a distribuição de leitos para regiões além da RMBH, como o Vale do Jequitinhonha.
Dados apresentados por Martins expressam a necessidade de ampliação de leitos: informações de até início de junho mostrariam que o governo tinha ampliado em quase 50% a oferta de leitos. Ainda assim, tínhamos, no mesmo período, um total de 2,6 milhões de pessoas vivendo em microrregião sem nenhum leito (29 microrregiões das 89 do Estado não têm leitos). Embora houvesse uma tentativa da Secretaria de Estado de Saúde de descentralizar o atendimento, o colapso chegaria e as pessoas buscariam a capital.
O presidente da Comissão, Gabriel, elogiou o trabalho dos convidados. Assíduo nas redes sociais, afirmou que passará a usar o próprio perfil no Instagram para promover o site. Também informou que levará ao conhecimento da presidente Nely Aquino (Pode) documento de repúdio à não resposta do Poder Executivo a pedidos de informação. Segundo ele, já são 60 pedidos esperando há 30 dias, e mais de 300 desde o início do mandato. “Nenhum, nenhum, sublinho, dos pedidos dessa comissão foi atendido”. A decisão teve o apoio de todos os vereadores.
Participaram da reunião: presencialmente, os vereadores Bella Gonçalves, Gabriel e Fernando Borja (Avante). Remotamente, os vereadores Dr. Bernardo Ramos e Professor Juliano Lopes (PTC).
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional