Líder da bancada do Psol, Cida Falabella é a entrevistada da semana em videocast

Em sua apresentação no portal da Câmara Municipal de Belo Horizonte, a vereadora Cida Falabella (Psol) elenca algumas de suas bandeiras. Ela diz defender a cultura, as mulheres, o meio ambiente, a educação e uma BH "livre da caretice". Mas afinal, Belo Horizonte seria tão careta assim? Em entrevista ao videocast Câmara em Foco, iniciativa da CMBH para levar aos cidadãos entrevistas em profundidade com os parlamentares do Legislativo Municipal, Cida garantiu que não. “Pelo contrário, BH é ousada, vanguarda em muitos aspectos”, diz. Para ela, no entanto, há uma tendência a se dizer que Belo Horizonte é uma cidade conservadora, de "valores inegociáveis" no sentido da moral e dos bons costumes; motivo pelo qual a frase virou mote de sua campanha. “Qual moral e quais bons costumes, né? Quando a gente fala em BH livre da caretice é pensar numa cidade para todo mundo, uma cidade inclusiva, uma cidade alegre, onde as pessoas não sejam tratadas de forma diferente porque são negras, são pessoas com deficiência ou são da comunidade LGBTQIAPN+”, afirma a parlamentar, que é líder da bancada do Psol. Durante o bate-papo, ela falou também do crescimento da presença feminina na Câmara, de alguns dos seus projetos, do ataque a ritmos como o funk e dos muitos embates com a direita neste início de legislatura.
Presença feminina na Câmara
Cida Falabella foi a primeira presidente da Comissão de Mulheres da Câmara Municipal, em 2019. Na época, o colegiado tinha apenas três integrantes do sexo feminino. Neste ano, pela primeira vez, a comissão é formada integralmente por mulheres, o que reflete o avanço da presença feminina na Casa. “É um crescimento bem 'pelejado'”, ressalta Cida.
“Mais difícil do que uma mulher se eleger é se manter na política. Essa luta começa nos partidos. Nós temos a sorte de que no Psol esse debate está bem avançado, mas já tivemos mandatos cassados nesta Casa por causa de 'candidaturas laranjas' de mulheres em outros partidos”, diz a parlamentar.
Segundo ela, ainda existe na sociedade um preconceito grande contra a presença das mulheres na política. Às vezes, por parte delas mesmas. “A mulher enfrenta jornadas maiores de trabalho, jornadas duplas, triplas, o que muitas vezes a faz pensar que a política não é para ela, por ser um espaço muito duro”, conta. Estar, inclusive, fora da comissão, foi uma escolha, para dar lugar a quem ainda não havia tido a oportunidade de participar do grupo.
Violência de gênero
Em 2023, Cida e sua colega de partido Iza Lourença foram ameaçadas de morte e de “estupro corretivo” por suas posições políticas. As duas precisaram andar com seguranças em eventos externos. Esses e outros casos de violência de gênero resultaram na aprovação da Lei 11.818/2025, que institui a Política Municipal de Enfrentamento da Violência Política contra a Mulher. “Foi um processo terrível para nós, mas é importante ressaltar que essa violência atinge não apenas mulheres que estão na política institucional, mas lideranças comunitárias, lideranças sindicais, mulheres que estão à frente de movimentos. Aqui, inclusive, uma mulher de outro campo político, a vereadora Marli, também sofreu violência política de gênero”, diz. Ela conta que sua situação pessoal foi resolvida, com o agressor preso e respondendo a julgamento, mas a situação está longe de ter melhorada.
“As eleições estão se aproximando, e esse é um período em que as mulheres sofrem inúmeras violências, das mais escancaradas às mais sutis, como receber menos dinheiro do partido, ter menos espaço, ser preterida por algum homem, ter de ouvir comentários sobre sua vida pessoal, sobre suas condutas, sobre a sua roupa. Infelizmente isso ainda é muito comum”, afirma Cida Falabella.
Carnaval
Durante a entrevista, a parlamentar lembrou da participação no Grupo de Trabalho do Carnaval, do qual foi relatora. O grupo é autor do PL que originou a Lei 11.843/2025, que regulamenta a folia na capital mineira. “Nossa intenção é que a lei garanta que a festa continue acontecendo com as características que tornam o Carnaval de Belo Horizonte único no país. Eu não gosto dessa coisa de dizer que ele é o maior, que é o melhor. Mas que ele é muito diferente dos outros, por toda essa riqueza, e pela forma que ele renasceu na cidade, ele é”, afirma. O grupo foi autor ainda da Lei 11.815/2025, que declara o valor histórico e cultural dos blocos caricatos.
“Criminalização” do funk
Autora de uma reunião especial para celebrar o funk na Câmara Municipal, Cida Falabella acredita que há uma tentativa de “criminalização” de certos ritmos, em especial daqueles identificados com a cultura popular e periférica. “O encontro foi espetacular. O que se viu aqui foi uma juventude que consegue viver e sobreviver do funk, das festas; meninos e meninas estourando nas paradas de sucesso, usando seu corpo como instrumento de autonomia, de liberdade”, diz.
Para ela, o que está se tentando fazer com o funk na cidade é o mesmo que já se fez, em outros tempos, com o samba, a capoeira e outros ritmos. “Onde eles veem falta, nós vemos potência, desenvolvimento econômico e cultural. Vários depoimentos aqui mostraram como o funk tirou os jovens da vida do crime, ao contrário do que é dito”, afirma.
Embates com a direita
Apesar das disputas entre esquerda e direita estarem mais acirradas neste início de legislatura, Cida não acredita que as dificuldades de emplacar políticas ligadas à população LGBTQIAPN+ tenham se intensificado. “Isso já vem há muito tempo”, diz. Para ela, o maior problema é lidar com um discurso que não deixa clara sua rejeição.
“Muitas vezes o que se fala é: ‘Eu não tenho nada contra, eu sou a favor dessas pessoas, mas que elas fiquem em casa, que elas não tenham uma vida pública’. Isso é o contrário do que a gente prega”, afirma.
O partido de Cida Falabella, o Psol, entrou na Justiça alegando a inconstitucionalidade de dois projetos aprovados neste semestre na Câmara Municipal: o que permite o uso da Bíblia como recurso paradidático nas escolas (Lei 11.862/2025), e o que institui o Dia Municipal dos Métodos Naturais (Lei 11.863/2025). Para ela, essa foi a única maneira encontrada para se tentar barrar as propostas, depois de serem aprovadas pelo Plenário e virarem leis. “Em relação ao primeiro, não é possível que a Bíblia entre nas escolas como parte de doutrinação das crianças. Já sobre o segundo, ele até parece um tanto ingênuo, mas vai contra tudo o que é dito no serviço público em relação à prevenção de doenças sexuais e gravidez”, fala.
Para os críticos do recurso à Justiça, ela evoca uma frase que, conta, era usada por seu avô: “O jogo é jogado e o lambari é pescado”.
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