Grupo apresenta diagnóstico e propõe alterações no transporte público de BH
Pesquisa ouviu cerca de 10 mil pessoas que sugeriram ampliação de linhas em horário noturno e redução do tempo entre as viagens
Foto: Bernardo Dias/CMBH
Alguns usuários do transporte coletivo público de Belo Horizonte deram início, em outubro de 2018, a um levantamento que teve como objetivo criar um projeto de reestruturação do transporte público da cidade. Os resultados deste trabalho foram apresentados na manhã desta terça-feira (13/8) em audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico, Transporte e Sistema Viário, solicitada pelo vereador Wesley Autoescola (PRP). “Quando eles me procuraram não imaginava que ao final dos trabalhos trariam algo tão aprofundado e com tanta informação relevante”, disse Wesley destacando a importância do trabalho, que conta com mais de 700 páginas.
O projeto, que tem como base entrevistas com cerca de 10 mil usuários em todas as regiões da Capital, trouxe um cenário que aborda a quantidade de linhas, frotas, empresas, análise das matrizes regionais, atendimentos, entre outras características, além de apresentar propostas baseadas nos apontamentos realizados a partir dos dados estatísticos adquiridos por meio das entrevistas. O objetivo, segundo os autores, é “melhorar os atendimentos existentes, reduzir o intervalo das viagens e reduzir o custo operacional global do sistema”.
O grupo, que inicialmente não tinha nome, hoje se intitula BHTT – Belo Horizonte Transporte e Trânsito e é formado por estudantes de mestrado e doutorado e cidadãos que já debatem a mobilidade em BH em outros espaços de discussão como os Conselhos Regionais de Transporte e Trânsito. “Percebíamos que existem muitas possibilidades de melhoria no sistema e a nossa pesquisa confirmou nossa percepção”, disse Leonardo Fernandes Santos, que é mestre em Engenharia Metalúrgica pela UFMG e faz parte do BHTT.
Dados da Pesquisa
Foram entrevistados quase 10 mil usuários do transporte público de BH, divididos por todas as regiões, sendo 4000 pessoalmente e outros 5506 em pesquisa online. Quase metade dos entrevistados tinha como destino a região central de BH e mais de 60% se deslocam para trabalhar. O tempo médio de espera pelos ônibus na cidade é de 20 minutos e mais de 40% das viagens duram mais de duas horas, o que configurou uma das principais reclamações identificadas na pesquisa.
Segundo o idealizador do projeto, Walker Matheus Ferreira, além da demora nas viagens, há muita queixa sobre má prestação de serviços noturnos. “Tem muita reclamação sobre as linhas noturnas e por causa disso nos dedicamos a encontrar soluções. Com nossas sugestões, garantimos 99% de cobertura neste horário com o aumento de 99 para 108 linhas e algumas alterações de trajeto”, explicou Walker, que é engenheiro mecânico e mestrando na área de Energia pela UFMG.
O Sistema de Transporte Público de Belo Horizonte possui atualmente 295 linhas que fazem juntas mais de 600 mil viagens por mês, fazendo um trajeto de aproximadamente 14 milhões de quilômetros mensais. Cerca de um milhão de usuários utilizam o transporte público diariamente nos 2856 ônibus existentes. O sistema de transporte gira aproximadamente R$ 1,1 bilhão por ano.
Propostas
“Nós estamos apresentando um estudo simples, mas que pode mudar efetivamente a qualidade do transporte público em BH”, disse Walker ao apresentar as propostas que surgiram a partir das sugestões dos usuários. Segundo o estudo, “as proposições e os resultados da pesquisa têm por finalidade desenhar uma nova rede de transporte baseada na necessidade encontrada de potencialização do cenário atual do transporte público coletivo, com principal propósito de oferecer o melhor custo benefício final para todos os envolvidos.” Dados operacionais das linhas como dimensionamento de frota, extensão e tempo de viagem foram objetos de avaliação e de propostas de alteração.
As linhas foram subdividas em dia útil e sábados, domingos e feriados, e noturno, com a finalidade de potencializar os atendimentos disponíveis de forma que toda a população tenha acesso às redes operacionais do transporte público coletivo. No modelo apresentado, o tempo máximo entre as viagens seria de 20 minutos nas chamadas linhas convencionais e de 15 minutos nas linhas troncais, que seguem para terminais de embarque e desembarque. A proposta propõe uma redução de 25,42% no número de linhas de ônibus, passando das atuais 295 para 218. No horário noturno, o projeto propõe a ampliação em 9,1 %. O estudo também sugere alterações no layout dos ônibus, mudanças no embarque e desembarque nas estações do chamado Rotor Central do Move, localizado entre as Avenidas Paraná e Santos Dumont, integração de linhas e mudanças em vias de acesso em algumas ruas e avenidas de BH, entre outras.
Outra queixa dos usuários identificada pela pesquisa diz respeito à padronização de informações das linhas. Segundo o estudo, “hoje, um dos problemas para os passageiros é a não padronização de informações, e a má utilização dos recursos disponíveis tais como placas informativas, letreiros auxiliares, entre outros.” Conforme a proposta, o melhor é trabalhar com a “alternância entre os letreiros para que possa promover a melhor disseminação das informações para interpretação do passageiro, demonstrando os pontos principais de itinerário, origem e destino corretos.”
BHTrans e Setra
Sérgio Luiz Ribeiro de Carvalho é supervisor de Transporte Público da BHTrans e participou da audiência. Segundo ele, o estudo será avaliado pelos técnicos da empresa. “O trabalho já foi encaminhado ao setor de Planejamento e Operações da BHTrans para que possamos incorporar em parte ou totalmente o trabalho de vocês. À medida que a cidade vai crescendo e mudando, o sistema também tem que mudar. A BHTrans investe muito para melhorar a mobilidade como no caso do Move e das faixas exclusivas. Acreditamos muito nas faixas exclusivas e em tecnologias como do SIU Mobile, que permite ao usuário saber em quanto tempo o ônibus vai chegar”, afirmou Sérgio Luiz.
A proposta também foi aprovada pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Belo Horizonte (Setra BH). Segundo Sérgio Cordeiro, coordenador de Mobilidade da instituição, os empresários também estão produzindo estudos na mesma direção. “Dentro das mesmas preocupações, temos investido também em estudos e em tecnologia. Atualmente estamos lançando o BHBUS Mais que permite às pessoas comprarem créditos para o cartão BHBus pelo celular, utilizando cartão de crédito. Vamos levar o estudo de vocês para as empresas e esperamos contar com vocês em novas conversas para entender melhor e mais profundamente o estudo”, disse Sérgio Cordeiro.
Para o vereador Wesley Autoescola, a audiência pública cumpriu perfeitamente o seu papel. “Um estudo como este deve ser levado a sério por todos. Fico feliz por ajudar neste processo. É uma proposta que vem de clientes insatisfeitos do sistema de transporte público de Belo Horizonte e que pode gerar um avanço importante”, finalizou o vereador.
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional