Vale estuda uso de novas tecnologias em casos de rompimentos futuros

O uso de tecnologias que irão permitir o tratamento de águas que tenham sido contaminadas com rejeitos de mineração é uma das ações que a Empresa Vale S/A estuda atualmente para garantir o abastecimento de BH e Região Metropolitana, em caso de novos rompimentos que possam atingir a Bacia do Rio das Velhas. A informação foi repassada por técnicos da empresa em mais uma oitiva realizada no âmbito da CPI das Barragens da Câmara Municipal, nesta terça-feira (30/7).
De acordo com a engenheira sanitarista e gerente de Gestão Ambiental da Vale, Roberta Guimarães, os estudos, elaborados em parceria com a UFMG, fazem parte de um Sistema de Tratamento Complementar que a empresa vem avaliando, com caráter preventivo, a fim de assegurar a não interrupção do abastecimento hídrico da Capital. “Hoje temos tecnologias para o tratamento de águas com os mais diversos contaminantes, alguns inclusive até piores que os que encontramos no Rio das Velhas. A que nós estamos vislumbrando a implementação, tem robustez e já foi implementada em São Paulo, pela Sabesp, com águas degradadas visando a potabilidade”, explicou.
Durante a oitiva, a gerente executiva de Reparação Brumadinho/Bacia do Paraopeba da Vale S/A, Gleuza Jesué, informou ainda que a empresa tem colocado todos os seus esforços para garantir a finalização das obras para a nova captação no Rio Paraopeba, dentro do prazo previsto - outubro de 2020, mas que um plano de contingenciamento está sendo elaborado, juntamente com a Copasa, caso ocorra situações de desabastecimento a partir de março do ano que vem. A resposta da gerente deu-se a um questionamento feito pela vereadora Bella Gonçalves (Psol), que lembrou que a previsão de chuvas para o biênio 2019/2020 pode seguir o padrão dos anos de 2014 e 2015, e ficar abaixo da média normal para o período, o que reforçaria o quadro de crise hídrica na Capital mineira.
Descomissionamento e descaracterização
Na primeira parte da oitiva, a gerente executiva, Gleuza Jesué, fez uma explanação apresentando um balanço sobre as condições das Barragens visitadas pelos integrantes da CPI, os níveis de segurança em que se encontram e os planos para descomissionamento das mesmas, bem como as ações para a proteção das Bacias dos Rios das Velhas e Paraopeba, que estão na mancha de inundação destas barragens. Além das gerentes executiva e de Gestão Ambiental, integraram a mesa como representantes da Vale S/A, o gerente de Geotecnia, Rafael Henchen; o gerente de Projetos/Engenharia, Marcel Pacheco e o engenheiro e analista de negócios, Diogo Prata.
A gerente lembrou que os trabalhos apresentados envolvem informações acerca das três visitas feitas pela CPI, que ocorreram nos dias 21 de maio (Mina Capão Xavier – Barragens B3e B2); dia 28 de maio (Mina de Fábrica – Barragens Forquilhas I, II e II) e dia 18 de junho (Mina do Pico – Barragens Maravilhas II e Vargem Grande). Gleuza Jesué reforçou que todas as barragens visitadas estão com operações suspensas para elevação do nível de segurança, e que apenas Maravilhas II deve voltar a ser explorada, sendo que todas as demais, por serem construídas pelo método de alteamento montante, estão no programa de descomissionamento que a empresa anunciou após o rompimento da barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Na sequência, o gerente de Projetos/Engenharia, Marcel Pacheco, descreveu os planos de descaracterização destes locais que envolvem o rebaixamento do nível de água destas barragens, as remoções dos alteamentos e a retirada dos rejeitos. Os projetos preveem ainda construção de canais e reforços para as barragens além de posterior retorno das áreas para o ambiente, com retorno da composição original da topografia e recomposição da vegetação do solo.
Qualidade da água e desabastecimento
Sobre as ações da empresa para evitar um possível desabastecimento de água a partir do início do próximo ano, a representante da Vale relatou que desde o mês de abril a empresa vem se reunindo com a Copasa e buscado, tanto mitigar os danos ocorridos na bacia do Rio Paraopeba, como executando ações para viabilizar a nova obra de captação no rio. Questionada pelos vereadores Wesley da Ambulância (PRP) e Pedrão do Depósito (PPS) sobre a possibilidade de antecipação das obras para nova captação no Paraopeba e a situação do rio, Gleuza Jesué falou da segurança dos prazos e das medidas de Tratamento Complementar citadas no início da matéria. A representante destacou que desde janeiro a Vale criou 66 pontos de monitoramento em toda a extensão do Rio Paraopeba e que medições para avaliar a turbidez são mantidas desde então. O vereador Irlan Melo (PR) lembrou a importância destes dados e propôs que a CPI requisite acesso a estes resultados.
Moção de repúdio
Ainda durante a reunião, foi lida e aprovada pelos membros da CPI uma Moção de Repúdio à construção da Barragem de Maravilhas III, nas dependências da Mina do Pico, em Itabirito. A moção foi retirada pelos participantes do Seminário Água versus Mineração, realizado pela Câmara Municipal, no último dia 16 de julho e que teve o objetivo de esclarecer a sociedade sobre o risco de colapso no abastecimento de água em BH, em caso de rompimento de barragens na Região Metropolitana de BH. A construção de Maravilhas III está em andamento e a Barragem deverá ter capacidade para armazenar aproximadamente 108 milhões de m³ de rejeitos - nove vezes os 12 milhões de m3 que vazaram da barragem da Mina Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho; além de aproximadamente o dobro do reservatório de Fundão, em Mariana, que tinha capacidade de 50 milhões de m³ de rejeitos. A vereadora Bella Gonçalves lembrou que Maravilhas III foi projetada para ser a maior barragem na Bacia dos Rios das Velhas, e que o licenciamento ocorreu após o rompimento em Mariana. “Não é possível que sigamos construindo estas ‘bombas-relógio’ que depois não vão conseguir sequer ser descomissionadas devidamente”, declarou a vereadora.
Participaram da 19ª Reunião da CPI das Barragens os vereadores Bella Gonçalves; Bim da Ambulância; Irlan Melo; Pedrão do Depósito; Wesley Autoescola e Edmar Branco, que a presidiu. Confira aqui a íntegra da reunião
Assista ao vídeo da reunião na íntegra.
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