Empresas apresentarão campanhas para redução de acidentes com motociclistas
Proposta foi definida em reunião entre Nely Aquino e representantes de empresas de APPs, BHTrans, Guarda Municipal e Hospital João XXIII
Foto: Bernardo Dias/CMBH
A Associação Brasileira Online to Offline (ABO2O), que representa as empresas de aplicativos de transporte e entrega, acertou com a Câmara de BH que irá apresentar, no dia 31 de outubro, às 10h, propostas para promover a redução de acidentes com profissionais de motoentrega em Belo Horizonte. O trabalho terá o apoio da BHTrans, Guarda Municipal e Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), que irão enviar material de campanhas de educação já produzidos, além da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que se responsabilizou por disponibilizar todo o material no comércio de Belo Horizonte. A decisão foi tomada nesta quinta-feira (19/9), em reunião da presidente da Casa, Nely Aquino (PRTB), e empresas de aplicativos de entrega - Loggi, Uber Eats, Ifood e Rappi. O grande número de acidentes com motociclistas que trabalham com aplicativos de entrega tem sido tratado em reuniões periódicas entre o Legislativo Municipal e os demais órgãos, com o objetivo de reduzir o número e mitigar os prejuízos aos trabalhadores da área.
Acidentes e mortes
Segundo a Fhemig, somente no Hospital João XXIII por mês são atendidos cerca de 400 motociclistas acidentados com os mais diversos tipos de lesão e trauma. O pronto socorro do hospital atua como centro de referência e excelência no atendimento a pacientes vítimas de politraumatismos, grandes queimaduras, intoxicações e situações clínicas e/ou cirúrgicas de risco de morte. Dados da Fhemig apontam que, entre janeiro de 2017 e setembro de 2019, a maior faixa etária atendida em acidentes com motocicleta está entre 18 e 30 anos, chegando ao número de mais de 6.500 acidentados atendidos somente no HPS, a maioria em horários em que há o aumento de entrega de comida e outros produtos por moto. Neste mesmo período, foram registrados no HPS 197 óbitos, sendo 39 de pessoas entre 18 e 30 anos e 32 entre 31 e 40 anos. Dados apresentados pela Polícia Militar mostram que a maior parte destes acidentes ocorre em grandes corredores de tráfego e na região central de Belo Horizonte.
“Temos que entender definitivamente que há um custo na vida de quem se acidenta, pois aqueles que não vão a óbito vão precisar de cuidados que a família, na maioria das vezes, tem dificuldade em atender”, afirmou o fisioterapeuta Tiago Moreira Possas que apresentou dados mostrando o aumento destes acidentes entre sábado e segunda-feira, corroborando ainda mais com a avaliação de que o aumento está ligado ao trabalho de motoentrega.
No Brasil, as lesões por acidentes no trânsito, ou acidentes de transporte terrestre, representam a segunda causa de morte entre todos os óbitos por motivos externos, com maior ocorrência na população de 15 a 39 anos. Em 2014, esses acidentes foram responsáveis pela morte de 43,8 mil pessoas, sendo que 12.652 destas ocorreram entre motociclistas. No mesmo ano, foram registradas 96.292 internações de motociclistas, resultando em um dispêndio de R$ 126 milhões, o que representou 52% do total dos gastos com internação de vítimas de acidentes terrestres no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo Marcelo Lopes Ribeiro, Diretor Assistencial da Rede Fhemig, é importante falar em números, mas o fundamental é pensar no custo familiar e social causado pelo alto índice de acidentes com motociclistas. “Um procedimento cirúrgico custa em torno de R$ 2.000,00. A diária de uma pessoa acidentada no HPS é de R$ 1.200,00 e uma prótese pode chegar a custar R$ 15.000,00. Os números são altos. Para se ter uma ideia, há um paciente que estamos atendendo que está sendo tratado há um ano e meio a um custo de mais de R$ 1 milhão. Para complicar ainda mais, estamos com dificuldades no fornecimento de próteses. Mesmo com isso tudo, o maior custo é o social e familiar”, destacou o diretor, explicando que houve um aumento na gravidade dos acidentes com a troca dos baús por mochilas para transportar os produtos.
Outros dados
Segundo Vitor Magnani, presidente da ABO2O, as empresas de aplicativos não recebem muitas informações sobre acidentes com motociclistas. “Os entregadores não falam com os aplicativos se foram acidentados. Eles são autônomos e nem sempre nos informam”, explicou Magnani dizendo ainda que, em levantamento da associação, foi possível ver que os picos de acidentes são realmente nos finais de semana, mas que o aumento no número de acidentes pode estar relacionado ao salto no número de motociclistas em Belo Horizonte nos últimos cinco anos. Conforme a ABO2O, são 10 mil os motociclistas cadastrados para trabalhar com motoentrega na cidade em uma frota que chega a 227 mil motos na cidade, conforme dados do IBGE.
A ABO2O também apresentou números que mostram o impacto financeiro e social com a geração de renda e trabalho vinda com as empresas de aplicativos de entrega. Segundo a associação, o ganho dos trabalhadores chamados autônomos formais, que trabalham com os aplicativos, é de R$ 2.826,83, em média. Contra R$ 880,00 daqueles que trabalham informalmente. Ainda segundo a ABO2O, 70% destes trabalhadores afirmam ter mais tempo livre para ficar com a família e 90% tem orgulho da profissão.
Encaminhamentos
“Quem sofre as penalidades de tudo que está acontecendo é quem faz a motoentrega. Temos que pensar na cidade e no cidadão que tem neste trabalho o único sustento. Estas pessoas não têm vínculo empregatício, então temos que ter responsabilidades com elas”, afirmou a presidente da Câmara, vereadora Nely Aquino, sugerindo que os órgãos se unam para criar campanhas para redução do número de acidentes com motociclistas na cidade. Para Vitor Magnani, a proposta é absolutamente exequível, principalmente se executada em parceria com os órgãos públicos municipais. “Com tempo hábil, faremos campanhas que estimulem boas práticas. Não queremos fazer da nossa cabeça pois quem sabe mais sobre isso é o poder público”, afirmou Magnani.
Para Nely, tudo que for possível deve ser feito. “São tantas famílias sofrendo que temos que fazer algo concreto. Se pudermos salvar uma única vida, faremos nossa parte”, finalizou.
Superintendência de Comunicação Institucional