Moradores cobram embargo de obra no Bairro Cruzeiro
Prédios vizinhos da construção na Rua Cabo Verde foram danificados

Moradores da Rua Cabo Verde (Cruzeiro) cobram embargo da obra que está provocando desmoronamento. Foto: Divulgação/CMBH
Em audiência pública, realizada nesta quinta-feira (27/2) pela Comissão de Meio Ambiente e Política Urbana, a comunidade do Bairro Cruzeiro (região Centro-Sul da capital) denunciou os problemas vividos há mais de dois anos em razão de irregularidades nas obras de construção de novo prédio pela Edifica Empreendimento Arquitetura e Engenharia S/A em terreno na Rua Cabo Verde, esquina com Rua Muzambinho. Os moradores apontaram graves danos provocados nos imóveis vizinhos, como rachaduras, abalo na estrutura e alagamentos, em função do sistema de fundação e contenção utilizado pela construtora, que culminou em afundamento da rua e desmoronamento no último mês de dezembro.
A obra no local já havia sido tema de audiência na Câmara em dezembro de 2012, quando moradores da Rua Cabo Verde questionaram o início das obras e reivindicaram a substituição do sistema de fixação de estacas (“bate-estaca”) que vinha sendo implantado pela Edifica para fundação e contenção lateral do terreno. O sistema estaria provocando, além dos transtornos diários decorrentes do barulho, diferentes danos aos imóveis do entorno como fissuras, rachaduras, inundações e tremores percebidos pelos vizinhos. À época, a construtora já havia sido notificada e autuada pela Prefeitura por diferentes infrações como invasão do passeio público, rachaduras no asfalto e excesso de ruídos.
Presidente da Comissão, a vereadora Elaine Matozinhos (PTB) requereu a nova audiência para discutir as consequências do desmoronamento do muro frontal do terreno em obras, no último dia 26 de dezembro, causando novos prejuízos e alertando para grandes riscos aos moradores da região. A Rua Cabo Verde já estava interditada desde a véspera do natal (24/12), quando, após chuva forte, o asfalto cedeu abrindo uma cratera no local.
Danos e medidas emergenciais
“Nós queremos mais seriedade e respeito da construtora com os moradores. Antes da realização da obra, nem mesmo foi realizada uma vistoria cautelar para verificar as condições do entorno. Passa o gás encanado no muro que limita os terrenos, e o engenheiro da obra não sabia”, denunciou a moradora Lavínia Estrela Borges. “Tudo isso foi anunciado há mais de um ano em audiência pública. O desmoronamento era previsível. Por que não mudaram a técnica de fundação?”, questionou a moradora.
Lavínia destacou que quatro prédios do entorno foram condenados e um dos edifícios está com a laje escorada para garantir a sustentação. Entre os impactos, os moradores destacaram o rompimento da rede de saneamento após o desmoronamento, o que teria ocasionado o vazamento de esgoto no prédio vizinho, a presença de esgoto correndo a céu aberto no terreno em obras e a contaminação do lençol freático. A comunidade reclama ainda do mau cheiro e dos animais nocivos atraídos para a região, com ratos e baratas.
Também foi denunciada erosão formada abaixo da calçada, em razão de rompimento da adutora da Copasa após a queda do muro. A Defesa Civil garantiu que irá vistoriar o local ainda nesta semana e cobrar da construtora as soluções, projeto e cronograma de obras. O órgão explica que considera o local como área em processo de desastre, em fase de resposta e reparação. Nesse contexto, algumas medidas emergenciais estão sendo tomadas e estudadas para conter novos desmoronamentos. Foram colocadas cortinas de concreto, pedras e areia para sustentação da rua no buraco aberto, recompondo a terra que desmoronou a fim de evitar que o asfalto continue a ceder.
Engenheiro perito contratado pelos moradores, Lincoln de Oliveira alertou para o risco de fragilizar ainda mais os prédios vizinhos durante as obras de reconstrução da via. A intenção da empresa é instalar tirantes no subsolo (cortinas de aço tensionadas que substituem a pressão exercida inicialmente pela terra). Para isso, será necessário retirar o material emergencial colocado para sustentação da rua e substituir pela solução definitiva. Lincoln destacou que o instrumento é proibido por lei e, ao ser implantado em terreno raso (a pouco mais de 5m da superfície) pode exercer alto nível de pressão, comprometendo gravemente a estrutura dos imóveis do entorno.
“Se não é possível construir com segurança, sem provocar danos aos prédios já edificados no entorno, a obra deve ser abandonada”, concluiu Lincoln, com o apoio entusiasmado dos moradores presentes.
A Prefeitura afirmou que está acompanhando a situação, inclusive, intervindo pelos moradores junto à construtora, exigindo maiores cuidados e o cumprimento da legislação. A Gerência de Fiscalização da Regional Centro-sul garantiu que irá vistoriar o local nos próximos dias para exigir a reparação dos danos na rede de saneamento.
Nova audiência pública será realizada nos próximos 30 dias para avaliação das ações acordadas, contando com a presença do dono da construtora Edifica, Gustavo Valadares Gontijo, que não compareceu à reunião desta quinta-feira por motivo de viagem.
Participaram da reunião a vereadora Elaine Matozinhos (PTB), Alexandre Gomes (PSB) e Gilson Reis (PCdoB).
Assista aqui à reunião na íntegra.
Superintendência de Comunicação Institucional