STOCK CAR NO MINEIRÃO

Ambientalistas e parlamentares criticam autorização e pedem mudança do local da corrida

Vizinha do estádio, UFMG também teme impactos dos ruídos sobre animais do Hospital Veterinário, biotérios e Estação Ecológica

terça-feira, 27 Fevereiro, 2024 - 17:45

Foto: Abraão Bruck/CMBH

Defensores do meio ambiente e dos direitos dos animais, parlamentares municipais e estaduais e moradores da região protestaram nesta segunda (26/2) na Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana contra a realização da corrida de Stock Car no entorno do Mineirão. Prevista para agosto, a prova exigirá a supressão de dezenas de árvores e exporá a fauna, o ar e as águas da região a ruídos intensos e resíduos de combustíveis fósseis. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) teme os impactos sobre os animais do Hospital Veterinário, que fica ao lado da pista, dos biotérios e da Estação Ecológica, que abriga espécies ameaçadas de extinção. Os participantes afirmam não ser contra o esporte e o evento, mas questionam a escolha do local das provas e reivindicam a mudança. Requerente do debate, Wagner Ferreira (PDT) anunciou que vai encaminhar formalmente as questões levantadas aos órgãos pertinentes e participará da audiência da Assembleia Legislativa sobre o tema, nesta quinta-feira (29).

Os vereadores Janaína Cardoso (União), Professor Juliano Lopes (Agir), Wanderley Porto (PRD) e Sérgio Fernando Pinho Tavares (PL), integrantes da comissão, mais Bruno Pedralva (PT) e Iza Lourença (Psol), presentes à reunião, questionaram a priorização dos interesses econômicos em detrimento do equilíbrio ecológico de uma região de especial importância ambiental, urbanística e cultural para a cidade, e criticaram a autorização concedida pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comam), no último dia 21, para a supressão de 73 árvores no local da corrida. Sérgio Fernando alertou ainda que os resíduos de combustível deixados pelos carros de corrida serão carreados pelas chuvas, contaminando o solo, o lençol freático e a água da represa da Pampulha.

Mencionando outras alterações estruturais além da retirada das árvores, como a remoção de canteiros centrais e travessias de pedestres, e a poluição sonora na área do Hospital Veterinário, contrariando a legislação, Iza comunicou que parlamentares municipais, estaduais e federais do Psol ingressaram com uma ação no Ministério Público solicitando que esse “ataque” seja barrado. Segundo ela, a corrida não é um evento, como o Carnaval, que vem e vai deixando tudo como estava; na verdade, trata-se de um empreendimento, que deixará alterações permanentes, e precisa ser tratado como tal.

O presidente da comissão, Ciro Pereira (PRD), posicionou-se favoravelmente à realização da corrida, destacando que o evento trará retorno econômico para a cidade, atraindo turismo, gerando empregos diretos e indiretos e projetando BH no cenário internacional.

Riscos à saúde e à vida dos animais

Representando a UFMG, que não teria sido consultada sobre a realização do evento, Fábia Lima ressaltou que a via que será transformada em pista de corrida passa ao lado ao Hospital Veterinário – considerado região hospitalar pela legislação – que funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Veterinários, professores e especialistas alegam que o ruído intenso produzido pelos carros de corrida, por várias horas, podem causar estresse, sofrimento, danos auditivos irreversíveis e até mesmo a morte dos animais. Além disso, a interdição do acesso nos dias de treinos e provas prejudicará o acesso de caminhões que trazem animais de grande porte, medicamentos, oxigênio e outros insumos. Embora, a princípio, não considere o local adequado, a instituição aguarda a conclusão dos estudos técnicos que vêm sendo realizados para avaliar os impactos e medidas mitigadoras para se posicionar oficialmente sobre a questão.

Integrantes de organizações ambientalistas e movimentos de defesa dos animais expuseram os impactos e os riscos para a segurança, saúde e integridade das espécies silvestres que habitam a UFMG, os parques e matas da Pampulha, especialmente aves, e dos animais domésticos, inclusive os que circulam soltos pela região, sujeitos a estresse, atropelamentos e danos auditivos. Os ativistas lamentaram a conivência da entidade com a destruição das árvores, habitats de diversas formas de vida. Biólogos e especialistas afirmaram que as barreiras acústicas não serão suficientes para mitigar os danos, já que a audição dos animais é extremamente sensível.

Lideranças comunitárias dos bairros vizinhos, que já sofrem com a poluição sonora e a violação do direito de ir e vir em dias de eventos no estádio e na esplanada do Mineirão, lembraram que a região é predominantemente residencial, com grande número de idosos, autistas e animais domésticos, e também abriga diversas casas de repouso.

Autorizações e licenciamentos

Dani do Amaral, que representou o secretário municipal de Meio Ambiente, disse que o parecer da pasta indicou a necessidade mais informações e avaliações antes de uma decisão e encaminhou a questão ao Comam, composto por representantes do poder público e da sociedade civil; apesar das advertências, o conselho aprovou a supressão das árvores com apenas dois votos contrários e uma abstenção.  

Henrique de Castilho, superintendente de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), relatou que o entorno do Mineirão foi escolhido após “diversos estudos de engenharia e impactos”, que não identificaram outros locais que se adequem à modalidade, e que o evento possui todas as certificações, inclusive de carbono neutro. O gestor garante que todas as etapas do processo, como a assinatura do termo, a licitação e as autorizações são feitas publicamente e registradas no Diário Oficial do Município (DOM), e que serão tomados todos os cuidados para evitar os impactos negativos, como a instalação de barreiras acústicas no circuito e recolhimento imediato de combustíveis que eventualmente vazem na pista, entre outras medidas.

Contrapartida insuficiente

O plantio de 655 árvores pela Prefeitura em outros locais, apresentado como contrapartida, é considerado insuficiente para compensar os danos ao meio ambiente e ao equilíbrio ecológico da Pampulha, especialmente se as mudas não receberem o devido cuidado e manutenção a médio e longo prazo. A falta de transparência do projeto e de diálogo com a comunidade local, com a Câmara e com a UFMG, por parte dos organizadores e da Prefeitura, também foi criticada pelos participantes, que exigiram informações claras sobre a eficiência e a localização das barreiras acústicas, o número e local exato do plantio e responsabilidades pela manutenção das árvores. A maioria dos participantes ressaltou que não é contra a realização do evento, mas sim do local escolhido e da forma como o planejamento vem sendo conduzido, sem ouvir o contraditório e as partes afetadas.

Deputados estaduais que participaram da audiência – Bella Gonçalves, do Psol, e os petistas Rogério Correia e Beatriz Cerqueira – se manifestaram contra o desrespeito à natureza e aos animais em nome do lucro de empresas privadas, a exemplo do que ocorre em licenciamentos de mineração, e anunciaram a realização de um debate público sobre o tema na Assembleia Legislativa na próxima quinta-feira (29). Wagner Ferreira recomendou aos presentes que compareçam à audiência para continuar a cobrar os esclarecimentos necessários e a mobilização pela alteração do local da corrida. O vereador anunciou que as questões levantadas na reunião desta segunda serão encaminhadas formalmente aos órgãos pertinentes através de pedidos de informação.

Confira aqui os nomes dos cidadãos e entidades convidadas.

Superintendência de Comunicação Institucional

Audiência pública para discutir a realização de corrida de Stock Car em Belo Horizonte - 3ª Reunião Ordinária - Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana