IGUALDADE RACIAL

Mesa Redonda discutiu desafios da política de cotas raciais no serviço público

Debate faz parte das ações promovidas pela Câmara no âmbito das celebrações Dia da Consciência Negra 

segunda-feira, 20 Novembro, 2023 - 19:15

Foto: Thalisson Venâncio/CMBH

Nesta segunda (20/11), quando o Brasil comemora o Dia da Consciência Negra, a Câmara Municipal de Belo Horizonte realizou uma série de atividades para celebrar a data. Na programação, além de ações culturais, rodas de conversa e debates sobre temas ligados à promoção da igualdade étnico racial. Um desses eventos foi a mesa redonda Cotas raciais na administração pública: conquistas, desafios e perspectivas, que tratou dos impactos que as ações afirmativas podem ter no serviço público. Aberto à participação popular, o evento contou com três debatedores: a psicóloga Michele de Souza Rocha, servidora da CMBH, e os defensores públicos Ana Cláudia da Silva Alexandre e João Matheus Silva Fagundes, da Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais. 

O tratamento do tema é parte da reflexão acerca do papel das ações afirmativas no enfrentamento das desigualdades que caracterizam a sociedade brasileira. Em âmbito local, para reforçar essa luta, a Câmara Municipal de Belo Horizonte promulgou, na última sexta-feira (17/11), a Resolução 2115/2023, que reserva aos candidatos negros 20% das vagas em concursos públicos promovidos pelo Poder Legislativo Municipal. Fruto de projeto assinado pela Mesa Diretora da Casa, a medida busca favorecer a inclusão e estimular a inserção de pretos e pardos no mercado de trabalho, conforme preconizado pela Política Municipal de Promoção da Igualdade Racial

Além da abertura de portas

Com a instituição da política de cotas, a Câmara Municipal se prepara para uma nova etapa de seu desenvolvimento institucional, marcado pela adoção de ações afirmativas que devem contribuir para criar um ambiente de trabalho mais inclusivo e representativo da diversidade brasileira.

Membro da equipe da Câmara, onde atua como psicóloga organizacional, a servidora Michele Rocha aponta que a adoção de cotas é medida capaz de introduzir novidades importantes para a qualificação do serviço público. Segundo ela, políticas do tipo tendem a contribuir para o aumento da produtividade, da inovação e da criatividade, além de estimular a chegada de novos pontos de vista e de ampliar as possibilidades de aprendizado em âmbito institucional, todos esses processos que contribuem para qualificar os serviços prestados. 

Segundo Michele Rocha, contudo, é importante que a introdução das políticas de cotas signifique mais do que mera abertura de portas. Para a psicóloga, é necessário reconhecer as especificidades do perfil dos novos ingressantes e trabalhar para sua efetiva integração na organização, favorecendo, inclusive, a ocupação de postos de liderança. 

Reparação 

Ponto de vista semelhante foi defendido pelo defensor público João Matheus Silva Fagundes. Segundo ele, a efetivação de ações afirmativas não se esgota na instituição de reservas de vagas, mas demanda a criação de oportunidades de ascensão e de medidas para oxigenar a administração pública a partir da abertura para a diversidade. 

Outro desafio da política de cotas, de acordo com Fagundes, relaciona-se à necessidade de garantir que seus benefícios cheguem às pessoas mais prejudicadas pelas dinâmicas de exclusão. Para tanto, ele entende ser fundamental a criação de processos de heteroidentificação racial nos concursos, mecanismos através dos quais é possível avaliar a pertinência da percepção de cada candidato a respeito de sua condição racial, com base na observação de critérios fenotípicos, situação que contribui para evitar desvios e casos de uso ilegítimo da política. 

Também defensora pública Ana Cláudia Alexandre aponta que o fundamento das ações afirmativas é a garantia de direitos, especialmente em um país como o Brasil, cuja história é marcada por séculos de exploração escravagista. Nesse sentido, afirma, mais do que inclusão, as cotas raciais dizem respeito a processos que colocam em movimento uma dinâmica de reparação histórica. 

Superintendência de Comunicação Institucional  

Consciência Negra - Cotas raciais na administração pública: conquistas, desafios e perspectivas