Cervejaria afirmou intenção de se reunir com as vítimas e negociar auxílio médico
Destacou que não tem confirmação de sua culpa pela intoxicação e afirmou que substância tóxica pode estar em cervejas de outras marcas
Foto: Abraão Bruck/ CMBH
Preocupada com os riscos à saúde pública e com o desamparo das famílias das vítimas, diante da indefinição sobre as cervejas da Backer que estariam, possivelmente, contaminadas por mono e dietilenoglicol, a Comissão de Saúde e Saneamento recebeu diversos representantes dos consumidores atingidos e da empresa de cerveja artesanal para uma audiência pública, na tarde desta quarta-feira (4/3). Os familiares cobraram uma atitude proativa da Backer em assumir a responsabilidade pelo custeio das despesas hospitalares emergenciais. A empresa afirmou que aguarda o desbloqueio de suas contas para avaliar a situação, mas que pretende se reunir com as famílias e negociar um valor. Em sua defesa, a Backer anunciou o resultado de estudos laboratoriais que apontariam a existência das mesmas substâncias tóxicas em cervejas de outras marcas. A empresa afirmou que a simples presença da substância não tornaria o produto impróprio para consumo, sendo necessário avaliar o quantitativo.
“Essas análises e estudos são muito importantes daqui pra frente, para entender o que houve, para reerguer a empresa e prestar contas para todo mundo. Mas não muda em nada a nossa vida”, lamentou Ângela Cotta, contando que seu pai está entre os consumidores intoxicados, há meses internado. “Peço que olhem com carinho pra gente e não nos decepcionem novamente”, destacou Ângela, cobrando da empresa que assuma a sua responsabilidade pela comercialização do produto contendo a substância e auxilie as famílias no atendimento de saúde. Ela contou que tem despesas próximas de R$ 20 mil mensalmente para garantir atendimento ao pai, incluindo acompanhamento de enfermagem, mas não tem condições de manter esse custeio.
Contando o grave estado de seu marido, Eliana Reis também reivindicou um posicionamento ativo da empresa. Eliana relatou que o marido está internado há quase um ano, tomando antibióticos há mais de 330 dias, já teve oito episódios de pneumonia nesse período, tem grandes feridas abertas no corpo, realiza hemodiálise regularmente, já precisou ser reanimado quatro vezes e esteve em coma por 21 dias, tendo convulsões sequenciais por cinco dias corridos. Ela contou que o marido sangrava pelos olhos e que só está vivo porque “ele quer muito viver” e ela passa as noites com ele. Mas alertou para a necessidade de se manter enfermeiros regularmente e atendimentos especializados, que devem ser custeados pela Backer.
“Eu tenho um laudo médico afirmando, com base em exame clínico, que o quadro do meu marido é resultado de exposição ao dietilenoglicol”, afirmou Eliana Reis, contando que seu marido é consumidor cativo da Backer, tendo tomado cerca de nove garrafas diariamente, nos dias que antecederam a sua internação, no início do ano passado.
Advogado de consumidores intoxicados e familiares, André Coutto destacou que “o que as vítimas esperam é que a Backer não se exima de sua responsabilidade”, contando que a empresa já havia recebido ordem judicial para pagamento do custeio das despesas emergenciais, mas esse prazo teria vencido ontem (3/3), sem que a Backer arcasse com os valores. A empresa argumenta que está com contas bloqueadas. As vítimas alertaram para o faturamento de R$ 72 milhões que a empresa teria tido em 2019 e que o bloqueio das contas não impediria o auxílio às vítimas.
Autor do requerimento para a audiência, o vereador Pedro Bueno (Pode) se solidarizou com a dor das famílias e reconheceu a disposição da Backer em se apresentar para o diálogo. O parlamentar contou que a expectativa da audiência era favorecer a aproximação entre a empresa e os consumidores afetados para buscar uma solução conjunta.
Defesa da cervejaria
“Nós fabricamos um produto para proporcionar alegria, e não tristeza. O sofrimento de vocês também me faz sofrer. Não durmo à noite”, afirmou a diretora executiva da Backer, proprietária da marca, Ana Paula Lebbos. “Espero me reunir com cada um de vocês e chegar a um valor” para auxiliar no custeio das despesas médicas, afirmou a executiva.
A equipe técnica e de advogados da Backer compartilhou a informação de que um novo laudo elaborado por análises laboratoriais contratadas pela empresa apontou que existem sinais instrumentais classificados como traços do agente químico monoetilenoglicol em cervejas de outras marcas. Foi explicado que existem estudos preliminares indicando que a própria fermentação da cerveja pode criar um ambiente químico que provoque a presença desses traços instrumentais das substâncias tóxicas.
Nesse contexto, a simples identificação desse agente químico no produto não inviabilizaria o consumo, seria preciso avaliar o volume da substância presente na cerveja, comparando esse número com o volume de consumo para intoxicação. Os advogados afirmaram que esses quantitativos estão sendo apresentados nos processos judiciais, que correm em sigilo.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional