Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem é desafio para famílias
O Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem (TDL) é uma condição que interfere no neurodesenvolvimento e afeta diretamente a capacidade de comunicação, gerando dificuldades na fala, na compreensão, na interação social e na aprendizagem escolar. Os impactos podem ser semelhantes aos observados no autismo, mas a prevalência é maior. Segundo a médica otorrinolaringologista e foniatra Fernanda Correia Bahia, enquanto o Transtorno do Espectro Autista (TEA) acomete 1% da população, o TDL atinge 7,5%. A falta de conhecimento sobre o transtorno tem levado a erros de diagnóstico e atrasos na intervenção adequada. Para dar maior visibilidade ao tema, a Comissão de Saúde e Saneamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte realizou audiência pública nesta quarta-feira (10/12), a pedido da vereadora Fernanda Pereira Altoé (Novo). O encontro contou com a presença de profissionais da saúde, além de representantes das secretarias de Saúde e Educação.
Diagnóstico e tratamento
Fernanda Pereira Altoé destacou a importância do diagnóstico e do tratamento conduzidos por médicos foniatras (especializados em distúrbios da comunicação) e fonoaudiólogos. Com intervenções adequadas, segundo especialistas, há uma melhora significativa na comunicação.
A fonoaudióloga Ecila Paula Mesquita, do Movimento Passo a Passo pelo TDL, de Campinas (SP), afirmou que o transtorno já configura um problema de saúde pública. Ela relatou a perda de um paciente de 16 anos, diagnosticado com TDL, que desenvolveu ansiedade, depressão e cometeu suicídio.
“O Reino Unido tem muitas pesquisas sobre TDL que mostram alto índice de uso de drogas, depressão e tentativas de suicídio entre adolescentes com o transtorno. Por que não temos estudos no Brasil? Porque o TDL nem é reconhecido”, afirmou Ecila Mesquita.
Sinais de alerta
A médica Fernanda Correia Bahia explicou que crianças com TDL têm 12 vezes mais chance de desenvolver transtornos de aprendizagem. Ela lembrou que, em 1980, a condição era chamada de Distúrbio Específico de Linguagem (DEL) e que, a partir de 2016, passou a ser denominada Transtorno do Desenvolvimento da Linguagem, a partir de um estudo britânico.
Entre os sinais de alerta descritos pela especialista estão: pouco ou nenhum balbucio até os oito meses; ausência de combinação de duas palavras aos 24 meses; linguagem não verbal deficiente; histórico familiar de problemas de alfabetização; dificuldade em compreender comandos simples entre três e quatro anos; e frases curtas e interação social precária entre quatro e cinco anos. Após os cinco anos, costumam ocorrer problemas para contar ou recontar histórias, dificuldades de leitura, vocabulário pobre e pouca compreensão de metáforas.
Relatos de familiares
A terapeuta Sharon Caridá Ortolani, mãe de uma criança com TDL, relatou que enfrentou barreiras para conseguir tratamento. “O convênio negou atendimento porque eu não tinha laudo de TEA. Mas eu quis o diagnóstico correto e a intervenção adequada. Agora estamos lutando por uma lei federal que garanta às crianças o direito ao tratamento”, disse.
A médica foniatra e otorrinolaringologista Mônica Guerra ressaltou que a linguagem é determinante para a inclusão social e escolar, e que é necessário ampliar a visibilidade da doença. Segundo ela, o desenvolvimento da linguagem depende de pais presentes e de menos exposição às telas. Guerra também destacou que problemas de comunicação também podem estar relacionados à perda auditiva, atraso global do desenvolvimento, transtorno motor da fala ou epilepsia; por isso, o acompanhamento médico é essencial. No caso do TDL, os sinais são persistentes e o transtorno exige acompanhamento contínuo. “O cérebro é extremamente plástico; então, com terapias específicas, é possível superar as dificuldades”, afirmou.
Perspectiva do poder público
Representando a Secretaria Municipal de Educação (Smed), Etelvina Brito disse que já existe preocupação com o desenvolvimento da linguagem entre os estudantes, e que a percepção sobre o TDL contribuirá para a construção de um plano de trabalho. “É preciso unir esforços entre Smed e a Secretaria municipal de Saúde, fortalecendo a comunicação entre as pastas. O fonoaudiólogo é peça fundamental nesse processo”, destacou.
A fonoaudióloga Laura Nequini, da Secretaria Municipal de Saúde, reforçou que atrasos na aquisição e no desenvolvimento da linguagem têm sido frequentemente classificados como TEA. “Trazer essa temática à tona é de grande importância. Temos muito a avançar nesse campo”, concluiu.
Encaminhamentos
Fernanda Altoé afirmou que fará uma análise orçamentária, prevendo recurso para trabalhar com ações específicas que visem informar sobre a distinção entre TEA e TDL. Também sugeriu a realização de uma semana voltada para o TDL em BH, para dar mais visibilidade ao tema. “Precisamos gerar mais conhecimento para as famílias e para os profissionais de saúde e de educação”, disse a parlamentar.
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