SAÚDE DA MULHER

Tripla jornada e mudanças hormonais podem afetar saúde mental feminina

Participantes do debate sugeriram reforços na estrutura de saúde existente e difusão de dados e serviços disponíveis sobre o tema

terça-feira, 26 Março, 2024 - 17:00
Cinco mulheres reunidas, sentadas à mesa. Em telão ao fundo, representante da Prefeitura participa de reunião de maneira remota.

Foto Bernardo Dias/CMBH

Menstruação, gravidez, menopausa, disputas no ambiente de trabalho e violência doméstica. Eventos femininos comuns, como mudanças hormonais, pressões sociais e até crimes são fatores que podem afetar a saúde mental feminina. Essas variáveis e o atual estado do atendimento de saúde mental da mulher no Município foram debatidos em audiência pública da Comissão de Mulheres, nesta terça-feira (25/3). Solicitado por Loíde Gonçalves (Pode) e Marcela Trópia (Novo), o evento teve o objetivo de trocar informações e experiências sobre o tema, avaliando possíveis lacunas nos serviços de saúde mental destinados às mulheres em Belo Horizonte. Os participantes ressaltaram que os afazeres domésticos, cuidados com os filhos e deveres profissionais, a chamada tripla jornada, sobrecarregam as mulheres, e defenderam que a informação sobre o corpo feminino e os serviços disponíveis podem contribuir para que elas busquem tratamento. Representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) descreveram a rede de identificação de problemas afins nos centros de saúde, afirmando que o suporte pode ser ampliado e melhorado. Participantes apontaram problemas no atendimento, como falta de ginecologistas e psiquiatras nos centros de saúde. As parlamentares se prontificaram a contribuir com o setor e enviar um documento com questionamentos sobre o tema posteriormente. 
 
Serviços oferecidos
 
O gerente da Rede de Saúde Mental de Belo Horizonte e coordenador da residência em Psiquiatria do Hospital Metropolitano Odilon Behrens (HOB), Políbio José de Campos Souza, afirmou ser possível observar, no atendimento realizado nos Centros de Referência em Saúde Mental (Cersams), que a tripla jornada enfrentada pela mulher afeta, em especial, os extratos sociais menos favorecidos e as mulheres pretas e pardas. O gerente disse que o SUS conta hoje com 152 centros de saúde, 16 Cersams, 8 deles voltados ao público adulto e 5 ao tratamento do uso de álcool e outras drogas. “É uma rede em construção, mais robusta em atendimento à população do que muitas capitais urbanas”, disse, ressaltando que sempre é possível aprimorar o atendimento. Ele acrescentou haver sensibilidade a respeito da saúde mental da mulher, que tem especificidades claras, como a saúde perinatal, além no tratamento do uso de álcool e outras drogas, muitas vezes associado à violência doméstica, acrescentando ser preciso avançar mais. 
 
Amanda Arantes Perez, coordenadora de Atenção Integral à Saúde da Mulher e Perinatal da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA) e médica ginecológica e obstetra, disse que os centros de saúde têm apoio de um profissional de saúde mental, um psicólogo e alguns psiquiatras, e que os médicos e enfermeiros das equipes de saúde são orientados a aproveitar as oportunidades em que as mulheres buscam atendimento no dia a dia, como consultas ou vacinas dos bebês, para identificar sinais de alterações na saúde mental, como depressão pós-parto ou vítimas de violência. Souza complementou que a SMSA tem um projeto estratégico de atendimento a gestantes em vulnerabilidade social com equipe multidisciplinar, assistente social e psicólogo.  
 
Desafios do corpo e sociais
 
Mulheres de diferentes perfis fizeram questionamentos e sugestões a respeito do atendimento à saúde mental na capital mineira. A médica psiquiatra Carlisa Silver defendeu a importância da educação para a prevenção e tratamento de questões mentais femininas. Ela explicou que a menstruação provoca uma queda de estrogênio e, consequentemente, de serotonina, e também de progesterona, o que pode deixar alguém que tem predisposição mais estressada. A mudança hormonal também pode afetar o humor feminino na gravidez ou na menopausa. A médica defende que essas e outras especificidades do corpo feminino deveriam ser ensinadas nas escolas, acrescentando que o discurso social da mulher heroína também dificulta que ela busque ajuda quando se sentir sobrecarregada. 
 
Claudia Mara, ergonomista, fisioterapeuta e funcionária aposentada da Vale, disse ter sentido dificuldade com o excesso de sudorese e a falta de banheiros em alguns locais de trabalho quando entrou em menopausa. A advogada Isabela Pedersoli disse que todas as mulheres vítimas de violência apresentam diferentes graus de adoecimento psicológico. Ela contou que muitas vezes elas não percebem a relação abusiva, tomam remédio para dormir e acordam percebendo resquícios de violência sexual. A psicóloga e usuária de serviços do centro de saúde Rosana Camila Vieira apontou problemas como a falta de psicólogos, psiquiatras e ginecologistas nas unidades, relatou suas dificuldades em conciliar sua atividade profissional e o cuidado de seus três filhos e elogiou as creches públicas municipais e os profissionais de saúde que estão pensando nos problemas abordados na audiência. 
 
As parlamentares questionaram a baixa relação de psiquiatras e ginecologistas em centros de saúde. Marcela Trópia ressaltou a importância de treinar os servidores já existentes nos equipamentos públicos para fazer um encaminhamento para atendimento de saúde mental. 

Psicoterapia e atuação intersetorial
 
Políbio José de Campos Souza afirmou que atualmente os psiquiatras treinam as equipes de Saúde da Família e dão apoio ao trabalho das mesmas. O gerente da Rede de Saúde Mental também disse poderia ser benéfico aumentar o acesso à psicoterapia nos centros de saúde. 
 
Amanda Arantes Perez defendeu a necessidade de apoio mútuo entre as áreas de Educação, Saúde e Assistência Social e o fortalecimento de uma atuação intersetorial. Ela afirmou que as equipes de Saúde da Família são eficazes em 80% dos atendimentos; o restante fica a cargo de especialistas como os ginecologistas, que infelizmente não estão presentes em todos os centros de saúde, segundo a médica. 
 
Marcela Trópia ressaltou ser importante economizar recursos na gestão de saúde, dispondo-se a colaborar para a solução dos problemas no setor. Loíde Gonçalves ressaltou a importância de esclarecer à população que os exames ginecológicos podem ser feitos por uma enfermeira, por exemplo. A parlamentar agradeceu a oportunidade de debater a saúde mental da mulher e disse que as vereadoras irão enviar à Prefeitura um documento com os questionamentos pertinentes ao assunto posteriormente.

Superintendência de Comunicação Institucional 

Audiência pública para debater a abordagem da Saúde Mental Feminina no município de Belo Horizonte - 7ª Reunião Ordinária Comissão de Mulheres