CONSELHOS TUTELARES

PL que altera legislação sobre Conselhos Tutelares conta com apoio da categoria

Segundo servidores, projeto não contempla todas as demandas, mas alteração do regime de plantões atende reivindicação importante

segunda-feira, 26 Outubro, 2020 - 22:45

Foto: Abraão Bruck/CMBH

A convocação de suplentes para os plantões dos Conselhos Tutelares, prevista em projeto de lei da Prefeitura, que evitará o deslocamento dos titulares de suas unidades de origem, obteve a aprovação de todos os participantes da audiência pública promovida nesta segunda-feira (26/10) pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor. Outras questões apresentadas pelos conselheiros, como o número insuficiente de unidades, deficiências estruturais, reajustes salariais e benefícios, que não foram incluídas na proposta, deverão ser debatidas depois das eleições. A atenção do Legislativo e do Executivo ao setor na atual gestão e a maior participação popular nas discussões foram reconhecidas pela categoria, que pleiteia uma revisão mais ampla da legislação.

O vereador que solicitou a audiência esclareceu que a reunião não vai atrasar a tramitação do projeto, que já obteve parecer favorável de todas as comissões designadas para analisá-lo e está pronto para ser votado no Plenário em 1º turno. O debate, segundo ele, teve o objetivo de ouvir a categoria e os demais órgãos e entidades envolvidos para subsidiar a eventual apresentação de emendas, com foco nas questões contempladas no texto. Durante a audiência, foram apontadas demandas mais amplas do setor e medidas necessárias para ampliar e aprimorar os trabalhos dos Conselhos Tutelares, reforçando a proteção dos direitos das crianças e adolescentes na cidade.

De autoria do Executivo, o PL 1045/20 altera dispositivos da Lei 6.705, que regulamenta a função pública de conselheiro tutelar. Com nove unidades na Capital, uma em cada regional administrativa, os conselhos tutelares são responsáveis pelo recebimento de denúncias, ações de prevenção, atendimento e acompanhamento de violações dos direitos de crianças e adolescentes no âmbito do Município. Além de determinar a convocação de suplentes para os plantões, atualmente cumpridos em sistema de rodízio pelos titulares, o projeto inclui na lei a possibilidade da substituição do titular pelo suplente em licenças e afastamentos inferiores a 20 dias, não permitida na legislação em vigor, adéqua a legislação ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e inclui alterações pontuais sobre a seleção e a posse dos conselheiros eleitos.

Reivindicações do setor

Considerada a mais importante do projeto, a alteração do regime de plantão centralizado, que atende uma reivindicação antiga dos conselheiros tutelares, recebeu o apoio de todos os participantes.  Segundo eles, a convocação dos suplentes para a função evitará o deslocamento dos titulares das regionais onde foram eleitos e desempenham suas funções, o que prejudica o acompanhamento dos casos e a continuidade das discussões e deliberações colegiadas, que envolvem os cinco titulares da unidade.  A medida, embora insuficiente para sanar as deficiências e dificuldades enfrentadas no dia a dia, foi comemorada pelos participantes, que defenderam a dedicação contínua e exclusiva dos conselheiros titulares nas respectivas regionais.

Carlos Guilherme, do Fórum Mineiro de Conselhos Tutelares, salientou que a extensão das áreas de atuação exige longos deslocamentos dos profissionais e dificulta a procura e o acesso ao órgão pelas pessoas que precisam de atendimento. Ele reconheceu a importância da utilização dos suplentes, que favorecerá a qualidade e a continuidade dos atendimentos. Os participantes reivindicaram ainda a destinação de recursos orçamentários específicos para os conselhos, a efetivação e capacitação de profissionais de apoio, mais articulação com profissionais de outras áreas e a instalação de sedes próprias nas regionais, com espaço e privacidade adequados para a realização dos atendimentos.   

A coordenadora da Defensoria Pública Especializada da Infância e Juventude, Daniele Bellettato, expôs deficiências do sistema municipal e medidas necessárias para adequar a capacidade e a qualidade do atendimento do Conselho Tutelar, “articulador central da política de promoção e proteção da criança e do adolescente”. A defensora lamentou que, desde sua criação, em 1991, o número de Conselhos Tutelares permanece o mesmo, enquanto várias cidades adicionaram novas unidades. Nota Técnica do Ministério Público sobre o setor, segundo ela, aponta deficiências estruturais e número insuficiente de conselhos em relação à população da cidade, que descumpre as normas e parâmetros instituídos pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda).

Restrições legais

Representando o Executivo, a secretária municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, Maíra Colares, e o subsecretário de Direitos e Cidadania, Thiago Costa, reconheceram a pertinência das demandas apresentadas pelos conselheiros e declararam o alinhamento do Município aos interesses do setor, demonstrado pelo diálogo permanente com o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente para a construção das políticas públicas e elaboração de propostas voltadas ao tema. No entanto, segundo eles, reivindicações relativas à remuneração e concessão de benefícios não puderam ser contempladas em razão das restrições previstas na legislação eleitoral, que proíbe a concessão de reajustes e de benefícios em ano de eleição.

Em relação ao PL que alterava normas e incorporava benefícios para a função de conselheiro tutelar, proposto e aprovado este ano na Câmara e vetado pelo Executivo, os gestores explicaram que a Procuradoria-Geral do Município apontou invasão de competências exclusivas do Poder Executivo, configurando a inconstitucionalidade do projeto. No entanto, segundo eles, as propostas apresentadas no texto vetado foram levadas em consideração para a elaboração do projeto atual e poderão ser incorporadas a projetos futuros, com o fim das restrições eleitorais.

Algumas colocações apresentadas pela Defensoria Pública foram refutadas pelo subsecretário, que apresentou um breve histórico das legislações voltadas ao setor e das normas referentes aos Conselhos Tutelares, afirmando seu pleno cumprimento pela Prefeitura de Belo Horizonte. Mencionando os avanços obtidos desde 2017, resultantes do envolvimento e da priorização do segmento por todas as secretarias, ele afirmou que a referida Nota Técnica não corresponde à atual realidade e baseou-se, possivelmente, em dados de 2016.

Diálogo permanente e participação popular

Em resposta à manifestação dos conselheiros, que reivindicam a revisão e a atualização da legislação como um todo, Thiago reafirmou a disposição da Prefeitura para dar continuidade aos esforços e ações para a modernização e o fortalecimento dos Conselhos Tutelares e demais instrumentos que compõem a rede de assistência e proteção social das crianças e adolescentes, ampliando o número de profissionais, a capacidade de atendimento e qualidade dos serviços prestados, a valorização e capacitação dos conselheiros, garantindo cada vez mais a participação dos envolvidos na definição das políticas municipais. O subsecretário elogiou a atuação do Legislativo Municipal sobre a questão, destacando a defesa da causa pelo requerente da reunião, criador e coordenador da Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Diálogo permanente e participação popular

Constatando o consenso dos participantes em relação ao PL, o vereador ressaltou que, embora ainda não seja o ideal e não contemple todas as necessidades e demandas da categoria, a proposta representa um passo importante na luta. Ele se comprometeu a apoiar a criação de uma Câmara Técnica para abordagem das questões específicas do setor, promover novos debates no âmbito da Comissão de Direitos Humanos e intermediar as reivindicações dos conselheiros tutelares numa abordagem mais ampla, de forma a garantir a participação efetiva dos trabalhadores e demais interessados na construção de uma legislação mais adequada às necessidades do setor, beneficiando especialmente as crianças, os adolescentes e as famílias mais vulneráveis da Capital.

Assista ao vídeo da reunião na íntegra.

Superintendência de Comunicação Institucional